segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Prazer em tê-los tido por aqui.



Urbi et Orbi 2ª ed. revista e ampliada

O Ano velho se vai com ares de novo. Talvez por eu tê-lo usado até quase o final para encerrar 2006, que nem sei bem quando finalmente encerrei. Talvez por isso 2007 não me pareça um ano que acaba, muito mais um amigo que me acompanhou e que agora se vai. Gostaria de encerrá-lo, no momento devido, ao som do último movimento do Canto da Terra de Mahler, uma das mais lindas melodias sinfônicas que conheço, e que fala da partida entre dois amigos que nunca mais se verão. Pois é assim que me sinto com esse ano que está quase partindo. Foi um ano muito amigo, que pacientemente seguiu seu curso, pois os anos não podem esperar, me carregando enquanto eu ainda me voltava para o ano passado. E que agora se vai para sempre se deixando um pouco dentro de mim por todos os anos que ainda virão.
Recordo aqui o mail que foi a semente disto que virou blog, escrito e enviado para muito poucos amigos há exatamente um ano atrás. E faço isso para lembrar a mim mesmo o bom andarilho que fui nos ares de 2007, bem no sentido do poema de Machado (que pode ser encontrado em algum lugar deste blog) Caminante no hay camino, se hace camino al andar. E para agradecer àqueles poucos daquela hora por terem permanecido ainda entre os poucos de agora, aos outros que fui acrescentando ao longo do ano do qual aqui me despeço, todas pessoas que, por terem me acompanhado, sabem quão longe ficou o mail inaugural, que aqui no blog virou post inesquecível (O primeiro post a gente nunca esquece, como o denominei). Para os que estão chegando agora, no blog ou nos meus carinhos (e até nisso 2007 me foi generoso; nestes dias em que ele se encerra inauguro novas pessoas, olho com um novo olhar pessoas antigas que, assim, são também quase novas), o agora famoso mail talvez seja uma forma de saber das lutas que lutei e dos caminhos por onde andei a partir do 31 de dezembro de 2006.
Pois o blog se compôs a partir e em torno dele. Ele, o mail, marca o centro do labirinto do qual, entre tentativas e erros, achei a saída no fio que teci com as postagens aqui colocadas. E é isso, esse fio guia, que me permite, hoje ou quando quiser, retornar ao labirinto sem medo de me perder.
Mas, se assim conseguisse o falastrão em mim, poderia resumir tudo comparando o título do mail de 2006, dirigido a " meus poucos queridos" a essa postagem, que digito da sacada de minha catedral, e dirijo a Urbi et Orbi, como aquele outro cara, naquela outra catedral, faz em sua sacada. E como o Bento em questão, que jamais deve ser confundido com Bentinho, seja o que perdeu-se nos mistérios dos olhos de Capitu, seja o meu avô paterno, que me pagava em moedinhas para receber cafunés na careca, dirijo-me ao fiéis da Palavra feita blog e agradeço por todos os cafunés que recebi neste ano que levarei comigo no coração, semente de um novo velho Zédu, como eu já sabia que seria desde o início. Aos que me comentam, aqui ou por mail, e me agradam com seus elogios, aos que consomem anonimamente as carambolas que aqui deixo frutificar (essa coisa do contador, novidade recente no blog, é muito divertida, mas me serviu para saber que alguns leitores anônimos se repetem, apesar de não conseguir entender porque a pessoa da Finlãndia nunca retornou; além de demonstrar que o navegar é preciso de Pessoa adquiriu outra conotação nesses mares sem fim da Internet) a todos, Urbi et Orbi, minha alegria de tê-los.
Aos que sabem que minhas postagens sempre guardam alguma relação com a ilustração que as acompanha, explico, pela primeira e última vez, a ilustração desta: como o Ipê de minha Praça (e as maiúsculas aqui têm um significado muito importante e muito íntimo), o ano termina seu ciclo sem flores, quase sem folhas e com uma pipa morta espetada em seus galhos retorcidos. Mas como aprendi lá na Praça, o Ipê recomeça sempre e novas pipas cruzarão os ares nas mãos de novos meninos, e lá estarei, com Pipoca ao lado, para continuar aprendendo sobre as árvores, os ventos, os passarinhos, as flores, o ciclo de um eterno retorno que continuará refazendo minha filosofia, meu olhar e minha vontade de continuar. Por isso, não tomem a falta de flores, os galhos retorcidos, nem mesmo a pipa morta, como signo de algo que seca e, sem vida, morre. Tudo é só um momento de um movimento sem fim, promessa de novas flores, novas pipas capturadas que a chuva e o vento de 2008 diluirão. Só os galhos permanecerão retorcidos, que é do Ipê tê-los assim, e é neles que brotam as folhas e as flores. Com o Ipê aprendi que o belo é efêmero e deve ser sorvido com sofreguidão. E por haver da beleza da Praça bebido o devido, aguardo calmo a volta do meu Ipê florido.
E continuar por aqui continuarei. Em uma das primeiras postagens (já não me lembro qual), eu prometia que o blog teria data para acabar, propunha que essa viagem, que naqueles inícios supunha bem menos solitária do que acabou sendo (mas que, ao mesmo tempo, acrescentou, e ainda acrescenta, outros poucos queridos ao buraco de meu coração), pois eu propunha que o blog terminasse quando o blog cumprisse seu ano, prazo que havia me dado para terminar de colar os cacos de mim mesmo, partir para outra jornada e, propósito primeiro do blog, escrever até me vingar da perda. Bem dita a perda, já não há mais do que se vingar mas há, ainda, muito a bem dizer.
Típica re-solução de Ano Novo, esta também cumprirá o destino típico daquelas e permanecerá não cumprida. Pois o blog continuará, na exata medida que, apesar de haver bem cumprido seu propósito inicial, e talvez por isso mesmo, adquiriu um comprimento inacabado e tornou-se, não mais uma ferramenta de reconstrução, mas diário de um andarilho. E como continuarei fazendo meus caminhos...
Além do mais, o blog tornou-se uma ilusão engraçadinha e, desde que recebi, no final de novembro, um cartão que Gilza fez chegar a mim (ver postagem Feliz Ano Novo? Presente! do final de novembro), tenho me dado bem escolhendo as ilusões divertidas, descartando as chatinhas e as insupotáveis. E aqui me divirto, me exponho e me comprometo com minhas próprias palavras. E aqui vou continuar a ser. cada vez mais engraçadinho, coisa que meu amigo Sé, o boa praça, por certo dirá ser um resto de viadagem campineira.
E finalmente, propondo um final moebiano (ver Banda de Moebius em uma postagem antiga), deixo nossa assinatura, minha e de Pipoca, competente analista dos postes, das árvores e de todos os cheiros, como um link para o primeiro mail, que já não será lido como antes mas que encerra, em avesso, um ano de blogação. Espero que funcione (o link).
Escutem o Canto da Terra e despeçam-se com beleza do ano de 2007. É mais garantido que lentilhas, sementes de romã, e outras simpatias para garantir um Feliz Ano Novo.
Mil beijos,
Zédu, sempre Isso, e Pipoca, sempre aquilo.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Grande venda de final de ano!


Não perca! Corra! Mande já seu comentário! E ganhe uma das obras de nosso estoque! Últimos (e também os primeiros) exemplares à venda!
Mande seu comentário já!
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Obras escolhidas para essa grande promoção de final de ano:
1. Zédu e suas palavras
2. As palavras de Zédu
3. Mais palavras de Zédu
4. Novas palavras de Zédu
5. Novíssimas palavras de Zédu
6. Palavras de Zédu, o retorno
7. Palavras cruzadas de Zédu
8. Cala a boca, Zédu!
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Todas as obras de autoria de Zédu menos a oitava, escrita por Pipoca
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Idéia descaradamente roubada de Buda e do Planeta Diário de dezembro de 1985

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

As graças que eu também daria


Otro Poema De Los Dones
Gracias quiero dar al divino
Laberinto de los efectos y de las causas
Por la diversidad de las criaturas
Que forman este singular universo,
Por la razón, que no cesará de soñar
Con un plano del laberinto,
Por el rostro de Elena y la perseverancia de Ulises,
Por el amor que nos deja ver a los otros
Como los ve la divinidad,
Por el firme diamante y el agua suelta,
Por el álgebra, palacio de precisos cristales,
Por las místicas monedas de Ángel Silesio,
Por Schopenhauer,
Que acaso descifró el universo,
Por el fulgor del fuego
Que ningún ser humano puede mirar sin un asombro antiguo,
Por la caoba, el cedro y el sándalo,
Por el pan y la sal,
Por el misterio de la rosa
Que prodiga color y que no lo ve,
Por ciertas vísperas y días de 1955,
Por los duros troperos que en la llanura
Arrean los animales y el alba,
Por la mañana en Montevideo,
Por el arte de la amistad,
Por el último día de Sócrates,
Por las palabras que en un crepúsculo se dijeron
De una cruz a otra cruz,
Por aquel sueño del Islam que abarcó
Mil noches y una noche,
Por aquel otro sueño del infierno,
De la torre del fuego que purifica
Y de las esferas gloriosas,
Por Schwedenborg,
Que conversaba con los ángeles en las calles de Londres,
Por los ríos secretos e inmemoriales
Que convergen en mí,
Por el idioma que, hace siglos, hablé en Nortumbría,
Por la espada y el arpa de los sajones,
Por el mar, que es un desierto resplandeciente
Y una cifra de cosas que no sabemos
Y un epitafio de los vikingos,
Por la música verbal de Inglaterra,
Por la música verbal de Alemania,
Por el oro, que relumbra en los versos,
Por el épico invierno,
por el nombre de un libro que no he leído:
Gesta Dei per Francos,
por Verlaine, inocente como los pájaros,
Por el prisma de cristal y la pesa de bronce,
por las rayas del tigre,
por las altas torres de San Francisco y de la isla de Manhattan,
por la mañana en Texas,
Por aquel sevillano que redactó la Epístola Moral
y cuyo nombre, como él hubiera preferido, ignoramos,
Por Séneca y Lucano, de Córdoba,
Que antes del español escribieron
Toda la literatura española,
Por el geométrico y bizarro ajedrez,
Por la tortuga de Zenón y el mapa de Royce,
por el olor medicinal de los eucaliptos,
Por el lenguaje, que puede simular la sabiduría,
Por el olvido, que anula o modifica el pasado,
Por la costumbre,
Que nos repite y nos confirma como un espejo,
Por la mañana, que nos depara la ilusión de un principio,
Por la noche, su tiniebla y su astronomía,
Por el valor y la felicidad de los otros,
Por la patria, sentida en los jazmines
O en una vieja espada,
Por Whitman y Francisco de Asís, que ya escribieron el poema,
Por el hecho de que el poema es inagotable
Y se confunde con la suma de las criaturas
Y no llegará jamás al último verso
Y varía según los hombres,
Por Frances Haslam, que pidió perdón a sus hijos
Por morir tan despacio,
Por los minutos que preceden al sueño,
Por el sueño y la muerte,
Esos dos tesoros ocultos,
Por los íntimos dones que no enumero,
Por la música, misteriosa forma del tiempo.

Jorge Luis Borges

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Freud desacreditado


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O que mais admiro no grande neurótico vienense, que ele mesmo inventou, é que Freud jamais deixou de se desacreditar. Leiam O Futuro de Uma Ilusão e seu texto seguinte, O Mal estar na Civilização, e percebam como Freud desacredita Freud e segue em frente, cada vez mais Freud, jamais freudiano, sempre psicanalítico. E ainda hoje tem gente que goza "desacreditando" Freud. Qual?

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O bêbado e a equilibrista

Nada sustenta nada
Nada sustenta tudo
Do tudo, sobra a piada
O nada se diz no mudo
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A vida não tem meio termo
É sempre um tudo ou nada
Um lugar assim meio ermo
Linha tênue e mal traçada.
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Há que ousar equilibrismo
Ser alvo de todas facadas
Sem rede, encarar o abismo
Atu(r)ar a palhaçada.
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No circo de nosso destino
Um mastro sustenta a lona
E se a platéia é desatino
O elenco é pura zona.
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E sendo tudo ilusão
Viagem sem volta ou ida
Há que saber, com paixão,
Escolher as divertidas
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26 de dezembro de 2207

Don Borges

Poema de los dones
Jorge Luis Borges

Nadie rebaje a lágrima o reproche
esta declaración de la maestría
de Dios, que con magnífica ironía
me dió a la vez los libros y la noche.


De esta ciudad de libros hizo dueños
a unos ojos sin luz, que sólo pueden
leer en las bibliotecas de los sueños
los insensatos párrafos que ceden

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A las albas a su afán. En vano el día
les prodiga sus libros infinitos,
arduos como los arduos manuscritos
que perecieron en Alejandría.

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De hambre y de sed (narra una historia griega)
muere un rey entre fuentes y jardines;
yo fatigo sin rumbo los confines
de esa alta y honda biblioteca ciega.

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Enciclopedias, atlas, el oriente
y el occidente, siglos, dinastías.
Símbolos, cosmos y cosmogonías
brindan los muros, pero inútilmente.

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Lento en mi sombra, la penumbra hueca
exploro con el báculo indeciso,
Yo, que me figuraba el paraíso
bajo la especie de una biblioteca.

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Algo, que ciertamente no se nombra
con la palabra azar, rige estas cosas;
otro ya recibió en otras borrosas
tardes los muchos libros y la sombra.

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Al errar por las lentas galerías
suelo sentir con vago horror sagrado
que soy el otro, el muerto, que habrá dado
los mismos pasos en los mismos días.

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¿Cuál de los dos escribe este poema
de un yo plural y de una sola sombra?
¿Qué importa la palabra que me nombra
si es indiviso y uno el anatema?

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Groussac o Borges, miro este querido
mundo que se deforma y que se apaga
en una pálida ceniza vaga
que se parece al sueño y al olvido.

Do mesmo El Hazedor, 1960

Borges e eu

...Ao outro, a Borges, é que sucedem as coisas. Eu caminho por Buenos Aires e me demoro, talvez já mecanicamente, para olhar o arco de um vestíbulo e o portão gradeado; de Borges tenho notícias pelo correio e vejo seu nome em uma lista tríplice de professores ou em um dicionário biográfico. Agradam-me os relógios de areia, os mapas, a tipografia do século XVIII, as etimologias, o gosto do café e a prosa de Stevenson; o outro compartilha essas preferências, mas de um modo vaidoso que as transforma em atributos de um ator. Seria exagerado afirmar que nossa relação é hostil; eu vivo, eu me deixo viver, para que Borges possa tramar sua literatura, e essa literatura me justifica. Não me custa nada confessar que alcançou certas páginas válidas, mas essas páginas não podem salvar-me, talvez porque o bom já não seja de ninguém, nem mesmo do outro, mas da linguagem ou da tradição. Além disso, eu estou destinado a perder-me, definitivamente, e só algum instante de mim poderá sobreviver no outro. Pouco a pouco vou cedendo-lhe tudo, embora conheça seu perverso costume de falsear e magnificar. Spinoza entendeu que todas as coisas querem perseverar em seu ser; a pedra eternamente quer ser pedra e o tigre um tigre. Eu permanecerei em Borges, não em mim (se é que sou alguém), mas me reconheço menos em seus livros do que em muitos outros ou do que no laborioso rasqueado de uma guitarra. Há alguns anos tentei livrar-me dele e passei das mitologias do arrabalde aos jogos com o tempo e o infinito, mas esses jogos agora são de Borges e terei de imaginar outras coisas. Assim minha vida é uma fuga e tudo eu perco e tudo é do esquecimento, ou do outro.

...Não sei qual dos dois escreve esta página

J.L. Borges, El Hacedor, trad. Josely Vianna Baptista
em Obras Completas, vol II, Editora Globo, p. 206

O amor de vidro




Manoel de Barros, é claro

Roubado do site de uma das maiores especialistas em Manoel de Barros que conheço

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Árvore de Natal

foto: Zédu
Meu melhor presente
é meu presente.
Que isso possa ser
o presente de cada um de vocês.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Minhas mudanças

Gravado no dia 22 de dezembro de 2007, um ano depois de minha mudança.

Imagine!

Imagine a alegria,

Imagine este outro mundo,

Imagine a sabedoria,

E, no Natal, vá fundo!

São os votos a todos que participam comigo neste blog, que começou a nascer no brilho triste de meu olhar no Natal de 2006 e, caminhando, me trouxe ao presente bem passado de onde olho com vontade um futuro.

Rumo a um ano novo


Caminando....

Sigo caminando contigo porque quiero
Porque me nace
Porque da gusto tomarnos de la mano y saltar las trampas del camino.
Caminando ya hemos aprendido que podemos caer,
salpicarnos de miedo, de barro.

Caminante no hay camino, se hace camino al andar
(este verso me lo robó Machado hace muchos años antes de que yo naciera.
Pero valió la pena, le dio buen uso).

Camino por ti para dejarte mis huellas de talla grande.
Para que pises sobre ellas, te guíes, me haga tu camino.


J. L. Maldonado
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Pintura: Renoir


sábado, 22 de dezembro de 2007

O ano poente

foto: Zédu

Existem anos que acabam
sem que saibam nascer um outro;
são estes os mais terríveis,
os anos que não sabem morrer.
Restam como um por do sol
que nunca se põe,
uma alvorada que se prenuncia
e jamais brota.
Nem direito, nem avesso,
são nós que não se desfazem,
nem permitem que sigam benditas
as primeiras pessoas do plural
do novo verbo que deveria,
ali, se redizer.
Engolem o tempo e a eternidade,
sem ser buraco,
negro ou luminoso,
eterno retorno de um nada
que reluta em deixar-se ser.
Não morrem, e já não vivem,
Não correm mais os dias,
os minutos, os segundos,
gélidas paralisias de um não haver.
Não se contam, nem se deixam falar,
mudos congelados
na fria fotografia
de um passado que não se esvai.
Não viram recordações,
belas, tristes, doloridas;
permanecem à flor da terra,
abertos, finais, insepultos,
não passando o presente,
não germinando o futuro.
São terríveis os anos que não se enterram.
Neles se quebram os espelhos,
vagueiam esperanças doidas,
planos se apagam lentamente,
por falta de novos ares
no ar que ali se para.
Vidas estarrecidas,
afogadas por falta de vida
no haver paralisado.
Nada morre,
nada segue,
nada brota.
Tudo se esgota
nesses anos que não têm mais fim.
22 de dezembro de 2007

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O Homem das Carambolas

foto: Homem das Carambolas, o próprio



Nos caminhos onde errei
Nas estradas que caminhei
Nas sargetas onde sentei
Nas beiradas onde chorei
Nos lugares que já nem sei
Nas mulheres, sempre do rei
Nas gentes, em toda grei
Tornei o que ainda serei.
.
Dos idos já bem passados
Dos segredos desnudados
Dos sagrados denunciados
Dos meus mortos já velados
Do povo que tive ao meu lado
De todos os meus amados
Do esposo, amante, amigado
Sou um fátuo consumado.
.
No presente onde me sinto
Me faço de meu passado.
No futuro, onde me minto,
Vive o hoje denunciado.
O agora é meu absinto
Meu aqui embriagado
Nas cores com que me tinto
E me faço anunciado.

Frango, 18 de dezembro de 2007





terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Pausa para meditação

Infelizmente, essa música que foi tão marcante para minha geração, continua atual. A resposta continua vindo no vento, assoprada para quem quiser e souber escutar. E já que ando meio parado, deixo com vocês a música, as perguntas e as respostas que cada um carrega consigo.
Agora vou até a Praça onde Pipoca me ensinou a conversar com o vento, as árvores e os passarinhos e onde, de conversa em conversa, vou aprendendo a caminhar. Coisa d´outro mundo!

Parou porque? Porque parou?


Como vocês podem perceber, andei considerando seriamente a questão que me foi colocada por uma fiel leitora. E dá~lhe tratos à bola!
O fato é que parei um pouco, como outras vezes já havia parado, e por razões bem mais preocupantes das que tenho agora para me dar esse descanso. Desta vez parei porque estou em festas! E se tudo para nesse país tropical onde ando vivendo feliz, porque não pararia eu por aqui um pouquinho. Mais ainda, não existe pecado na linha de baixo do Equador. Portanto, não peco!
E é com essa cara de bem parado que agradeço e peço licença. Mas volto, eu sempre volto.
Beijos a todos!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Rir é o melhor remédio, apud Seleções Reader´s Digest, lembram-se?

Imagem passarinho que pousou no meu é-meu
Clique na imagem para vê-la em tamanho maior. Se ainda não sacou, é um mouse que ele tem na mão. Mova-se, criatura!

Para uma amiga que ainda sofre



Monet
Sofrer com a morte deles,
é culpá-los de aqui não estar.
No mínimo, egoístas dizê-los,
por tanta dor nos causar.

No entanto, se por eles temos,
respeito e reconhecimento,
devíamos tentar, pelo menos,
fazer da vida merecimento.

Cobrir o buraco com flores,
polir o mármore frio,
e sair para outros amores,
viver, nem que for por um fio.

Recusar preto por cores,
espanar os sofrimentos.
Da dor nos fazer senhores
e viver cada vão momento.

Só assim, amiga deste novo dia,
mudaremos nossas desditas,
e diluiremos a melancolia
na luta da coisa bem dita.

Pois só a morte nos garante a vida,
só a vida pode guardar a morte.
E devemos, às pessoas idas,
comemorar a nossa sorte.

Guardá-los com todo carinho,
acolhidos em nossas lembranças.
Mas saudá-los com taças de vinho,
e sempre levá-los para a dança.

Mas desejar é preciso,
navegar é necessário.
Não fazer, do desejo, inimigo
e jamais viver ao contrário

Permitir a cada qual sua escolha,
e respeitar as escolhas feitas.
E deixar que a vida nos colha
sem na alegria supor desfeita.

Viver porque estamos vivos
seguir porque a vida (é) chama,
parar de chorar o umbigo,
levantar e sair da cama.

Pois se eles nos mostraram justo
o possível do desistir,
devemos, a qualquer custo,
justificar nosso existir.



Barão Geraldo, 12 de dezembro de 2007.
Dedicado à memória de Gilza e Daniel,
e endereçado à uma amiga que ainda vai ser grande.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O menino que fui chorava na estrada...


A lágrima aqui devida, no encerramento do ano em que fiz meu caminho desde o menino que fui quando para cá me mandei vir até esse ponto em que há uma estrada já bem percorrida e um caminhar a continuar. Um pouco, do caminho que já foi se mostra aqui no blog, nas idas e vindas, no sempre em frente que nele reconheço. Continuarei.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A palavra se mente


O Jardim dos Poetas (Van Gogh)
Cada palavra é uma mulher
e como elas, sempre não toda.
Como elas, nos dão prazer,
nos tocam, adágio e coda.
.
Cada qual uma sinfonia
com naipes de significação.
Dependem das cores do dia
e dos ares da estação.
.
Cada palavra é escolha,
um beijo esperando boca.
Frágil como uma bolha,
única, bela e pouca.
.
Toda palavra é um engodo
que cremos poder desfazer.
Mas como, se no seu jogo,
é da palavra não ser?
.
Cada palavra é um brinquedo
que nos convoca ao jogar,
usá-las, sem receio ou medo,
dizendo-as como no amar.
.
Pois a palavra é mulher,
coisa com que se deitar,
e jamais fazê-la qualquer,
comê-la sempre com olhar.
.
Às vezes, tristeza ou alegria,
juntá-las em multidão,
e fazer brotar a poesia
que voará de nossas mãos.
.
Delas jamais ser dono,
aceitá-las como puder,
sonhá-las como num sono,
tomá-las como mulher.
.
E falar, falar, sempre falar
como grávidas loucas,
e fazê-las multiplicar
no útero de nossas bocas.
.
E depois de com elas dormir,
palavras que nos consomem,
livrá-las, deixá-las ir,
calar-se e tornar-se homem.
Praça/Frango, 10 de dezembro de 2007

Por na grafia



Minha língua são minhas palavras
Com elas te beijo a boca
Com elas te faço escrava
Com elas te deixo louca
Frango, 10 de dezembro de 2007




segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Dois poetas e uma pescaria


El poeta es un pescador, no de peces, sino de pescados vivos:
entendámonos: de peces que puedam vivir después de pescados.
Antonio Machado, Habla Juan de Mairena a sus alumnos
Pescado em Pescados Vivos de Waly Salomão, Ed. Rocco
Já o cartão manoelino foi capturado enquanto voava, qual passarinho de Barros, pelos ares da Internet

Ainda, e mesmo assim.


Sou só um homem comum,
e não sei bem o que digo.
Entre outros, só mais um
sozinho, meu pior inimigo.
Do querer desconhecido,
navegado por meu desejo,
só me vejo depois de sido,
só sou onde não me vejo.
.
Gostosuras ou travessuras,
abóbora de meu Halloween,
sou comum, sou coisa impura.
.
Sem começo e sem ter fim,
arcanjo de minha loucura
sou as carnes que ardem em mim
.
Erasmo, por Metsys
Mas sou, ainda, e mesmo assim.






quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Quiseras e quimeras

Sonhar-te é supor-te,
minha querida.
Pernas abertas,
exposta ferida,
mulher desperta,
oferecida.
Gemidos, sussurros,
ais e tremores,
num nada de escuro
boca na boca,
línguas de amores.
Onde antes a roupa,
as mãos todas,
as bocas loucas.
Nos corpos, suores,
peitos arfantes,
mãos percorrentes,
amores,
amantes.
Até o de repente,
o grito afogado,
os corpos colados,
no gozo da gente.
Restados na cama,
te amo,
me amas
no amor descansados.
Até que o desejo
de novo se imponha
e um simples beijo
perca a vergonha,
e me arraste,
te faça perdida,
me apresse
pra de novo,
logo em seguida,
ser eu em você,
minha querida.
.
E de sonhar-te em sonhar-te,
quem sabe consiga
antes que tarde,
nesse incansável buscar-te
ter de verdade
a sonhada querida
deitada comigo
por toda a minha vida.

Para as lindas imperdoáveis

Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme
(Comum, embora...)
Ah, quem me dera ir-me!
Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que não presumes...
Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais: cuidado...
Ah, quem me dera ver-te!
Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te...








Vinícius de Moraes, poeta
Poema: Mais que perfeito

Desejo, Morte e Caramboloas


Neste blog tem de tudo.
Tem poeta de muita pompa,
um autor meio posudo
e um monte de coisa tonta.
.
Tem amores, alegrias,
tristezas e choramingos.
tem um pouco de zombaria,
de tudo ao menos um pingo.
.
Aqui me dou os direitos
e entorto a minha cachola.
E faço, com todo respeito,
do desejo minha escola.
.
Aqui já namorei a morte,
em janelas e tentações
Mas aqui fiz da escrita norte
e espanei as assombrações.
.
Aqui vivo para sempre,
às vezes me fazendo morto.
Sou passado no meu presente,
mais direito quando sou torto.
.
Aqui escrevi futuros
e pago o preço da aposta.
Jamais em cima do muro,
pelado como o diabo gosta.
.
Plantando sementes de mim,
que germinam onde não sei,
desenho meu próprio jardim
e a terra onde sou rei.
.
E vou recolhendo amigos,
leitores desconhecidos.
Alguns sempre comigo,
outros meio escondidos.
.
E assim d´esculpo um eu
e escrevo pra quem me dá bola.
Sou mais do que me doeu,
sou o Homem das Carambolas
.
Dedicado à menina da papelaria que me batizou de O Homem das Carambolas
No 5 de dezembro de 2007

Sintonia para pressa e presságio


Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Sôo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.
.
Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eias que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala
.
Paulo Leminski, poeta
(1944-1989)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Uma amizade é feita de pequenos nós

Meu segundo presente de Natal deste ano. O primeiro foi a pessoa que me proporcionou essa pequena, e bela coisa. Uma nova amiga que já chamo querida. Gracias, Alana

sábado, 1 de dezembro de 2007

Dezembro, entre o acabar e o recomeçar


O luto, a luta e o renascimento

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Para a Gilza em mim.


No momento mesmo em que encerro um ano que começou nos inícios de dezembro de 2006, esse vídeo é a maneira como achei de dizer que a presença da Gilza, suas óperas, sua Callas, sua Casta Diva, seguirão comigo, agora de janelas abertas, por onde enxergo só o luar, as árvores de minha paisagem e a vida que corre lá fora. Callas era um pouco ela, ópera era um pouco ela, Casta Diva era um pouco ela. O muito dela carregarei em mim, até o fim.

Com isso encerro ano no recomeçar um outro.

Obrigado, Inês, por ter me ajudado a embrulhar esse presente.

Feliz Ano Novo? Presente!




quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Sob o dossel de minha cama


Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
.
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de
desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O poema dos amantes anônimos



Me Basta Así


Ángel González (Espanha-1925)
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Si yo fuese Dios
y tuviese el secreto,
haría un ser exacto a ti;
lo probaría(a la manera de los panaderos
cuando prueban el pan, es decir:
con la boca),
y si ese sabor fuese
igual al tuyo, o sea
tu mismo olor, y tu manera
de sonreír,
y de guardar silencio,
y de estrechar mi mano estrictamente,
y de besarnos sin hacernos daño
—de esto sí estoy seguro: pongo
tanta atención cuando te beso—;
entonces,
si yo fuese Dios,
podría repetirte y repetirte,
siempre lo mismo y siempre diferente,
sin cansarme jamás del juego idéntico,
sin desdeñar tampoco lo que fuiste
por lo que ibas a ser dentro de nada;
ya no sé si me explico, pero quiero
aclarar que si yo fuese
Dios, haríalo posible por ser yo
para quererte tal como te quiero,
para aguardar con calma
a que te crees tú mismo cada día
a que sorprendas todas las mañanas
la luz recién nacida con tu propia
luz, y corras
la cortina impalpable que separa
el sueño de la vida,
resucitándome con tu palabra,
Lázaro alegre,
yo,
ojado todavía
de sombras y pereza,
sorprendido y absorto
en la contemplación de todo aquello
que, en unión de mí mismo,
recuperas y salvas, mueves, dejas
abandonado cuando —luego— callas…
(Escucho tu silencio.
Oigo
constelaciones: existes.
Creo en ti.
Eres.
Me basta).

Tem horas que ter é tão maior que estar...



Navegando meio sem rumo por esses mares virtuais acabei caindo em um lugar que me pareceu um esconderijo de dois amantes muito especiais, meio antigos até. Me senti um pouco invadindo algo que era, obviamente, um cantinho no beira mar internético, reservado para uma troca intensa de declarações de amor e delicadezas que só na fragilidade do amor somos capazes. Pelo que pude perceber, trata-se de um daqueles amores impossíves, cujas razões da impossibilidade não me foi dado advinhar. No entanto, ao ler os bilhetes ali trocados me veio a sensação que para aquelas duas pessoas o ter uma à outra era mais importante que o poder ou não estar juntos. Nada sei sobre eles a não ser que são belos e felizes, ainda que a tristeza do não poder ser algo mais não deixe de comparecer na história que ali se advinha. Afinal, já dizia Vinícius, todo grande amor só é bem grande se for triste. Das coisas que lá encontrei, uma me tocou mais fundo, em um certo ponto de inveja, numa vontade de que fossem minhas aquelas palavras, que fosse minha aquela mulher que as merecia. E, por uma dessas coincidências incríveis, o bilhete termina com palavras de um poema que eu gosto muito e que já devia ter colocado aqui no blog. Talvez coloque o Me Basta Asi em seguida ao bilhete de amor que posto agora e que lá recolhi furtivo. Poema e bilhete se uniram numa inveja boa que agora divido com vocês por aqui. Esse bilhete, que mantém uns poucos sentidos obscuros para nós que o lemos de fora da história, é uma linda declaração de amor, principalmente se acreditamos no compromisso com as palavras e com o bem dizer. Se um dia o roubado autor, ou a amada que mererceu as linhas abaixo, passar por aqui e, como será inevitável, perceber o roubo aqui publicado, peço que me perdoe e que saiba que apesar de toda beleza do que lá li, torço por um "quem sabe" diferente, pois o mundo anda muito carente de amantes vivendo juntos um cotidiano amoroso. Omito, por respeito à intimidade que, sem querer, invadi, o site e os nomes; em tudo mais, o bilhete lá me encontrou exatamente como copiei abaixo.


"Essa foi a coisa mais bonita que já ganhei de alguém. Digito dedo a dedo, com um aperto no peito, com os olhos molhados, numa confusão de emoções que, chego a pensar, assustam meu coração ferido. Mas me lavam a alma e todos meus por dentro. E me metem medo do demais de tudo.
Me cala uma vontade enorme de tudo que não posso e tanto queria. Me cala a beleza dos poemas trocados. Me cala a espera que espero contigo. Me cala esse sentir confuso, mistura rara que não sei nomear. Me cala o ouvido no qual não posso sussurrar, os lábios cujo sorriso não vou poder beijar, os olhos que não enxugarei, o medo que não posso abraçar e espantar de ti. Me cala o corredor onde não andarei nervoso a espera de tua volta. Me cala o não poder te olhar quando você acordar depois e o sorriso que não poderei te dar. Tudo me cala fundo.
Digito, paro, busco músicas, nada diz o que em mim é calado. O início de Tatuagem, prá ficar no teu corpo quando a noite vem, pedaços de outras letras, canções de ninar, mas nada diz tudo, nada é suficiente, nada revela o buraco que nesse momento sinto no peito, não de falta, mas de excesso, de turbilhões. Medo de explodir de tanto você.

Me calo.

Creo en ti.
Eres.
Me basta


Teu, para sempre como você quiser."


(Saturday, April 14, 2007 11:31 PM)
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Torço por vocês, meninos (os amantes são sempre meninos, pois não?)

PS. O bilhete é datado de abril, mas a correspondência continua, cheia de outras coisas tão belas como esta.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Beba das palavras


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Caminhei sempre, bêbado e equilibrista, no fio agudo das palavras, sempre belas. Nelas meu caminho se fez, se faz e se fará. Pois só as palavras existem, ainda que eu nunca deixe de ser, delas, atabalhoado aprendiz.

Objeto há


Por detrás daquele muro,
reinava a escuridão.
E uma voz, quase um sussurro
que só sabia dizer não.
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As coisas ao bater no muro
viravam o seu próprio avesso
e voltavam daquele escuro
avessadas de volta ao começo.
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E assim as coisas eram,
as coisas e as coisas não,
para todos os que quiseram
nas coisas botar as mãos.
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E de avesso em contrário,
cada qual uma coisa louca,
nasceu o vocabulário
e o homem abriu a boca.
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Mas o muro permanece,
continua a escuridão
e a palavra acontece
somente quando diz não.

A chave


Se Conociéramos

Si conociéramos el punto
donde se vá a romper algo,
donde se cortará el hilo de los besos,
donde una mirada dejará de encontrarse con otra mirada,
donde el corazón saltará hacia otro sítio,
podríamos poner otro punto sobre ese punto
o por lo menos acompañarlo al romperse.
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Si conociéramos el punto
donde algo va a fundirse con algo,
donde el desierto se encontrará con la lluvia,
donde el abrazo se tocará con la vida,
donde mi muerte se aproximará a la tuya,
podríamos desenvolver ese punto como una serpentina
o por lo menos cantarlo hasta morirnos.
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Se conociéramos el punto
donde algo será siempre ese algo,
donde el hueso no olvidará a la carne,
donde la fuente es madre de otra fuente,
donde el pasado nunca será pasado,
podríamos dejar solo ese punto y borrar todos los otros
o guardalo por lo menos en un lugar más seguro.

Roberto Juarróz, poeta argentino

domingo, 25 de novembro de 2007

sábado, 24 de novembro de 2007

Obscuro objeto do desejo


Desejar a mocinha do sétimo andar não quer dizer nada. O complicado é quando começamos a achar que a velhinha do terceiro tem lá suas delícias.
desenho: L.F. Veríssimo texto: euzinho

Manchas de mim


Eu hoje nasci novamente
um eu que ainda não sei,
um eu que não sabe ou sente
ainda o que saberei.

De mim o que resta
é coisa a descobrir.
Espiar desvãos e frestas
para não me deixar fugir.

Gostava do m´eu passado,
gostarei deste presente?
No entanto a ele condenado
vou comigo tocar em frente.

Nas manchas onde me formei
de outros tantos de mim nascidos,
vou brincar de esconde, esconde
com esse meu novo amigo.
foto: Zédu

No reino da minha menina


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Outrora eu era daqui,
e hoje regresso estrangeiro,
forasteiro do que vejo e ouço,
velho de mim,
Já vi tudo, ainda o que nunca vi,
nem o que nunca verei.
Eu reinei no que nunca fui.
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Bernardo Soares/Poemas extraídos do Livro do "Desassossego" Imitação da vida EMI,1997








Gravura: Tawfik

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Traços de minha escrita


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Continuo imerso na minha tentativa insana de dizer absolutamente nada de uma forma absolutamente genial.
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Imagem: Metsys

O Nó de todos os nós


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Caros amigos

Renoir

Se de você já não tinha
o espaço e o abraço
quando aí me retinha
o tédio e o cansaço,
como esperar agora
espaço, abraço, os mesmos,
se me coloquei de fora
e sou, de longe, menos
para tua falta de tempo,
para teu ocupar-te febril
em remendar os pensos
de nossa pátria varonil,
que ainda acreditas rosa,
ou pink, já não sei;
como querer na fossa,
nossa alegria gay.
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Ainda, e mesmo partido,
resto de mim, bagaço,
receba, meu caro amigo,
aquele abraço.

As feias que me perdoem




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Como as mulheres são lindas! Inútil pensar que é do vestido... E depois não há só as bonitas; há também as simpáticas. E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto: uma menininha que é batida e pisada, e nunca sai da cozinha. Como deve ser bom gostar de uma feia! O meu amor, porém, não tem bondade alguma. É fraco! fraco!
Manoel Bandeira

Manoel Bandeira
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Mulher Grotesca, Quentin Metsys