quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Simplesmente

Meu instante me foge,
sempre.
Esse um amor desejei,
sempre.
Esse filho, tive e não tive,
sempre.
Orfão de mim,
sempre.
No momento, te querendo,
sempre.
Mas sou, sempre,
de repente.
Risca fugaz de giz,
só mente.
Emoldurada cicatriz,
se mente.
Feliz?
Quase, e sempre
por um triz.
Sem meio termo,
sem beira, nem ermo,
sou, sempre,
simplesmente,
algum a gente.
.
Orai por nós
que me amarrem,
para sempre.

Rio, 18/01/08 e Barão 23/01/08
comentário do autor

2 comentários:

Zédu disse...

Esse poema começou meio todo mail, e dele havia me esquecido se o olhar do outro do mail não me repondesse apontando ali o poema que era... era, simplesmente. Olhei-o com os olhos do outro, já elogiado e tocado, meio garrafa devolvida que eu mesmo havia lançado ao mar desses meios de mails que, no entanto, refluxam, revoltam, retornam e nos lambem com ondas que já não são nossas. Re-voltado, gostei dele. Depois brinquei um pouco, mexi no aqui e ali, e retornei à coisa minha. Ao outro do mail (sempre tem um outro no maio), beijos agradecidos e a nomeação devida: Obrigado, Neuza!

Anônimo disse...

Do menino ainda quase bebê vêm  as expressões onde estão juntos um modo de deixar estar a boca e os olhos num semblante muito seu. Penso que se apreende facilmente isto de você em momentos que se fazem eternos, se essa imagem é capturada de você em instantes diversos. Nas trocas leves como numa conversa em que você ouve atentamente alguém eu vejo o que já estava no menino das fotos.
  Sua amiga viajandona anda assim, lhe dão o mote e ela mergulha nos objetos que a mobilizam, emergindo por olhares externados sem maiores medos de serem esses pertinentes ou não. O que diz é o que sente como agora quando parou para ver aquelas fotos possivelmente da primavera de 49 se atendo menos ao poema e mais ao painel de fotos.
A criança não ficou na estrada e com Zedu ela permanece em instantes que pelo menos ao outro não escapam, mesmo se mônadas e por um triz.

Ainda bem que não ficamos tão inteiramente diferentes do que fomos um dia. Seria terrivel se assim fosse e se também tudo de nós se conservasse.

O menino para quem oraram não esteve amarrado ao seu viver em livre mente?

Bj/Meire