quarta-feira, 30 de abril de 2008

Abril de 2008, mês das carótias entupidas e da inspiração desaparecida

O entupimento de minha carótida esquerda dominou o mês bem mais do que eu ousaria imaginar, dada a minha relação meio Dorian Gray ao contrário com meu próprio corpo. Me senti como um Sansão das carótidas (já que melenas não as tenho faz muito tempo) e, pior de tudo sem nenhuma Dalila para culpar. O que sei é que algo em mim secou, havia uma coisa, inspiração, que não vinha, minha cabeça tornou-se infértil e o mês passou com muita embromação. Salvaram-me as músicas, os poemas dos outros, as coisas recebidas, e uma vontade insana de não decepcionar vocês. Foi um mês cansativo, árido, decepcionante. As cem palavras do mês anterior viraram o sem palavras com que atravessei o deserto de abril.
Mas o mês correu, os posts foram colocados no de acordo com a média histórica, mas senti falta de mim mesmo, do meu próprio falar que, jamais, um falar de outro substituirá naquilo que aqui me propus: me vingar da perda, me refazer eu mesmo.
Na solidão que este mês me remeteu penso que me vejo frente à uma tarefa bem mais difícil: a perda da perda, coisa que meus amigos psicanalíticos hão de entender, e os outros imaginar. Pois vingar-se da perda foi uma viagem que terminou já faz muito tempo, sem que a perda tenha sido vingada, como aprendi nesse caminhar. Nada a vingar, resta a questão do porque continuar.
O tempo dirá.

It´s no easy being white (Letra)


Conforme prometido, minha cunhada predileta na me deixou na mão e aqui vai a letra da música de Joe Williams. E como traduzir letra de música é fogo, a letra vai em inglês mesmo. Divirtam-se.

It’s not easy being white


Well somehow nothing seems to be the same

Sometimes I don’t seem to be as cool as I was

Maybe it’s the nature of the bizz

Well I think I know the trouble

And I’ll tell you what it is

It’s not easy being white

It’s struggle just to get your rhythm right

And in the days when getting down’s the thing to do

You can sing right till you’re blue in the face

And wake up in the morning

Just to find you’ve been replaced

It’s not easy being white

Feels so wrong it can’t be right

I don’t want you thinking I’d complain

‘cause Lord knows nothing’s ever gonna stay the same

I can take the good things with the bad

But I have narrowed down the problem

And I think it’s kind of sad

It’s not easy being white

You don’t sound good saying words like dynamite

Can you try to be so hip the way you dress

First you try to be so hip and funky

Then you’re over whined up with a hunky and funky mess

It’s not easy being white

Feels so wrong it can’t be right

Well talking all this weirdness makes me grin

There’s just so many categories that I don’t fit in

One day all my tune’s tone they will stroll

Why was he too tall for a midget

And too short for basketball

It’s not easy being white

They can pick you all too easy in the night

You can waste your summers lying in the sun

Still you don’t look like each other

And you’re only called a brother by your mother’s other son

It’s not easy being white

Feels so wrong it can’t be right


Sacou, bro?

sábado, 26 de abril de 2008

O pai do noivo


Discordando de Vinícius,
Filhos? melhor não tê-lo,
mas se não tê-los,
como perdê-los?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Tolinho!


Eu aqui sempre curioso com meu suposto fã de Moutain View, anônimo californiano que sempre aumenta sua participação lá no contador, e acabo de receber a notícia que ele é, muito provavelmente, só um mecanismo de busca, deste que abundam lá pelas terras do silício.
Vou ter que escolher outro "leitor anônimo" para sonhar. Quem sabe Lisboa? Quem sabe Penápolis? Ou estarão também por lá só me buscando no automático?
Tolinho!

Tudo que eu sempre quis dizer a Dave Brubeck e nunca tive coragem de perguntar a Joe Williams



Joe Williams é coisa para caramba na história do jazz, mesmo que a maioria de vocês nunca tenha ouvido falar dele. Para os que não o conhecem, o link acima wikipedia a vontade de saber mais sobre o Dito (com trocadilho racial, please!). A faixa que escolhi para apresentá-lo é uma brincadeira muito bem humorada sobre as dificuldades de ser branco, nas coisas dos Ditos. A música chama-se It´s not easy being white, e brinca com a negritude e os branquelos, de uma maneira que só em 1985 ainda era possível (hoje seria absolutamente incorreta). E serve para mostrar que no jazz existem, como condição necessária, o swing e, às vezes, o humor. Portanto, tentem percorrer o caminho entre o cerebral de Dave Brubeck e a gozação de Joe Williams que, repito, é muito mais do que essa brincadeira musical comprova. Com isso acabarão caminhando um pouco do caminho que eu mesmo caminhei na minha relação amorosa com o jazz.
Mas como o humor da letra pode fugir aos menos versados no inglês, deixo aqui um apelo público à minha cunhada preferida, e renomada tradutora, para que nos deixe nos comentários (ou em um mail que depois coloco por lá) uma tradução possível das durezas de ser branco nas coisas do outro mundo. Infelizmente a página da Wikipédia sobre ele também está em inglês, mas o que aqui me interessa é a letra (que Google nenhum me possibilitou achar no original)
No entanto, reconheço, se Vinícius era o branco mais negro do Brasil, o jazz está cheio de brancos de alma negra. Mas Dave Brubeck não era um deles e sumiu na poeira da estrada das minhas predileções. Posso ter começado pela porta errada, mas aprendi.
De qualquer forma, a música é divertida mesmo se não entendemos a letra que lá se brinca.
Divirtam-se! Jazz também é diversão.


Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


Manuel Bandeira

Teorema


A Pier Paolo Pasolini

Dentro de mim mora um anjo frio,
que seduz as pessoas
soprando as feridas que crio.

Hipotemusas


A soma do quadrado dos catetos
é igual ao quadrado da hipotenusa.
E lhe saem quadrados os sonetos,
se ao poeta lhe faltam as musas.

Necessário impossível

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

Livro de horas

Hopper
Livro de horas

Aqui, diante de mim,
eu, pecador, me confesso
de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.

Me confesso
possesso
das virtudes teologais,
que são três,
e dos pecados mortais,
que são sete,
quando a terra não repete
que são mais.

Me confesso
o dono de minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
e o das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo andanças
do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
e luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
que atira seta acima
e abaixo de minha altura.

Me confesso de ser tudo
que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.

Me confesso de ser homem.
De ser um anjo caído
do tal céu que Deus governa;
de ser um monstro saído
do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!

Miguel Torga

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Je m´accuse

Confesso que pequei! Vários pecados pequei. Alguns que permaneceram inconfessáveis até agora. Outros por culpa da memória traidora que nos embaralha as lembranças ao sabor de suas atuais significações. Pois a memória é um arquivo muito pouco confiável, como continuará sendo aqui mesmo, onde confessarei pecados, mortais e veniais, na minha relação com o jazz e com a forma como dele me apropriei.
Pois nunca expliquei bem como tudo começou, talvez até por pouco lembrar dos inícios deste amor que ainda carrego comigo até hoje, e que venho derramando aos poucos neste blog que me pertence e, portanto, me atura, as abobrinhas e as carambolas.
Em algum lugar do passado do blog eu disse que meu primeiro LP de jazz comprei, junto com Nina, na Livraria Brasil, ali na General Osório, então ponto chic das mercadorias culturais de uma Campinas que ainda tinha centro. Que o LP de Oscar Peterson com Clark Terry foi o primeiro que comprei é coisa que continuo sustentando como fato. Mas já não tenho muita certeza se ele foi o primeiro LP de jazz que tive e, de qualquer forma, ele pouco explica como o garoto bossa-nova de repente se viu gostando daquela música que não tocava nas rádios, não aparecia na TV Tupi, e só era falada na música do Carlos Lyra (Influência do Jazz). Aí Ramasco me manda essa recordação Youtúbica que me fez repensar como, e quando, começou esse meu namoro com a coisa jazzística. E me descubro nú e pecador, coisa que, como sabemos, é condição, no mais das vezes, para muito divertimento, principalmente aqui abaixo da linha do Equador.
Mas como não confio na memória, sempre lida no aqui e agora da mitologia que nos inventa, não sei se me enganei antes ou me enganarei agora. Coisa absolutamente irrelevante, não fosse eu o dono do pedaço e Pipoca meu cachorro His Master´s Voice (na realidade, meu melhor analista, já que sempre não me deixa esquecer que falo sozinho e que devo me virar com tudo que digo; ele não dá a mínima para meus dizeres e para os postes virtuais). Assim, retifico, no embalo das lembranças de hoje, as informações sobre minha educação jazzística e confesso que meu primeiro disco de jazz tornou-se meu por meios para lá de ilícitos.
O fato é que quando, em 1967, tive que me mudar para São Paulo por conta da engenharia que acabou me con-formando Poli-mórfico, morei alguns meses na casa/mansão de Tia Maria, mulher de João, lá na Rua Monte Alegre em Perdizes, enquanto procurava uma república para proclamar minha. Ramo rico da família nobre empobrecida dos castos Mendes, a casa de Tio João era uma enormidade do tamanho da São Paulo em que me meti. Além do mais, era cheia de coisas que Tio João trazia de suas constantes viagens para os Estados Unidos, coisa rara na época, mesmo para os padrões da burguesia brasileira mais bem situada. Mas o fato é que, na casa dos primos ricos, havia uma coleção razoável de Lp´s importados, muitos deles jazzísticos. E talvez tenha sido lá, na solidão em que havia me metido naquela casa enorme, no meio daquela cidade mais enorme ainda, que dediquei horas de solidão para ouvir aquelas novidades em forma de música no aparelho mais Hi-Fi que até então tinha visto. E, talvez, sempre talvez, tenha sido lá que me apaixonei pelo jazz.
Não me lembro de outros discos de jazz que lá houvessem, mas com certeza os havia e, eu, os ouvia. Os discos não eram, com toda a certeza, coisas do gosto do Tio, mais provável que fossem restos deixados para trás dos primos mais velhos já casados (a família era cheia de primos e primas, alguns velhíssimos para os meus olhos de velho adolescente, e uns poucos mais ou menos da minha idade que ainda habitavam o pedaço, mas que quase nunca estão nas imagens que guardei daqueles meses). Os primos ainda residentes, mais ou menos da minha idade, como já disse, não eram particularmente chegados nos discos que fui descobrindo por lá (eram, me lembro agora, assim como eu, mais ligados nas gravações do CPC da UNE, no Subdesenvolvido, na paródia da Garota de Ipanema (olha que coisa mais linda/cheio de graxa/é ele operário...), ´ssas coisas engajadas que ecoavam do Rio de Janeiro em 1967, ano que, não sabíamos, antecederia o 68 que nunca acabou direito para toda uma geração). Mas sozinho na sala, livre de qualquer outro eleito censor, deixei o sensor em mim navegar nos tempos, ritmos e batidas do jazz, bossa já velha lá na terra onde nascera, mas novidade para meus ouvidos perdidos no entreato do cultocientífico ao politécnico no palco da solidão paulistana.
Haveriam outros discos, ou o jazz por lá largado por algum primo mais velho se resumia ao Time Out de Dave Brubeck? Não faço a menor idéia. Só sei que o LP me fascinou, principalmente a faixa Take Five, composição que ficou muito famosa pelo métrica a cinco tempos, coisa bem pouco característica do jazz (como só descobri depois), pelo sax de Paul Desmond (o sax até hoje é meu chorão preferido no jazz) e que, hoje, é verbete da Wikipédia (confiram). O certo é que me apaixonei pelo disco, que desejei abandonado e esquecido por algum primo já partido. Hoje já nem gosto tanto assim do Dave Brubeck, meio branco demais para o jazz, mas eu mesmo ainda era muito branquinho naquela época, como era a coisa bossa-nova (apesar de Nara Leão, em Opinião, ter nos apresentado o samba, o negro nas raízes, o nordestino de vida seca, anos antes, em 1964; mas o samba ainda era uma curiosidade antropológica, uma postura politicamente correta, jamais uma identificação do nacional em cada um de nós e muito menos um gosto musical verdadeiro). O fato é que gamei no disco do Brubeck e, supondo-o abandonado, adotei-o. Ou em outras palavras, passei a mão no dito e, num dos finais de semana de retorno à Campinas, levei-o comigo e nunca devolvi.
O clipe a seguir é a música que me fez ladrão, com seus intérpretes originais. Que os primos me perdoem.

Sabor do pecado


Quero teu corpo no meu,
nas minhas as tuas carnes,
tua boca, teus restos de mel,
teus suspiros, teus alarmes.

Quero teu querer exposto
no espelho onde em ti me vejo.
Nas pontas dos dedos, o gosto,
nas gotas dos lábios, o desejo.

Nas mãos , os teus volumes,
curvas, montanhas e vales,
sumos, cheiros, negrumes,
todos meus, até que te cales.


Feeling blue

Fazia muito tempo que o blog não ficava tanto tempo parado. Cheguei mesmo a pensar que ele havia falecido por falência múltipla dos sentidos. Feeling blue, tudo me parecia, e ainda parece, irrelevante. Daí a escolha com que faço o blog dar um passinho tímido e, quem sabe, pegar novamente no tranco. O blues Sweet Home Chicago e os Blue Brothers (da, hoje hoje meio cult, comédia musical de mesmo nome) juntam, num único clipe (que me foi sugerido pelo amigo Ramasco), o blues que toca em mim e a comédia que busco recuperar. Quem sabe funciona. E se não funcionar, a música e a lembrança do filme valem por si só.
Se funcionar, depois tem mais.

quinta-feira, 17 de abril de 2008


Para ti


Foi para ti

que desfolhei a chuva

para ti soltei o perfume da terra

toquei no nada

e para ti foi tudo



Para ti criei todas as palavras

e todas me faltaram

no minuto em que falhei

o sabor do sempre



Para ti dei voz

às minhas mãos

abri os gomos do tempo

assaltei o mundo

e pensei que tudo estava em nós

nesse doce engano

de tudo sermos donos

sem nada termos

simplesmente porque era de noite

e não dormíamos

eu descia em teu peito

para me procurar

e antes que a escuridão

nos cingisse a cintura

ficávamos nos olhos

vivendo de um só olhar

amando de uma só vida


Mia Couto

Bons Tempos

tap...tap...tap,...


...tap....tap...tap.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Estudo nº 2


Hopper



A memória de nós. É mais. É como um sopro
De fogo, é fraterno e leal, é ardoroso
É como se a despedida se fizesse o gozo
De saber
Que há no teu todo e no meu, um espaço
Oloroso, onde não vive o adeus.

Hilda Hilst
.
.
.. nesta noite tu estás como anúncio
"PRECISA-SE" na página gasta da
minha pele...


Vasco Gato
.
.
A vida inteira esperei por
alguém como tu
Mesmo sabendo que não sei como és.
E mesmo que
ainda não se tenha passado
a vida inteira.

.
Jorge Reis-Sá
.
.
Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua de estar sendo perseguida

E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
(...)


Hilda Hilst
.
.
Se perguntares
como,
eu ficarei calada
...
Se perguntares
quando,
eu talvez diga
...

Geir Campos
.
.
...
.
E se eu fosse Deus, eu me daria
Agora, já, e sem mais demora
A resposta que me acalmaria
O pulso louco e, da espera, as horas
.
...

Zédu


















Lucien Freud

A Dama e o Vagabundo



Maria Bethânia, como diz mano Caetano, assim se chama por causa da música deste post. Segundo Caetano, Dona Canô e seu marido adoravam essa música, que escutavam no rádio em Santo Amaro da Purificação, provavelmente a mesma gravação que posto aqui. Caetano, menino atento, também ouvia essa quase valsa lá na sua meninice. E, segundo o próprio, teria sido ele quem escolheu o nome da irmã, coisa que a julgar pela idade que tinha quando Bethânia nasceu em 1946, quatro anos, me parece pouco provável. Mas como para Caetano nada é impossível para Caetano.... O fato é que à moça chama-se com o nome da canção por causa desta, seja inspiração de Dona Caô ou precocidade do irmão mais velho.
Da Dama, predestinada pela música que a nomeou, já falamos bastante no post anterior e o vagabundo, que Nelson Gonçalves me perdoará, é o do que aqui se trata.
Mais ainda, me interessa a questão de não haver bem um equivalente para as Grandes Damas da canção apesar de nunca terem faltados bons cantores. Acho que o mais próximo que, no mundo dos cantores masculinos, chegamos é a figura do Mito. Chico Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, João Gilberto, todos são, de alguma maneira, mitos. O interessante é que, ao contrário das mulheres que continuam cantando depois de virarem Grandes Damas, o termo Mito normalmente se refere a um período da carreira do cantor, seu auge, sempre situado em uma determinada época. Além do mais, existekm Mitos femininos também. Carmen Miranda, Dalva de |Oliveira, Marlene, Emilinha Borba, todas mitos em função de uma determinada época mas, no meu entender, sem nunca terem sido grandes damas. Mas esta é uma discussão inútil, pois mito ou grande dama, estou falando de cantores marcantes, figuras inesquecíveis.
O nosso vagabundo, por exemplo, foi, durante o auge de sua carreira, nosso mais típico cantor do bas-fond, cantor das putas e dos puteiros, das mulheres suburbanas meio nelsonrodrigueanas. Sua própria vida pessoal foi marcada pelas suas vivências no submundo das drogas, dos cabarés enfumaçados, da noite brasileira (não é um cantor regional; suas músicas não são cariocas, nem paulistas, são suburbanas). Por isso o "vagabundo" que lhe apliquei, carinhosamente como nos lembramos todos do Vagabundo do desenho animado.
Depois ele virou cult e fez uma série de gravações horríveis com músicas mais modernas do que ele, arranjos pretenciosos idem, coisa até meio triste de escutar. E isso é coisa muito comum com os Mitos que permanecem para além da época em que foram um sucesso devido (pensei que João Gilberto, ainda em atividade e sendo cada vez mais o que sempre foi, é um Mito que fugiu à regra ou um cantor que é quase Grande Damo, e esse pode ser que sim, pode ser que não, só demonstra que a classificação só serve mesmo para encher linguiça no blog; ainda vou aprender a calar a boca mais rapidamente).
Aqui coloco, em versão original de 1940 e pouqinho (por mais que pesquisasse no Google, não consegui definir a data desta gravação, mas dada a idade de Bethânia, a gravação deve ter sido feita em meados da década de 40, perto da data em ela nasceu, 1946; quem souber a data exata que nos conte lá nos comentários). Originariamente gravada em 78 rpm, a versão que tenho foi remasterizada há várias décadas atrás, quando as possibilidades de milagres ainda eram pequenas. De um LP para uma fita K-7, desta para o computador, o som até que não ficou tão ruim. Tenho até uma versão em que Nelson Gonçalves canta com Caetano, já gravada diretamente em CD, mas ainda prefiro aquela que se escutava no rádio em Santo Amaro da Purificação no ano de 1946.
Grande Nelson Gonçalves!

Uma grande dama

Confesso que, no tocante à música popular, conheço, e acompanho, um pouco a MPB e o Jazz. Ambos os gêneros são plenos de cantoras, vozes belíssimas, maravilhosas intérpretes. E em ambas vamos encontrar um tipo de cantora que se enquadram em uma categoria especial: a grande dama. Ella era, Billie Holliday foi, Elis teria sido se não morresse tão jovem e se seu lado pimentinha não atrapalhasse um pouco a elegância necessária para ser assim classificada. O que faz uma cantora uma grande dama é coisa muito subjetiva, já que o título não existe oficialmente, mas meio que como um consenso respeitoso entre os admiradores da música e dos músicos. Na música brasileira, ao contrário do jazz, não temos muitas grandes damas, apesar de não faltarem belas cantoras, vozes originais, etc e tal. É claro que o conceito "grande dama" implica em um certo tempo de estrada, em um vinho bem envelhecido, em um estilo peculiar e, principalmente, um tipo de postura perante a música, o público e a fome da mídia. Não precisamos gostar das grandes damas, podemos preferir uma sobre todas as outras, ou até mesmo uma cantora "comum", mas não há quem não tenha, frente a uma grande dama, uma atitude de respeito e uma certa admiração reconhecida.
Não vou entrar na discussão das grandes damas da música brasileira. Vou apresentar uma que assim classifico, já que vivas só reconheço duas no momento atual. A que hoje aqui posto em reconhecimento é Maria Bethânia. A moça do Carcará construiu um caminho absolutamente próprio e elegante no cenário da MPB, coisa que jamais poderíamos imaginar quando veio para o Rio substituir Nara Leão em Opinião (aliás, pensando bem, não poderia haver duas personalidades, naquele momento, mais díspares do que Nara e Bethânia). Aliás, Nara e Bethânia me servem para uma outra distinção: Nara era uma Musa, Bethânia nunca foi musa de nada e decantou-se em Grande Dama com o passar dos anos (Nara teria, provavelmente, se tornado uma se também não tivesse morrido tão jovem).
Mas, como eu disse, essa coisa de grande dama é meio subjetiva e, talvez, uns poucos de vocês não concordem comigo. Mas garanto que a maioria me dará razão, independente do quanto gostam ou não do jeito Maria Bethânia de ser.
A faixa que escolhi aqui postar traz, além de uma bela e pouco conhecida peça musical, Bethânia comno acostumamos a vê-la desde Rosa dos Ventos. O show, que assisti no Tetro do TUCA em SP, foi absolutamente marcante no que nele havia de original. A coisa meio teatral, os poemas que se intercalavam às músicas, tudo de um enorme bom gosto. A postagem de hoje sai de outro show, Brasileirinho, com essa Bethânia madura que me faz reconhecê-la como uma de minhas grandes damas da canção brasileira.
Espero que gostem.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Estudo nº 1


Hopper

Pergunto-me desde quando
deixou de haver futuro
nas janelas.

Janeiro dói nos olhos
como areia.

Rui Pires Cabral
.


O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite.

Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio,

minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto

.

Perdoa-me por ser tão só, e falar-te
ainda do meu exílio. Perdoa-me se não
te peço a paz. Apenas pergunto: que me
darias se a pedisse?

Casimiro de Brito

.

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Clarice Lispector


Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

.

Depois de te perder

Te encontro, com certeza

Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu.

Chico Buarque

.

e na palma da tua mão
busco ternura
sem contar meses,
anos, dias,
sem saber dizer
se já te chorei
por inteiro
o suficiente

para não voltar

a perder-te.
Vasco Gato

.

E o que redime a vida
É ela não caber
Em nenhuma medida.

Miguel Torga

.

Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele?

David Mourão-Ferreira



E falar, falar, sempre falar

Como grávidas loucas

E fazê-las (às palavras) multiplicar

No útero de nossas bocas

Zédu

sábado, 12 de abril de 2008

Na voz do poeta, tudo que há

O Haver, que havia entrado tipo "melhores momentos", retorna, com tudo que nele há, na voz do poeta e com a ajuda de Edu. O poema, e o poeta, merecem.
Aliás, Vinícius acabou, por conta de seu envolvimento com a MPB, sendo esquecido como o grande poeta que foi. Já está mais do que na hora de alguém fazer um trabalho sério de reapresentação do poeta que o "poetinha" escondeu em nossos preconceitos. Pois de diminutivo Vinícius não tinha nada.
Eu havia pensado em colocar o poema todo nos comentários, mas até por haver postado-o de formas editada (e comentada), o poema vem no corpo da postagem, como merecem o poeta e os leitores.
Saravá! poeta Vinícius de Moraes.

.

O Haver
Vinícius de Moraes

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
essa intimidade perfeita com o silêncio.
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo.
Perdoai: eles não têm culpa de ter nascido.
Resta esse antigo respeito pela noite
esse falar baixo
essa mão que tateia antes de ter
esse medo de ferir tocando
essa forte mão de homem
cheia de mansidão para com tudo que existe.
Resta essa imobilidade
essa economia de gestos
essa inércia cada vez maior diante do infinito
essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível
essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons
esse sentimento da matéria em repouso
essa angústia da simultaneidade do tempo
essa lenta decomposição poética
em busca de uma só vida
de uma só morte
um só Vinícius.
Resta esse coração queimando
como um círio numa catedral em ruínas
essa tristeza diante do cotidiano
ou essa súbita alegria ao ouvir na madrugada
passos que se perdem sem memória.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
essa imensa piedade de si mesmo
essa imensa piedade de sua inútil poesia
de sua força inútil.
Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado
de pequenos absurdos
essa tola capacidade de rir à toa
esse ridículo desejo de ser útil
e essa coragem de comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade,
essa vagueza de quem sabe que tudo já foi,
como será e virá a ser.
E ao mesmo tempo esse desejo de servir
essa contemporaneidade com o amanhã
dos que não tem ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar,
de transfigurar a realidade
dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é
e essa visão ampla dos acontecimentos
e essa impressionante e desnecessária presciência
e essa memória anterior de mundos inexistentes
e esse heroísmo estático
e essa pequenina luz indecifrável
a que às vezes os poetas tomam por esperança.
Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
na busca desesperada de alguma porta
quem sabe inexistente
e essa coragem indizível diante do grande medo
e ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer
dentro da treva.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
de refletir-se em olhares sem curiosidade, sem história.
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho,
essa vaidade de não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável.
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
e esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte
esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada,
ela virá me abrir a porta como uma velha amante
sem saber que é a minha mais nova namorada.
.
Vídeo e poema enviados pela dona do meu outro olhar
O poeta estará recebendo os cumprimentos lá nos comentários.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Um outro olhar



Em 18 de fevereiro passado, acompanhando um poema de Ferreira Gullar que aqui se repetia (A Menina em meu Olhar), eu coloquei esta mesma música cantada por Dee Dee Bridgewater. A versão intrumental do post de hoje, tocada por Winton Marsalis e Art Blakey, vem para mostrar como no jazz os olhares são tantos quantos forem seus intérpretes, Muda, também, o meu olhar e o olhar que a música fará o possível para enfeitar.
Como diz a letra, que você podem encontrar lá nos comentários da postagem de fevereiro, excuse me while I disappear...

Lovers Go Home


Lovers, Picasso


(...)
ahora que por fin
esta bastante claro
donde estas y donde
estoy

se por primera vez
que tendré fuerzas
para construir contigo
una amistad tan piola
que del vecino
territorio del amor
ese desesperado
empezarán a mirarnos
con envidia
y acabaran organizando
excursiones
para venir a preguntarnos
cómo hicimos.
.
Mário Benedetti, poeta

Você

Pequenas coragens

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
essa intimidade perfeita com o silêncio.

(...)

Resta essa imobilidade
essa economia de gestos
essa inércia cada vez maior diante do infinito

(...)

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante


E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

(...)

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.
O Haver / Vinícius de Moraes

Poema da Despedida




Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo

Mia Couto

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O amor e as borboletas amarelas


Tenho muito poucas memórias de meus tempos de menino. A maioria das que tenho não tem cheiro, sabor ou sensações que me permitam dizê-las minhas. São mais histórias do folclore familiar que, de tanto que foram repetidas, acabamos incorporando como nossas. Mas a gente sabe quando uma memória é nossa de verdade por que essas nos causam um arrepio de sensações, um revivenciar cheiros, sabores, temperaturas, barulhos, tudo que compõe o quadro da memória em questão. As borboletas amarelas são uma das poucas que conservo destes tempos de tão antigamente. Já me explico.
Fila do Cine Ouro Verde, então o mais luxuoso de Campinas (e,é claro, não existe mais; por sorte não virou bingo nem caça níquel Universal do Reino de Deus), eu de mão dada com minha mãe aguardava a vez de entrar para assistir aquele que talvez foi meu primeiro filme "adulto". O ano? Alguma coisa muito próxima de 1955, quando o filme foi lançado. Com certeza bem antes de 1958, pois me lembro que na entrada o porteiro ousou falar para Dona Nise que eu não podia entrar por, obviamente, não ter os 10 anos necessários para cumprir com a censura do filme. O pobre não conhecia minha mãe e eu, orgulhoso dela e sua coragem para enfrentar pobres porteiros de cinema, acabei entrando. E, como agora percebo, entrei bem, pois o filme marcou para sempre meu "ser-para -o-amor", essa tristeza de fundo, esse medo do final infeliz, e os arrepios que até hoje me causam as borboletas amarelas. Bem mais tarde, a música, com Nat King Cole, também virou minha.
O gozado é que eu nunca achei a música triste, apesar da história daquele amor infeliz ter me marcado tanto. Hoje, pensando melhor, o filme também tentava passar uma imagem de o amor, mesmo com a morte de um dos amantes, vale pelo que foi e a vida sempre continua melhor depois de uma grande paixão. Mas isso é hoje, quando já não estou mais para coisas de amores, apesar de estar cheio de sabedorias.
O filme é simples e banal. Médica chinesa, radicada em Hong-Kong, conhece correspondente de guerra (da Coréia) americano e se apaixonam, apesar das diferenças raciais, dos preconceitos de ambos os lados. Logo após os primeiros beijos, no alto de uma colina e acompanhados por uma borboleta amarela (Cena inesquecível 1), ele parte para o front. Lembremos que, teoricamente, os riscos que ele corria eram pequenos, já que era um mero jornalista cobrindo a frente de batalha. Mas...
Cena inesquecível 2: ela está cuidando das criancinhas enfermas (sim, a boníssima, belíssima e deliciosa doutora era médica pediatra) em uma espécie de sala de recreação, onde um monte de chinezinhos recorta figuras, pinta folhas de papel, ´ssas coisas que as crianças fazem nos recreios oficiais. Corta para ele embaixo de uma árvore coreana batendo a máquina (pois é, eu quase escrevi digitando) uma carta de amor para ela. Corta para o recreio. Corta para ele de olhar abobado como ficam os apaixonados, principalmente quando é um ator fazendo de conta. Corta para o recreio cheio de vozes infantis, corta para ele e um zumbido de fundo que vai ficando cada vez mais forte, corta para a sala do recreio, close em algo vermelho que explode e se esparrama sangrento em um chão indefinido naquele corta prá lá, corta prá cá. Corta para ela, cujo rosto demonstra saber exatamente o significado daquela tigela de tinta que havia se espatifado no chão da sala do recreio. O zumbido, como ficamos sabendo depois, era de uma bomba que escolheu mirar na árvore em que o feliz apaixonado escrevia para seu amor. Assistam o filme e me contem se essa cena não é magistralmente dirigida (coisa que agora percebo, pois na época só fui capaz de enxergar o horror daquele final trágico para o amor daqueles dois).
O cinema era um choro só. Minha mãe, de choro raro, não era exceção. Eu, acho que estava mais assustado com os perigos do amor do que triste. Afinal nunca tinha visto um amor tão de perto. Na cena final, também inesquecível, ela sobe a mesma colina ao som da música tema do filme e lá de cima contempla o mundo que continua a girar, com ar de tristeza contrita. A borboleta amarela vem lhe fazer companhia. Ela esboça um sorriso.
The End
Agora me digam vocês, era ou não era para me atrapalhar todo o futuro amoroso que me esperava nas dobras do destino? Ou, no mínimo, era ou não era para se arrepiar até hoje com as borboletas amarelas?
Em todo caso, é uma de minhas mais antigas, e marcantes, lembranças da infância. E, mais ainda, lembrança da vez em que namorei minha mãe de mãos dadas, antes da tragédia do amor assustar o menino.
Saudades de minha mãe, saudades de Dona Nise. Suplício de uma saudade, but love is a many splendored thing.
. , .
A cena que escolhi para fixar a música guarda pouca relação com as coisas que contei sobre o filme, mas se marcou, muitos e muitos anosdepois, na minha percepção adulta como uma das cenas mais sensuais que já vi no cinema. Esse ele acender o cigarro dela no dele (em 1955 todos fumavam nos filmes, até as criancinhas; coisas, sabemos hoje, do merchandising da indústria do tabaco americana), ambos em roupa de banho depois de uma travessia a nado da Baía de Hong-Kong, os olhares pegando fogo, o desejo ardendo nas carnes molhadas... Assistam e depois me contem se é ou não de uma sensualidade poucas vezes inigualada nesses nossos tempos tão mais permisivos e tão cheio de explicitudes sexuais. Tempos ingênuos, mas cheio de hormônios a flor da pele.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Prometer nos custa


,
promete-me que amanhã virá a lua
e que, na imensidão da noite iluminada,
cantaremos o mar um para o outro.

promete-me que no fim terei existido.

Vasco Gato, poeta português

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Contando vocês

3011 visitantes, mais de 1000 desde o 07 de março, dia em que contei os 2002 então marcados. Ou seja, mais ou menos, dependendo do movimento noturno, a incrível marca de mais de 1000 novos acessos em um mês. Para quem começou falando com seu próprio umbigo é um progresso assustador. O único que nunca ligou para essas bobagens foi o sábio residente, Mr. P., quem nem analisa mais os posts, dedicando-se integralmente aos postes de sua predileção.
Pois essa coisa do contador não deixa a gente em paz. Mesmo querendo manter a pose do "não estou nem aí; o blog é meu e posto o que bem entender", o fato é que conto com o contador, que me conta coisas que não entendo, me insinua outras tantas que romanceio com meus botões e introduz um componente meio super-egóico que, às vezes, e só às vezes, me incomoda um bocadito. Mas, como aprendi outrora, quando pinta o Censor, dou uma ligeira cambalhota, troco o C pelo S, e deixo o Sensor que me prometi rolar. Mas a cambalhota, que antes não havia, vai se tornando necessidade e os saltos cada vez mais mortais.
Entre tantas coisas que o contador me insinua, a principal é a coisa dos leitores fiéis em alguns pontos do planeta, Brasil inclusive, que nunca se deixam saber aos meus sabores. Pois se Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte são todas cidades que tiro de letra e como de colherinha, como conviver com os leitores que insistem de tantos outros lugares sem jamais me darem uma pista do que os leva a aqui voltar? Quem é meu leitor(a) de Mountain View, que nunca me manda um abraço, um beijinho singelo, um oi descompromissado, apesar de ter sido eleito meu leitor anônimo predileto, coisa que muito mexeu com minha cunhada predileta, que é deveras ciumenta nessas coisas de minhas predileções? Os de Salvador até entendo, pois deve ser a preguiça que os impede de um comentário que implica em vários cliques e alguma digitação.Mas Porto Alegre, Goiânia, Manaus, Lisboa, Itu de tanta grandeza, O Porto onde um dia aportarei, e tantas outras cidades que insistem em aumentar os números pelo qual o contador me conta sobre eles (e que me permitem supor alguma repetição para além do acaso das navegações), quem são vocês? Mirem-se no exemplo das mulheres de BH! Comentem, ó números frios de minha contabilidade!
Seja como for, feliz por tê-los por aqui, quietinhos ou não. Continuem voltando, mesmo quando o blog entra na maré baixa de seu autor e fica meio cheio de músicas desculposas, poucos poemas, nenhum texto. Ou, para outros, mesmo quando o blogueiro se anima poeta e posta um monte de abobrinhas rimadas, puro efeito de minha vó Pata, a poeta da família e a primeira a não ter vergonha das rimas pobres.
De uma maneira ou de outra, o blog e seu autor vão achando seu jeito de ser. Muita música, palavras tolas todas tontas, ilustrações ilustres e, pelo menos para mim, muita diversão.
Love you all! And love is a many splendored thing, como aprendi pelas mãos de Dona Nise e um dia conto para vocês.

As aparências enganam

As músicas que aqui coloco têm objetivos variados. Algumas são marcas de algum passado distante, sons que me remetem de volta ao menino/adolescente que um dia fui e fazem fundo musical para histórias que me acompanharam vida a dentro. Outras são têm sua importância nas pessoas que me lembram, como as árias, por exemplo, sempre de dedicação implícita à Gilza que não as escutará mais. Outras posto só porque gosto delas ou porque tenho que fazer o blog andar, e não tem maneira mais bonita de "encher linguiça" do que dividir com vocês uma música bela. O blog se perfuma e se colore com elas.
Outras músicas são recados, homenagens, confissões, intenções, que só os destinatários são, supostamente, capazes de entender. Mas como as músicas são belas antes de mais nada, fica o recado, que nem sempre sei se foi recebido e entendido, para quem a música se propunha uma minha fala, mas fica, para todos os outros que aqui aportam, uma outra bela peça. Não costumo mandar recados feios; eles são, no mais das vezes, meio tristes como ando descobrindo ser no fundo de mim mesmo.
A música que hoje posto, gravada pela primeira vez no LP Elis,Essa Mulher, um dos melhores na vasta discografia de Elis, nem eu mesmo sei a que se endereça. Sei somente que a música sempre me emocionou, que a interpretação de Elis é maravilhosa, que a música diz tanta coisa vinda do fundo das almas de qualquer um que já amou, foi amado e desamou, ou foi desamado, que a coloco aqui sem nem bem saber, mas meio que sabendo, com que intenções.
E, como bem pode ser, foi só a maneira de recolocar o blog andando depois de alguns dias de pausa, no de acordo com esse dia cinzento e tristonho que faz aqui por Campinas. E lembro, com a música, que as aparências enganam. Portanto, não se precipitem.
Mas as intenções não interessam, pois a música vale as penas.
Bom estar de volta!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O maestro dos hormônios em polvorosa - ´ s Memories

O período do colegial, entre 1964 e 1966, foi, entre tantas outras coisas, o período dos bailinhos. Bailes de 15 anos das meninas, bailes de formatura e bailes da turminha do colégio (a minha está, em grande parte, na foto que fecha o vídeo). Tirando os bailes de formatura, aos quais comparecíamos de smoking (e cada um tinha o seu; nada de smoking alugado como é praxe nos dias de hoje) e dançávamos ao som de orquestras ao vivo, as demais festinhas eram todas alimentadas pela vitrola da dona da casa.
Eu, que até hoje só danço bem quando a parceira é grande dançarina, só fui ousar aprender a dançar para minha formatura do Ginásio, onde a valsa com a mãe (ainda éramos muito jovens para termos namoradinhas oficiais) era obrigatória. Meio que aprendi o básico da valsa, mas continuava um horror nos outros ritmos. Disfarçava tomando Cuba-Libre nas beiradas do salão com cara de quem não dançava porque não queria.
Mas as demais festinhas, sempre nas casas das meninas, onde as mães e tias podiam ficar de olho no bom comportamento daquela turminha, todos de famílias quase boas, o dançar tornou-se uma necessidade. Ainda mais que era a única oportunidade que tínhamos de sentir um corpo de mulher se encostando no nosso (discretamente, é claro). Aí descobrimos que Ray Conniff, com seu ritmo tão marcado e sempre igual, era moleza. Dois prá lá, um prá cá, e estávamos conversados. O problema da dança resolvido, corpos meio coladinhos, rostos se roçando, mãos entrelaçadas, a questão se tornava o que fazer com os hormônios que, em polvorosa, insistiam em nos colocar em situações embaraçosas, principalmente na frente das mães atentas e das tias mais ainda.
Voilá!, descobrimos a Dança do Chapéu. Um não dançante (homem), de posse do chapéu, escolhia a cabeça de um outro rapaz para colocar o dito. Com isso, tomava-lhe o par e saia a dançar com a moça. Objetivo engraçadinho, logo descobrimos uma outra utilidade, e essa muito mais fundamental, para o chapéu. Pois não eram raras as situações em que, naquele agarradinho com as moçoilas sérias, as coisas crescessem e as tendas se armassem (nesse tempo as coisas cresciam mesmo quando a gente não queria, bem diferente de hoje em que o querer muitas vezes já não basta; sorte que a gente aprende outras coisas pela vida). Ora, seja pela menina que podia se ofender com a coisa dura (coisa que raramente acontecia, afinal os hormônios enlouqueciam para a molecada toda), seja pelo perigo de ser ali mesmo castrado por uma tia mais rigorosa, era só fazer um discreto sinal para o amigo com o chapéu e tudo se resolvia. Assim que o dito cujo era colocado em nossa cabeça, imediatamente tirávamos ele de lá e o colocávamos na frente das partes baixas e saíamos de fininho para longe do olhar das Senhoras Guardiãs.
Na sala, Ray Conniff continuava tocando. Resolvida a questão hormonal no ar fresco do jardim, tínhamos que voltar logo com o chapéu pois sempre tinha um outro desesperado precisando do biombo.
Bons tempos!

Artista brasileiro

O blog descansa por uns dias. Viajo. E Pipoca recusa-se a assumir a Coisa, no que demonstra sua esperteza canina, que a Coisa não é coisa que se assuma. Mas, lacanagem de lado, aproveito para pedir emprestado ao Chico essa bela homenagem que ele faz ao artista brasileiro. Um dia destes, depois que voltar, prometo um vídeo melhor que este que posto agora por falta de tempo (apesar da carinha de Dorival, e seus olhinhos malandros, valer por tudo o mais). Mas o ParaTodos, assim que o tempo me sobrar, será devidamente editado com todos os homenageados por Chico.
Até breve. Aproveitem para passear um pouco pelo passado do blog.



quarta-feira, 2 de abril de 2008

Para você que me lê no escurinho da Internet.

Is Mountain View the Best Place on Earth?

There is no answer to that question. It all depends on what one seeks and values. I met a man in New Mexico who said that whenever he could see the lights of his nearest neighbor at night, he knew it was time to move to a more remote location. That man would not be happy in Mountain View.

Mountain View, and much of Silicon Valley, could be the best place on earth if you are interested in technology, value a fine climate, and enjoy access to many conveniences and perhaps to some luxuries. It is a quiet, conservative place.


Character and Climate

Mountain View is near the northern end of what most people call Silicon Valley. Silicon Valley is actually not an official piece of geography, it is part of the larger Santa Clara Valley. Silicon Valley is the nickname for an area that has a lot of companies related to computers and integrated circuit chips, which are made from silicon.

The climate is outrageously pleasant. I've been here for fifteen years, and I'm still nervous that the long spell of good weather will break. Many people are aware that San Francisco is chilly ("The coldest winter I ever spent was a summer in San Francisco." - Mark Twain.) and that central California is hot. Mountain View is in-between. It gets to the mid-80's typically in the summer, and there is light frost a few times in the winter. The "wet" season is from about October to April, but it actually does not rain very much. The rest of the year has almost no rain. A summer rain shower occurs once every few years and always gets major coverage in the local press.

For people who "love the four seasons" note that there are actually three of the four seasons here. Autumn foliage drags into December, the trees are bare for a month or two. Winter can be had by four hours drive to the Sierra's, where 200 inches of snow is the norm. By late January, apricot trees are in bloom, and spring is underway. For those who have a choice of when to visit, Spring is the best time of year, say March or April.

Mountain View has quite a few high technology firms, but it also has residential and commercial areas. The general character is not a whole lot different from neighboring communities Palo Alto, Los Altos, and Sunnyvale. (Though each community has its points of pride.) All-in-all, Mountain View and its neighbors are prosperous communities.

For the rest of our tour, a sketched map be useful for reference. If you actually drive around Mountain View, you will probably want to get a real map with details. Getting around can be quite confusing, possibly because a number of streets start out in one direction and then curve to another direction.


Transportation and Lodging

The San Jose airport (SJC) is more convenient than the San Francisco airport (SFO) to reach Mountain View, but there is really not too much difference. If you can get a nonstop to SFO, that is better than suffering a connection to get to SJC.

A business person visiting Mountain View will almost certainly need a car. Taxis can be obtained by phone, there is a train to San Francisco, and there is bus service, but all of this is for the very, very patient person who enjoys walking a lot. With a car, reaching Mountain View is easy. Take Highway 101 South from SFO about 30 miles (SFO is south of the city) or take 101 North from SJC about 15 miles. There are five exits into Mountain View.

The only lodging in Mt. View with its own web page (at least that we could find) is the The Crestview Hotel. A commercial reservation service has linked more than half dozen other local hotels . For fancy accommodations, the Stanford Park in Palo Alto is among the nearest.

VeriBest, Inc. has a page giving information about hotels, etc., in the neighborhood of their training center in Mountain View.


Downtown Mountain View

A few years ago, the city decided to make the downtown area more attractive. The sidewalks and "street furniture" were upgraded, and a new complex for the city government was built. It looks quite attractive. The main downtown area surrounds Castro Street, from El Camino to Central Expressway.

Chief among the attractions in the downtown are the many restaurants. The restaurants have a strong Oriental representation, and the general standard is first rate. I am prepared to argue that if one in seeking high quality Chinese cooking, you are better off in downtown Mountain View than in San Francisco's Chinatown. Chinatown has many exotic attractions that make it a worthy destination, but the food in Chinatown is definitely a hit or miss proposition; there are fine restaurants in Chinatown but also a lot of poor quality restaurants. In Mountain View, a stroll down the street and a more-or-less random choice of what looks good is more likely to provide a satisfying dining experience than a similar stroll in Chinatown.

There are many good restaurants on Castro Street.

Residential Mountain View

Mountain View has substantial residential area. Compared to neighboring towns, there are is higher ratio of renters to home owners in Mountain View, so its a good place to find an apartment. Census data on housing gives the prices and mix in 1990.

This apartment complex is along San Antonio Road, actually in Palo Alto.

Realtor PenWest in adjacent Los Altos provides information about demographics, schools, and city services. They report that in 1994, the average home sale price in Mountain View was $313,409.

Mountain View has a typical mix of elements that characterize Silicon Valley lifestyles. The housing is a little older than in some places. Older is often better in terms of having pleasant shady streets. The Mountain View area is in a very dry climate zone, about 15 inches of rain a year, so unless you plant something and water it all you will have is grass and scrub oak.

Local laws now prevent high rise construction. Two and three story buildings predominate. The population density is enough to make it a city, but it is way short of being a metropolis.


Looking at the pictures, see if you agree that the vegetation somehow looks different than from most other places. To me, the vegetation in much of the temperate zones of North America, Europe, and Asia all seem similar. California is different, and that remains slightly unnerving for a long time. Little of the flora is native, but the climate is hospitable to many species. The California vegetation that looks so different to me has plants from all over the world. Eucalyptus from Australia is a popular variety, for example.