quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Outubro, só depois

Courbet, O Desesperado clique e vá aos comentários do outro post



E agora José?

Ovino veritas (carneirinho, carneirão..blim, blão)


Querida Veronique,


Recebi sua massagem por emeio queijo, emeio calabreza, em um momento assaz (ou atrás) inoportuno. Imagine (saudades do John Limão, e dos tempos que espantávamos besouros com cogumelos, e o barquinho ia, em disparadas e ponteios, entre saravás e benção extremamente católicas), mas me perco (sina de minha vida), imagine você que quando sua massagem chegou, eu me deixava enlevar nas mãos, e meios, de meu proctologista do coração, no momento mesmo em que o douto cientificava sobre as pregas da rainha. Convenhamos, não dá, né darling, por mais que meu coração saltitasse tomado por uma alegria juvenil que não sentia desde os tempos em que campinávamos juntinhas pelos becos obscuros dessa formosa (não faz assim!) Princesinha do Oeste (a qual, por sinal, nunca usou brincos de ouro e estava sempre com a macaca). Assim mesmo, jurei, entre suspiros, gemidos, gritos e sussurros (nossa, tô tão referenciada, tão cultural) , e ganidos ao cio (sim, continuo a mesma, toda exagerada, muito eu mesma, muito gente e sempre com um bom contexto a ser inserido), pois jurei, mangalô três vezes, entre os estertores devidos ao exame do referido causídico (linhás, causídico serve para os doutores de tais causos e rabos, ou só se aplica ao rabo dos rábulas devogados? você que sempre foi boa com o português - Seu Manoel, velhinho, nunca te esquece - me corrija), pois jurei, ainda nas mãos e meios das doutas mãos do referido, que responderia tão logo batesse meu recorde pessoal multiorgástico (nem pensar, santa!; não revelo mesmo). No entanto, e até no entretanto, essa nossa vida fácil é foda, como você sabe e pratica, e tive que atender um chamado urgente que se revelou bastante ocupativo.



O fato é que tive que dar um pulinho, e tudo o mais que vivemos dando, até a Molvânia, escortizando dois potentados árabes, que, linhás, se revelaram bem decepcionantes na hora de potentar, que portentavam mal, mas até que quando se tratava de arabar, arabavam bem. E lá, eu ida, na Molvânia, que fica para lá do Piauí, fiquei, assaltada de temores ingênuos e bandidos espertos e bem dotados, até gorinha pouco. É a vida, profissão exigente que nunca nos permite o prazer singelo, nem o beijo na boca.



Mas, enfim, querida Veronique, respondo com certo atraso (já que os potentados não resolveram o meu atraso), à (gostou da crase?) sua massagem, não por emeio, mas aqui, blongamente. Linhás, me perdoe por tornar pública nossas letras escarlates (Google, dear!), mas sigo o conselho de meu agente (se vê depois, se fala, conversa a relação, ou seja, meu multi a gente...), e proveito para exercitar a escrita visando a publicação próxima de minhas caudalosas memórias: "Natascha, uma puta mulher". Sei que você não se importará, pois o que vem de baixo sempre nos importou e foi decisivo para, mais tarde, cairmos de boca na nossa vida gloriosa. Como você sabe, as criaturas (acho pessoas muito poético, isto é, coisa de viado, desde que o portuguesinho resolveu ser um monte de pessoas num só Pessoa), se dividem entre as que cospem e as que engolem. E sei muito bem onde, e como, bebíamos do elixir da vida. Mas, se, depois de velha, você deu para importar (você sempre importou tão bem!), nem se preocupe, nem aumente as rugas, pois em minhas memórias você entra com um pseudo nome, Seca, uma invenção de minha cabecinha memorialista.



Começo, e já quase terminado que já tenho inúmeras ligações (para a) perdida no meu céu (Vivo, é Claro. Tim, Tim!), por deixar claro que adorei a sua proposta de uma "homenáge atrás" entre nós duas e Maria Augusta, apesar da louca diabética andar de cú dulcíssimo e descontrolado nos últimos tempos (magine você, vive a dizer que quer uma mulher para chamar de sua, dela, a futura sapata). Como você sabe, e me provoca, campineira quatro sintoma, sempre adorei uma boa homenáge atrás, arte duramente aprendida nos terrenos baldios de minha meninice campineira, época em que carlosgosmamos muito. Se Maria Augusta topar, tô nessa. Se não topar, enrolamos um de orégano e fazemos de conta um troca troca bestial.
Ficamos pois assim: tudo combinado, nada resolvido. Outubro finda, a vida é linda e eu, mais ainda.



Sempre tua, (pequena homenagem ao seu album de recordações, clique sem medo!)


Natascha
PS. Desculpe-me a indiscrição de revelar o quadrinho que o franceszinho Courbet fez de nós duas, eu que já nem me lembrava dele (do quadro). Mas, não é que o Gustavinho vendeu a coisa para um potentado, que acabou, por vias hereditárias sobrando na mão de meu meio potentado da Molvânia. Éramos tão tolas naqueles tempos que nem cobramos os francos devidos, puro prazer, zumdebesouro imã, linda são as duas ermãs.





O Homem sem Qualidades



O Rio me desqualifica. Re-re-torno no dia 06 de novembro, aniversário de Robert Musil, O Homem Sem Qualidades, meu HSQ de tanto bate-papo.

Voltarei sem elas, ou com menos delas, as qualidades.

Se Deus, quiser.

Indo!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Por ti, eu mudo.



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Queria hoje te fazer presente,
Numa letra torta, num intocável gesto
Que mesmo sendo do em ti ausente,
Fosse homenagem, pranto e manifesto.
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Mais uma vez sou eu que aqui ganho,
Os restos e demais ficados de tua pessoa.
A voz sumida, o semblante estranho,
E o desejo intenso, ainda que doa.
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E a escrita para, sem objeto,
Em ti me acho, por ti eu mudo.
E comemoro, de ti, o gesto
Porque o desejo, em ti, foi tudo.
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Para Gilza, no 30 de outubro

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A razão dos pregos




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Há sempre algo de ausente,

que me atormenta.


Camille Claudel

Miró de Barros

P

Pela descoberta: Inês

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Inconfidência maneira


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Sou a mancha na parede,
prego,
retrato antigo.
Renovada mesma coisa
da santíssima trindade
do eu em mim comigo.
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Sou a ilusão de mim mesmo,
sou onde ouso e atrevo
a escolha de meus castigos.
Sou nome, sou multidão,
sou aquele que erra a esmo,
sou um nó que chamo umbigo.




Imagem: Francis Bacon, o outro

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Drummond de presente


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É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

O Enterrado Vivo Carlos Drummond de Andrade

Obrigado, Inês

Saudades de um haver nascido.

Saudades, saudades,
saudades de meus amigos,
saudades de meus queridos.
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Saudades de Anna, de dois n´s
e cheia de letras no olhar.
Saudades de Jorge,
alegria rio perene,
vontade em todo falar.
Saudades dos outros todos
que me sorriem do Rio
me chamando o chegar.
Saudades da Júlia de minha aldea
que era o Leme e suas areias,
minha frágil espanhola
de quem me separa um mar de ondas tamanhas
e uma Espanha
a ver navios,
mas que em meu coração é festa,
e resta
com Buikas e carambolas.
Saudades do enorme Cid,
amigo quase sumido
antes mesmo de haver podido,
que de tão perto
fica tão longe
de nossas portas que esperam abertas.
Saudades de Meire,
Heloísa de meu Abelardo,
amiga dos novos tempos,
más intenções,
querer tão casto,
ouvido atento;
de coração grande demais
e que faz muito pouco partiu
exilada de suas Gerais
para se achar, entre risos e rios,
lá no fundo do Brasil
que fica bem lá para trás.
Saudades de outros nomes,
mulheres, homens,
que aqui não nomeei.
Saudades d´outros amigos
cujos nomes ainda não sei.
Saudades, saudades,
saudades de todos os amigos
de quem amigo me tornei.
Saudades de meus queridos.
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Sem eles, resto pequeno,
enorme traço onde me marco.
Sem eles, oco no peito,
um mar profundo,
esperança parca,
falta de jeito
e o fim do mundo.
Saudades, saudades,
saudades de meus perdidos.
Sem eles sofro os perigos,
em carnes e em ossos
e pago o castigo
do dever partido.
Sem eles não sou convosco,
sem eles nem sou comigo.
Saudades, saudades,
saudades dos meus amigos.
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E nesta falta tanta,
tanta de não ter mais fim,
só me resta a letra tonta
e uma puta saudade de mim.

Barão/Frango, entre o 20 e o 24 de outubro de 2007

De pregos e retratos


É sempre bom lembrar
que o prego
tem seu lugar.
Pois se os retratos se fiam em rede,
o prego, no seu pregar,
tapa o buraco na parede.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Drummond de verdade, de ferro e espuma


Confidência do itabirano


Alguns anos vivi em Itabira
Principalmente, nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calças.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação..

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem
mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
É doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Carlos Drummond de Andrade
Obrigado, Flávia

Os poetas também brincam



"Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci. Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite. Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo. Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo Filho da Puta!!!! "





garimpagem: Augusto Ramasco
quem brincou, afinal?
E qual foi a brincadeira?

domingo, 21 de outubro de 2007

Pergolesi and the Jazz Messengers (convidado especial: Mahler)




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Nos braços da Mãe Dolorosa,
um Zé jazz
sua morte em Veneza.
Nos sonhos que ainda sonho rosa,
seu Zé traz
vida, mulher e beleza.






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foto: Zédu

Retrato na parede

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Dias atrás, em uma Jornada que participei, alguém contou a seguinte história: era uma vez um autor, cujo nome já me esqueci, que havia sido prisioneiro em um campo de concentração nazista e sobreviveu. Depois do final da guerra, ele resolve visitar o colégio onde estudara, a classe que frequentara. Ali, na parede, repara que aonde antes havia um retrato de Hitler pendurado, haviam colocado um cruxifixo. Mas, observa e denuncia, o prego era o mesmo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Mario Benedetti

Viceversa



Tengo miedo de verte
necesidad de verte
esperanza de verte
desazones de verte.
Tengo ganas de hallarte
certidumbre de hallarte
pobres dudas de hallarte
Tengo urgencia de oirte
alegria de oirte
buena suerte de oirte
y temores de oirte.
O sea,
resumiendo,
estoy jodido
y radiante
Quizá mas lo primero
que lo segundo
y también
viceversa.
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Táctica y estratégia



Mi táctica es
.........mirarte
aprender como sos
quererte como sos.
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mi táctica es
.......hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructibile
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mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo
ni sé con que pretexto
pero quedarme en vos
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mi táctica es
........ser franco
y saber que sos franca
y que nos nos vendamos
simulacros
para que entre los dos
no haya telón
............ ni abismos
.
mi estrategia es
en cambio
más profunda y más
..................... simple
.
mi estrategia es
que un dia qualquiera
no sé como
ni sé con qué pretexto
por fin
.............. me necessites





Mário Benedetti

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Só depois, com um novo sol.



Eu vou!
Tão logo consigamos,
espantar as tristezas
e recuperar,
no espaço pouco que dispomos,
um tanto do alegrar-se,
uma pitada de beleza
e o toque suave de leveza,
que sempre me fez sonhar-te.
Aí eu vou,
com certeza.
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Rompo as estradas,
derrubo montanhas,
da distância faço um nada,
e corro para teu abraço.
Depois,
cansado de tanta façanha,
adormeço em teu regaço
e contigo acordo dois.


Barão, 17 de outubro de 2007
texto e foto: Zédu

Fortuna



Fortuna, no m´amenazes
ni menos me muestre gesto
mucho duro,
que tus guerras y tus pazes
conosco bien, y por esto
no me curo


Jorge Manrique, Dexires y cantares

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Do lado esquerdo do peito


Lição de Anatomia, Rembrandt
Apreender, de meu amigo Jorge,
Que as coisas podem ser divertidas.
Retomar meu rumo, encher o alforge,
Brincar de construir minha própria vida.
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Da querida Anna, a risada solta,
As flores e os amigos cultivados.
Aprender a pérola de minha própria ostra,
E enfeitar as gentes e as namoradas.
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Da amiga Meire, a mineirice,
A luta insana, o nunca desistir.
Curtir um pouco de minha meninice,
Saber chegar, aprender partir.
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Com a desconhecida Alana,
Aprender que a pior tragédia
É só uma parte do drama,
E remendar, paciente, o que não tem remédio.
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Até com Pipoca fazer de conta,
Que mais vale o gosto do que o vintém,
Que mais que no amor, de coisas tontas,
O importante é que nos tratem bem.
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Nos filhos enxergar a seguinte vida,
Acompanhar presentes, esperar futuros,
E tornar, a minha, coisa devida
Abrir as portar para além dos muros.
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Pois nos meus queridos todos me formei,
E com todos eles hei de viver.
Melhor do que sou, mais do que sei,
Ao lado deles vou me apreender.
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E decidir comigo, todos os dias,
Que a vida espera em cada esquina,
Plena de surpresas e fantasias,
Amigos, gentes, e até uma menina.

Ai -ai cheio de ai-ais

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A vida dá muito trabalho
para quem, como eu,
é carta fora do baralho.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O silêncio nos inocentes

Pior do que as montanhas,
A distância e todas as estradas,
Pior do que esta falta tamanha,
É o silêncio sem palavras.
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Com poemas (in)ventamos ausências,
As distãncias recobrimos com saudades
Que se esparramavam com ciência,
Minha metade com a tua metade.
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Nos encontrávamos em poemas,
Músicas, mails e tantos bilhetes,
Com palavras que faziam valer as penas
Desta vida tomada entre colchetes.
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Mas o silêncio nos furta as falas,
O sem palavras escurece a ausência.
O vazio se impõe, ocupa, separa,
E lança luz nas inconsistências.
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O silenciador e o silenciado,
Nos tornamos sonho desfeito,
Pesadelo desacordado,
Mudez calada de mal jeito.
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Mas o silêncio é fácil de ser quebrado
E é mais frágil do que sermos sós.
Pois basta que de um dos dois lados
Uma palavra desfaça o(s) nós.
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Sem causa e sequer efeito,
Sem nós que nos ausentem,
Seguimos, cada qual com seu feito
Para um outro mistério falente.
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Quem cala consente o silêncio,
As trevas, a noite escura,
A solidão, o rompimento,
O travo na boca e a amargura.
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Sou feito só de palavras,
Sou oco de significações.
Das letras me afirmo escravo,
Mas mudo, sou só senões.
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E sigo, e digo, e berro,
No oco do teu silêncio,
Palavras onde me agarro
E escrevo o fim do tormento.
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Sou eu, sou elas, somos nós,
Frases, quadras, efeitos.
Nas linhas, como sempre, a sós,
Não entendo do meu jeito.
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E escrevo essa toda merda,
Que aqui em ti despejo,
Para me vingar da perda
E negar o meu desejo.
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Luizão,
que ninguém nos veja,
mas me traz outra cerveja,
e coloca outra canção.

Frango, agora a pouco

Um Monte de Solidão na Viola


Clip do filme Paulinho da Viola; Meu tempo é hoje. Documentário imperdível, onde toda a elegância e belezura de Paulinho ficam cariocamente demonstradas. Aqui, Marisa Monte, o cenário do Parque Lage, tudo ajuda a valorizar a beleza da música, a tristeza blue da letra, a genealidade da dupla.

Obrigado, Inês

Nos tempos da fotografia


terça-feira, 9 de outubro de 2007

La vida es mas compleja do que parece

Foto H. Cartier Bresson



O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão…

São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.

Fernando Pessoa - Cancioneiro - 05/09/1933

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Outubro, paterno um eu.


Nove meses são passados,
Desde que aqui aportei.
Um filho já foi gerado,
neste eu que me tornei.

Passou o verão,
O´utono se mostrou,
O inverno foi quase não,
Na primavera é que sou.

Meu ano reacabou,
Mesmo devendo meses.
Um outro recomeçou,
Como foi em tantas vezes.
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A diferença é que agora,
Pari-me em escrita e letras,
E já não posso ir embora,
Nem voltar a ser careta.
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Virei o que me tornei,
Essa coisa que escrevinho.
E sonho, fora da lei,
Com você, queijos e vinhos.

Já não sou mais meu passado,
No futuro me definho.
Em ti me sinto pecado
E nessa história me advinho.

Contigo me fiz parido
E fui pai de meu próprio eu.
Sou teu, sou contigo,
Sou o que, de ti, aconteceu.
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Pai como sempre suposto,
Sou filho de vosso ventre.
Sou teu, sou meu, sou nosso,
Sou eu mesmo diferente.

Quero, quero.. Arara Tropical





Eu aqui, no bar, meditabundo,
Pensando na morte da bezerra.
E meu desejo abarca o mundo.
Vem daí essa minha tristeza.
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Quero mais do que posso e ouso,
Quero além do que me é possível.
Quero gentes, pessoas para todo uso,
Quero, de mim, um Zé incrível.
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Pois me encantam as cigarras
Neste outubro deslumbrado.
E o amor com que tu me amarras,
É meu vício, meu pecado.
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E te desejo com todas as outras,
De uma forma que tu nem sonhas.
Neste querer não ser mais ostra,
Quero cabelos em minhas fronhas.
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No Taiti, que seja aqui, ainda que em Frango disfarçado, 02/10/07

Pão de Açucar


Filme de PVC e a traquitana dos rolos,
Banana, maçãs, carambola e melão,
Presunto às pencas, que não sou tolo,
Pão de forma politicamente correto
E um bom pote de requeijão.
Algumas delícias de rapaz esperto,
Outras ousadias de meu desejo anão.
Mas tudo com pouco peso,
Que o coração já não é o mesmo
E o corpo já cansou a mão.
Sacolas poucas, pouco esforço,
Que além do peso tem o Pipoca,
Que me espera atento, ali na porta,
Crente que as compras incluem uns ossos.

E a lua espia,
Aborrecida.
E a vida expia,
Acontecida.
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Rol das compras, 02/10/07

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Outubro, a descoberta do mundo


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Gentes, até algumas pessoas e o retorno de algum i-mundo (ver comentário)