sábado, 31 de maio de 2008
Fim de maio
Maio foi quase terminando triste. Depois revoltou-se e virou outra coisa. Meio como eu que estou revoltado numa boa.
Hoje viajo. E viajo leve. Depois decido o que o mês foi. Tenho um mundão de maio ainda pela frente. Não é hora de batizá-lo ainda.
Por enquanto, aproveitem o Chet Baker do dia.
Vejo vocês em junho.
Delicadezas em 3x4
.
.
Sem vergonha,
ouso os poemas
que deixava na fronha.
.
Sem remédio,
me entrego à pena
e espanto o tédio.
.
Sem censura,
insisto na escrita
e afasto amargura.
.
Sem saída,
a palavra me habita,
na volta e na ida.
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Sei lá, cinco mil coisas
E não é que ontem, bem antes d´eu ir dormir, o contador me falava em 4900 e poucas pessoas. Passei o dia prá lá e prá cá, volto, clico o blog e ultrapassamos a marca do meio 10000 (já fiquei ambicioso). É muita gente para tão poucos comentários.
Mas como sei que o contador é honesto, ou seja, conta um computador por dia, não importando quantas vezes o computado entra e sai do blog, é muita gente, num ritmo que se acelera devagarinho (mas, engenheiro que fui, e sempre serei, o importante é a derivada positiva, nesse caso até a segunda derivada, a da aceleração).
Aí fico querendo entender quem são essas pessoas silenciosas que por aqui aportam. Já desisti de clamar por comentários, beijinhos, agrados e mimos no blogueiro. Nunca funcionou. As pessoas passam por aqui em silêncio. É claro que tenho umas leitoras constantes (a acreditar nos comentários, só elas deixam marcas de batom), cometadoras ou não. É claro que sei de uns outros 3 ou 4 que passam meio que escondidinhos por aqui. Mas, ainda me espanto, quem são esses tantos outros que visitam, retornam, sem fazer nem um barulhinho bom? Sei lá, sei que são mais do que benvindos.
Mas, vejamos, no 7 de abril eram 3.011 visitantes de 529 cidades. Hoje são 5.008 de 699 cidades. Ou seja, são 1.997 novos acessos e 170 novas cidades, logo, tem muita gente/cidade se repetindo. Mesmo supondo que muitos passam por aqui sem querer, num bate e não volta, ainda assim é muita gente que se repete. Por exemplo, não acho que conquisto Lisboa , mas penso que o número crescente de acessos vindo lá das margens do Tejo me diz que alguns, por lá, vêem e voltam, meio assim meio fiéis e interessados. As mesmas contas posso supor em muitas outras cidades, daqui ou dali. E é estranho essa coisa dos "leitores" silenciosos.
Ao mesmo tempo, não é esse o destino de quem se propõe autor, ainda que seja dessa coisa meio brincalhona, mas muito espelho de mim? Que os leitores te leiam, sem jamais se preocupar em te agradar, coisa que alguns poucos amigos fazem, não é esse o destino da escrita em acha pública?
Sei que é bom, como já foi pesado antes. Em um passado recente (o contador é novidade de 2008), saber que muito mais gente do que supunha minha vã imaginação passeava por aqui era coisa que me pesava, me fazia reconsiderar poemas (meus principalmente; hoje voltei a não ligar, assumindo a coisa como minha), me obrigava ao trabalho (coisa que aprendi a gostar, visto ser um preguiçoso indisciplinado por natureza e criação). Hoje já, novamente, nada me pesa e aqui me divirto comigo mesmo. Os que me dizem também se divertir são importantes (quem não gosta?), mas me divirto para aquém, e além, deles.
Sei lá, o contador me conta mil histórias, na medida exata da minha imaginação e do tamanho dos meus desejos. Mas conta, sempre mais, sempre sempre.
E com isso, me conformo de maneira suave e até gostosa, a ser esse cantador de mim que o contador me garante. Com isso, já adianto a música que escolhi para fechar o mês e comemorar os 5.000 (já vinha ficando blasé, tanto que nem marquei os 4.000) Pois mais do que contador de mim, o blog mantém esse compromisso em que se prometeu lá pelos idos de fevereiro de 2007. Aqui, eu, caçador de mim. Um dia me abato e começo tudo de novo.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Las meninas
Swingando um pouco
terça-feira, 27 de maio de 2008
Soneto no espelho
Que os amantes restaram satisfeitos.
Depois as sombras, o nevoeiro denso,
E hoje nem de sonhos o pouco é feito.
.
Neles, é como um rio que secou,
As árvores, nos dois, calcinadas,
Marcas do impossível que passou
Em um amargo gosto de nada.
.
Ficou o deserto, a triste paisagem,
O inverno eterno, as almas geladas,
O vazio e um espelho sem imagem.
.
E seguiram, com as vozes caladas,
Para o abismo, a queda, a miragem
Do amor em águas passadas.
.
Com uma dor que não se amansa,
Perdidos nos seus grãos de nada,
Saudosos da pouca esperança
E dos sonhos de contos de fada.
.
Mas pagam as escolhas feitas,
O não na boca amargada.
E na teia por eles desfeita
Resta uma aranha alucinada.
.
.
.
.
.
Se ao menos nada não fosse
Data venia
Day and Night and Day
Pelas veredas do blog
E o próprio jagunço diria:
"...o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam... viver é um descuido prosseguindo..."
O cair no sozinho do vago dá ao caminhar o sentido do prosseguir.
A vida é isso, é um "pensar que também há um direito à beleza."
Abs,
Lais
Como acabo de ficar sabendo, o blog perdeu uma comentarista com quem eu já vinha me acostumando e me encantando. Autora de comentários sempre tão bonitos, de uma sensibilidade que sempre me fez imaginar a pessoa por trás do nome, Lais aqui não mais comentará. Algo se perde nestas minhas veredas do blog, um sol se põe e tudo fica mais ser tão...
Deixo aqui o último comentário recebido dela.
Um beijo, Lais.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
As voltas que o mundo dá (Ser tão veredas)
"Quanto mais ando, querendo pessoas, parece que entro mais no sozinho do vago..." - foi o que pensei na ocasião. De pensar assim me desvalendo. Eu tinha culpa de tudo, na minha vida, e não sabia como não ter. Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas, que é a sem razão de motivo; que, quando notei que estava com dor-de-cabeça, e achei que por certo a tristeza vinha era daquilo, isso até me serviu de bom consolo. E eu nem sabia mais o montante que queria, nem aonde eu extenso ia."
domingo, 25 de maio de 2008
Deste tu idos
Em mantra ou cantochão?
Ave, Christinae!
Do Hades retornado, te saúdo,
Sem Cérbero ou vergonha
(but totally ashamed!).
Posso? Para além do Devo?
Saberei desdizer não ditos?
Pois digo que fi-los
como ex-qui-lo
hibernauta de todos os nozes.
Calado e surdo,
tento, aqui, quem sabe,
um mudo!
Ridículo talvez,
torrar em vãs palavras
minhas cãs cansadas.
Pois, devido melhor saber,
por dúvidas no estar no ser,
por dívidas a mais não phoder.
Rebento, retento!
Mais uma vez, again,
alcançar sem ti
o que, em mim,
além de teu sonho,
é de ninguém
além
do Eu.
Insisto!
Sem compromisso,
por só mais querer,
em mil palavras
de mim saber
neste esquisito de insistência,
que sulcas por tua lavra,
e que, em mim, de mim,
poderei colher.
Retorno!
Pródigo ex-prodígio explodido,
senão humilde,
que isto jamais soube sê-lo,
também sem ares
de pré-tensa explicação
de justo ficar na razão.
Pois me restam ainda
ares de coragem em tons de sacanagens.
Pois, linda alemoa,
Wo Es War Soll Ich Werden,
numa boa!
E tendo dito, ditarei
além do ontem,
prá lá de mim.
Pois,
eu sei, mas mesmo assim....
Esse poema, composto no século passado, já havia sido postado em 20 de fevereiro de 2007.
Nos tempos menos sem vergonha, minhas bobagens poéticas
se escondiam um pouco.
Hoje, apesar de ainda considerá-las bobagens, já me dou direitos
de melhor mostrá-las.
E assim foi com essa, que revi ao procurar outra coisa em o2/2007.
Achei-a perdida, assim como outras que, quem sabe, ilustro e posto depois.
sábado, 24 de maio de 2008
Palavra de Drummond
-
- A falta de Erico Verissimo
-
- Falta alguma coisa no Brasil
- depois da noite de sexta-feira.
- Falta aquele homem no escritório
- a tirar da máquina elétrica
- o destino dos seres,
- a explicação antiga da terra.
- Falta alguma coisa no Brasil
-
- Falta uma tristeza de menino bom
- caminhando entre adultos
- na esperança da justiça
- que tarda - como tarda!
a clarear o mundo.
- Falta uma tristeza de menino bom
-
- Falta um boné, aquele jeito manso,
- aquela ternura contida, óleo
- a derramar-se lentamente.
- Falta o casal passeando no trigal.
- Falta um boné, aquele jeito manso,
O Sr. Embaixador na Emílio Ribas
Além dos bolachões 78, a casa tinha uma quantidade bastante razoável de livros. A "biblioteca" era um armário embutido que ficava no quarto que eu dividia com meu irmão mais jovem. E os livros se ofereciam sem nenhuma censura do pai ou da mãe. Nada daquela coisa de que isso não é para a sua idade, ou livros proibidos (um dia conto de um que eu marquei como "proibido" por conta própria e, eu supunha, provavelmente cheio de sacanagens que atiçavam a imaginação do garoto de 10/11 anos). Sem censura, numa rua que não me oferecia uma turma de moleques para viver nela (tinha, desde aquela época, as "minhas meninas", como até hoje tenho e prefiro), com a facilidade de "morar" na biblioteca, acabei me tornando um leitor ávido e, graças a Deus, sem nenhum critério na escolha do que ler. O gostoso era a leitura, ainda desgarrada de gêneros, pompas autorais, carimbos de obras-primas etc e tal. O gostoso era a descoberta das palavras (que Lobato me ensinou mais que a escola), as viagens pelos mundos imaginados e imaginários, as aventuras que compensavam a falta de rua e molecagens.
Claro que, bem no início, comecei com Monteiro Lobato e outras obras dirigidas ao "bem menino" que eu já fui. Depois, um pouco dos livros do Edgar Rice Burroughs, ou seja Tarzan e uma África fabulosa, uma pitada de Conan Doyle e um Sherlock, que eu nem desconfiava cocainômano mas que me apresentou o fog londrino (que mais tarde, morando em Londres, descobri já não haver) e os livros de mistério, que até hoje curto. Dumas e seus mosqueteiros e até mesmo Quixote, Sancho Pança e os moinhos de vento, que até hoje enxergo com os olhos do Cavaleiro da Triste Figura. Mas eram ainda todos livros meio infanto-juvenis.
Com o tempo, aos poucos, fui apanhando livros ao léu, que lia como tinha me acostumado a ler as reinações de Narizinho, Pedrinho e Emília (sob os olhares bondosos e nada severos de Dona Benta e Tia Anastácia com seu nome de princesa russa), ou seja, buscava histórias, coisas com começo, meio e fim, que me permitissem um envolvimento com a trama e os personagens, e sonhar, é claro. E esse hábito de gostar de histórias ficou tão arraigado em mim, que nunca cresci muito para a literatura moderna, que para ser moderna teve que explodir com a antiga forma, com o contar história (como na pintura e sua terrível fase abstrata; aliás, bem feito para todos os abstratos, o tempo passou e hoje, entre os pintores da modernidade, são os dois figurativistas ingleses, Bacon (falecido) e Lucien Freud que batem todos os recordes nos leilões).
Com essa leitura desordenada li Flaubert (e nem desconfiei do peso do drama sexual/moral nele implicado), Zola, Dostoievski (sem me dar conta do peso e da amargura que seus livros relatavam, mas, é claro, deixando o "dark" que neles explodia em personagens trágicos, fosse, sem que eu percebesse, passando para dentro de mim com o poder que as palavras têm), Tolstoi (juro que li Guerra e Paz inteirinho), e tantos outros que depois soube serem clássicos. Dostoievski, por exemplo, reli quase todo em uma outra idade, quando já tinha condições de apreender melhor o seu mundo angustiado e neurótico. Mas na Emílio Ribas, eu lia, lia, lia.... E sonhava que a vida era uma aventura de folhetim (e é, de uma certa forma, como demorei a reaprender).
Mas, como o que me fascinava eram as histórias, que viravam aventuras em mundos que eu desconhecia, tempos que eu não vivi, lia, além dos clássicos, alguns excelentes contadores de histórias que nunca se tornaram nomes de peso no cenário literário mundial. Por exemplo, Somerset Maughan que, me parecia, era do agrado de meus pais, já que a quantidade de livros dele que lá havia era enorme. Li Cronin, mesmo sabendo que era tido como um escritor para moças (nunca soube porque). Jorge Amado, por outro lado, apesar de exímio contador de histórias, quase não havia lá em casa, e só vim a conhecer o moço bem mais tarde (acredito que, como ele era comunista, e seus livros muito "socialistas e sensuais", mesmo antes da Gabriela que o libertou do romance engajado para passar a falar, quase, que só das carnes morenas que a baiana tem, ele era propositalmente não comprado por meu pai, que meio que acreditava que o comunismo era uma doença grave, contagiosa e destruidora de lares, ou seja, um perigo a evitar, mesmo naquele lar já tão destruído pelas desavenças conjugais).
Entre os autores nacionais, que eram minoria na biblioteca da casa, o expoente era, sem dúvida, o Érico Veríssimo, delicioso contador de histórias que acabou ofuscado por seu filho tímido (coisas do Brasil, minhas nêgas). Me lembro de umas férias escolares de julho em que, não sei porque razões, não fomos para Santos, nas quais devorei todo O Tempo e o Vento, na época composto por três enormes volumes (O Continente, A Ilha e O arquipélago) que atualmente encontramos divididos em livrinhos menores para os leitores menores de hoje em dia (Um certo Capitão Rodrigo, que até virou mini-série na Globo, por exemplo). Ler a Odisséia, assim mesmo com maiúscula, da família Cambará, conhecer mulheres fortíssimas e independentes, como Ana Terra, acompanhar as guerras, os conflitos familiares, a decadência, ou estilhaçamento, da família, marcou-se como a minha leitura predileta daquela época.
Mas Érico Veríssimo tinha vários outros livros que fui lendo ao longo dos anos. Em 1965, eu já com 17 anos, ainda na Emílio Ribas, li O Senhor Embaixador, cuja história confesso que nem me lembro mais (o outro Érico que me marcou muito já aconteceu na minha fase de estudante de engenharia, já meio visita lá pela Emílio Ribas, em 1971, O Incidente em Antares, obra primorosa que também virou coisa global).
Mas, apesar de me lembrar quase nada do O Senhor Embaixador, me lembro que o personagem passava suas noites no escritório/biblioteca de sua casa escutando, com profundo deleite, a Partita nº 1 para Violoncelo de Bach. E como eu amava Bach (história que já contei) desde meu sofrer de amor brandenburguês, amava o Érico, e achava o Embaixador um homem muito refinado (sempre dei ás histórias um forte cunho de realidade), queria muito escutar essa Partita.
Aí vem minha vida independente, onde comprava meus próprios discos, fazia minhas próprias escolhas musicais. Vem a bossa nova, a MPB moderna pós BN, o jazz, os clássicos sinfônicos, ´ssas coisas. E, por alguma razão que Freud explicaria se eu lhe perguntasse, nunca me lembrava da Partita em questão. Tenho Partitas bachianas para violino, para piano, mas nenhuma para violoncelo. Havia esquecido o Embaixador, vestindo um robe chiquérrimo, no escurinho de sua sala/biblioteca, tomando um bom vinho ou outra coisa chique qualquer, de olhos fechados escutando Bach, enquanto se preocupava com os destinos da América Latina.
Mas com essa coisa de ficar contando historinhas de minha adolescência, rememorando coisas já tão passadas (uma das coisas boas do envelhecer, segundo entrevista recente do Umberto Eco), acabei me lembrando da tal partita. A pesquisa no YouTube não foi farta em resultados, mas prometo que vou encomendar a obra completa. Por enquanto, encerro essa postagem quase tão longa quanto O Tempo e o Vento, com o único vídeo que encontrei com a Partita nº 1 para Cello de Bach. Como o vídeo explicará, fico sem saber quem toca, apesar do vídeo, provavelmente, dar os créditos devidos. Aliás, espero que o malabarismo das imagens no vídeo não atrapalhem a audição da música.
E se um de vocês tem a Partita completa, Pipoca e eu muito agradeceríamos se nos mandassem.
A Doris do dia
No entanto, é só pesquisar no YouTube que vamos encontrar vários exemplos da moça cantando em filmes. Esse que escolhi aqui é para o deleite das mais velhinhas que eu (será que as há?), que, sem dúvida, se encantarão com o charme do bigodinho cafageste do Clark Gable.
Outro dia coloco Pillow Talk e conto a história das matinês no Cine Ouro Verde e as "ficadas" que duravam só o tempo da sessão de cinema. E os meninos aproveitam e matam a saudade do Rock Hudson, que, na realidade, adorava eles.
Sintoma em Preto & Branco
sexta-feira, 23 de maio de 2008
A alma entrelaçada dos indescritíveis
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.
Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Mensagem de outono
A coisa é longa, mas a coisa é bela. Escutem. E caminhem comigo nesta mensagem que mando, eu, à poesia.
sábado, 17 de maio de 2008
Autobiografia ligeira em várias encarnações
Já fui campineiro,
já fui carioca,
hoje estranho estrangeiro
de mui saudosa maloca.
Eu sou assim.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Anna de todos os n´s
Para Anna, para todos os amigos cariocas, para a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, minha toda saudade. Um dia eu volto!
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Estou cansado
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Estranho estrangeiro
as minhas horas
todas soltas,
nem tenho mais
os meus dias
todos tontos.
Já não teço mais
a minha eterna
e infindável colcha,
nem viajo mais
na solitária nau
de partir tão pronto.
Re-voltado campineiro,
de retorno tão canhestro,
sou pouco amante
das andorinhas que revoam
tão longe de mim distante.
E como o eterno maestro,
aventura finda,
no instante derradeiro,
me descubro, enfim,
e ainda,
um estranho estrangeiro.
terça-feira, 13 de maio de 2008
No vitrolão da Emílio Ribas
Entre os franceses havia, principalmente, Charles Trenet. E, entre tantas canções, La Mer e Que reste-t-il de nous amour?, ficaram gravadas em mim por razões misteriosas que nem Freud explica. Não acho que a gravação que aqui coloco de La Mer seja a que escutava sem entender palavra, só sorvendo a música que ainda era, qualquer uma, um mistério fascinante para mim (faltam-lhe os chiados dos discos 78 e a coisa toda me parece mais moderna do que me lembro), mas mata minhas saudades mesmo assim, ou melhor, aviva-as, já que é saudade de mim mesmo, de um outro tempo, de uma outra Campinas, muito mais do que do Charles Trenet a coisa que sinto.
A música, de sua autoria, foi originalmente gravada em 1946 (provavelmente a versão que tínhamos em casa), data que aliás corrigi na Wikipédia (versão tupiniquim) que afirmava, erroneamente, que ela havia sido gravada só em 1964 (vantagens de fazer uma pequena pesquisa antes de postar as lembranças de infância por aqui). Assim fosse, que restaria de minhas memórias infantis? Em 64 eu já era Diretor do Departamento de Politização do Grêmio do Culto à Ciência, não ouvia mais discos 78 e tinha minha própria sonata para escutar bossa-nova, jazz, tudo já em LP´s (aliás, por essa época dançavamos La Mer na gravação de Ray Conniff), um moleque metido a adulto vendido para o gosto, e desgosto, dos outros moleques como eu . Não ia perder meu tempo com franceses do gosto de meus pais. Mas, lá pelo final dos 50´s, o papo era outro e o menino bem mais puro. Gostava mais!
.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Sob o olhar de Ayan
Me he quedado sin pulso y sin aliento
separado de ti. Cuando respiro,
el aire se me vuelve en un suspiro
y en polvo el corazón, de desaliento.
No es que sienta tu ausencia el sentimiento.
Es que la siente el cuerpo. No te miro.
No te puedo tocar por más que estiro
los brazos como un ciego contra el viento.
Todo estaba detrás de tu figura.
Ausente tú, detrás todo de nada,
borroso yermo en el que desespero.
Ya no tiene paisaje mi amargura.
Prendida de tu ausencia mi mirada,
contra todo me doy, ciego me hiero.
Ángel González
domingo, 11 de maio de 2008
Para vocês, que têm sido uma mãe para mim
Para vocês, Misty, com Sarah Vaughan, em uma apresentação em Berlim no ano de 1969. A música é uma delicada composição daquele pianista brincalhão que comentamos posts atrás; Erroll Garner, e combina perfeitamente com as manhãs friorentas com que este maio tem me brindado aqui por Campinas.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Só depois
Todas as vidas gastei
para morrer contigo.
E agora
esfumou-se o tempo
e perdi o teu passo
para além da curva do rio.
Rasguei as cartas.
Em vão: o papel estava intacto.
Só os meus dedos murcharam, decepados.
Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só os meus olhos
se desfizeram, redondas cinzas.
Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há domingos?
Quero morrer, não consigo.
Depois de te viver
não há poente
nem o enfim de um fim.
Todas as mortes gastei
para viver contigo.
Mia Couto
Elis apaixonada
Nada es lo mismo
La lágrima fue dicha...
Olvidemos el llanto
y empecemos de nuevo,
con paciencia,
observando las cosas
hasta hallar la menuda diferencia
que las separa
de su entidad de ayer
y que define el transcurso del tiempo y su eficacia.
¿A qué llorar por el caído
fruto,
por el fracaso
de ese deseo hondo,
compacto como un grano de simiente?
No es bueno repetir lo que está dicho.
Después de haber hablado,
de haber vertido lágrimas, silencio y sonreíd:
nada es lo mismo.
Habrá palabras nuevas para la nueva historia
y es preciso encontrarlas antes de que sea tarde.
Coisas da guerra, minha nêga!
Lili Marlene é uma canção da guerra, a mesma que me fez lembrar meu pai posts atrás. Mas, mais que isso, ela tem uma história meio rara: foi, em suas várias versões, usada, como propaganda e provocação, por ambos os lados em conflito. Sua letra foi escrita por um soldado alemão durante a 1ª Grande Guerra (com o título de "Das Mädchen unter der Laterne" - a garora sob a lanterna) e foi musicada somente em 1938. Durante a 2ª Guerra, começou a ser usada pelos alemães (apesar da oposição de Goebbels, o Ministro de Propaganda do 3º Reich), mas foi logo em seguida incorporada pelo Outro Lado ( em uma gravação em inglês de Anne Shelton, tudo isso ainda no final da década de 30). Nos 40´s, gravada em inglês e alemão por Marlene Dietrich, firmou-se como uma música sem fronteiras, apesar de estar para sempre associada à 2ª Grande Guerra. A música, apesar de imortalizada pela Marlene que (en)cantava, teve ainda inúmeras gravações (Carly Simon gravou-a em 1997) ao longo do século XX. Acabou tornando-se um hino de um tempo que se acabou com a guerra, um sonho romântico que se tornou cada vez mais proibido na aurora dos tempos modernos que a Pax Americana inaugurou. Em 1980 Fassbinder filmou Lili Marleen, supostamente a história de Lale Andersen, a cantora de sua primeira gravação em alemão.
É justo dizer que a canção teve, em suas várias versões, letras diferentes da original, sempre ao sabor dos interesses de quem a vinculava (nos comentários coloco um versão brasileira da letra). Mas o ...Lili Marlene....Lili Marlene do estribilho nunca se alterou. Acabou virando uma canção anti-guerra, de celebração da humanidade que as guerras tentam destruir, uma bela canção de amor. E a gravação de Marlene Dietrich, o Anjo Azul que havia voado para o "nosso" lado, fincou-se como a definitiva.
A idéia da postagem veio de um comentário de Meire, lá nos idos de março, quando falei de meu pai, da guerra e de música.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Raridade
Valeu, Ramascone!
terça-feira, 6 de maio de 2008
Zé do Pipoca
O Frango, onde sou fundador, ocupante da cadeira nº 1 e único membro da Academia Penosa de Letras e Música, é o único lugar que frequentei e em que sou conhecido por Edu. Talvez porque quando lá cheguei já houvesse um Zé, e sendo o Zédu coisa de minhas intimidades campineiras de outrora, o bar teve que decidir entre o Carioca inicial e o Edu final. O fato que Zé, por lá, só havia um, esse que fotografei tempos atrás.
O Zé era uma espécie de faz-tudo informal do lugar. Limpava as mesas, esvaziava os cinzeiros, ia ao supermercado para as necessidades do bar (ou até mesmo dos clientes, como foi tantas vezes comprar meu pãozinho fresco), ficava atento aos buracos nas garrafas de cerveja que eu tomava ( e as substituía tão logo elas escoassem por ralos que nunca descobri onde se situavam) e outras pequenas tarefas. Acabava ganhando, além do que o bar lhe pagava, uns trocados da freguesia reconhecida.
Mas, conosco, Pipoca e eu, o Zé acabou desenvolvendo uma relação mais estreita. Confesso que tive pouco a ver com isso; a coisa era entre ele e Pipoca. Pipoca, desde o início, se abanava todo com o Zé, coisa que entendo causada por sentidos caninos que não sabemos perceber, mas que os faz, aos cães, profundos reconhecedores das almas puras. E o Zé se deliciava com as festas de Pipoca (que, é bom ressaltar, sendo inglês, não é de fazer festa para ninguém). Causa disso, o Zé começou a separar as sobras de frango da freguesia e trazer para o Pipoca, mas é justo dizer que a relação dos dois não foi interesseira: Pipoca gostou do Zé antes dos agrados de frango, o Zé gostou do Pipoca na primeira abanada de rabo do baixinho. Tanto eram amigos para além das sobras de frango, que várias vezes Pipoca se abanou como não é seu costume, fleugmático, ao cruzar com o Zé fora das fronteiras do bar, lá pela Praça ou pelas ruas de Barão. Eu pegava as rebarbas dos carinhos do Zé só porque era companheiro do Pipoca.
Zé havia sido um alcólatra brabo em tempos que não conheci. Desde que elegi o lugar como meu lugar de conveniência, nunca vi o Zé caindo (demais) pelas tabelas. A freguesia, os donos do bar, todos tentavam manter um controle sobre a bebida que o Zé nunca abandonou totalmente, mas que mantinha meio sobre controle durante todo o tempo que o conheci. Alguns, mais moralistas, não davam a gorjeta devida por conta da pinga que ele iria beber depois. Eu, que acredito que a renúncia ao prazer é meio que uma coisa neurótica, e em comum acordo com o Pipoca, nunca deixei de aliviar minha carteira do peso das moedas que ia recolhendo ao longo do dia em trocos variados, nas mãos do Zé. O bar tem sua cota de bêbados bem mais inconvenientes do que jamais vi o Zé ser por lá (é justo dizer que no Frango não se servia nada alcoólico a ele), chatos que nunca me serviram, nem agradaram o meu cachorro.. Mas as pessoas, sempre donas das verdades do outro, viviam a azucrinar o Zé contando dos malefícios da bebida, dos riscos para a saúde, essas coisas chatas que as pessoas dizem entre um gole e outro no bar para os bebedores mais humildes. A bebida ainda ia matar o Zé, alertavam os bebedores de famílias quase boas. E lá o Zé não bebia.
No sábado passado, lá pelas 4:00 hs da tarde, tão sóbrio como costumava estar nesse horário, o Zé decidiu ir para casa. Foi atropelado ao atravessar a avenida por um maluco que se julgava em alguma pista de corrida (e que fugiu da cena do crime).
Morreu hoje o Zé do Pipoca. O bar, eu e todos com quem falei hoje, se entristeceram. O Pipoca perdeu um amigo, eu perdi uma pessoa. Sorte do Pipoca que não sabe de nada.
A música que coloco acompanhando este post é a que, de imediato, me fala do Zé e dos zés, sem nenhum moralismo babaca. Aprendi na minha vida de botequim que é no botequim que se despede dos amigos que lá fazemos.
A vida é um tango frágil e o Zé virou pipa e subiu aos céus.
O outro mesmo olhar disse...
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E o sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Para uma nova velha amiga (2ª edição revista, modificada e desculpada)
Mas, autor responsável, tenho que pensar nos meus milhares de leitores (pretensão e água benta, já dizia vovó, não fazem mal a ninguém) e reconhecer que dupliquei-me sem razão justificativa. Assim, mantendo os Beatles, aproveito para colocar um que foi meu, como expliquei em Os Besouros de Liverpool em 22 de março próximo passado (adoro essa coisa do próximo passado), minha rendição à música que vazava da vitrola da Regina na Rua da Paz em Santos.
O Lucy in the Sky with Diamonds que, ingenuamente, escutei sem sub-textos lisérgicos, junto com toda a revolução sonora do LP onde a música se mostrava para mim, é marca para além de mim, coisa da nossa história in-comum (hoje entendo como quanto mais uma história é em comum, mais ela é incomum e universal, como os sertões de Guimarães e as mortes e as mortes de Quincas Berro D´água).
Aproveito que refaço a postagem e confesso: queria ter, quando idade eu tinha, experimentado a coisa, nem que fosse nos inocentes chás de cogumelo que me ofereciam em Mauá e que o careta em mim sempre recusou. Agora é tarde, agora estou na idade do olhar para trás, reler os traços que me fizeram o que serei amanhã. As viagens sem destino, a entrega às cores e à respiração das coisas, ficam confinadas no lisérgico dos desenhos do vídeo, que já não tenho coração (literalmente) para tais entregas. Pena, já que, apesar de filho de Dona Nise, não creio que na próxima encarnação posso tirar o atraso (e, se à Dona Nise eu der crédito, estou, como me garante um abalizado estudo que me foi maternalmente enviado, na minha última passagem por essas coisas encarnadas, fato que já relatei lá na Eununca Suméria, até hoje minha única autobiografia não autorizada).
De qualquer maneira, dos Beatles partimos, nos Beatles chegamos. A amiga continua nova e velha, e o desejo de agradá-la o mesmo.
domingo, 4 de maio de 2008
sábado, 3 de maio de 2008
Regando as palavras... mesmo que sejam as dos outros
Retrato de Barros
sexta-feira, 2 de maio de 2008
A alma de Mahler
Bruno Walter, discípulo de Mahler (que foi, talvez, o maior regente de sua época antes de passar o bastão para Bruno Walter), e quem primeiro regeu, postumamente, o Das Lied von der Erde (O Canto da Terra), dizia que essa peça, que se equilibra entre um extenso lieder e uma sinfonia era "Mahler´s most personal utterance", elogio que mantenho em inglês para me aproveitar do útero lá contido. Pois O Canto da Terra é uterino e absolutamente mahleriano.
Desde que comecei a colocar músicas no blog pensava em colocar esse movimento final do Canto da Terra, mas achava que o "vídeo" que possibilitaria torná-lo aceitável para os padrões que aqui vigoram, fosse ficar muito grande, já que só ele dura mais de 30 minutos (a obra toda tem mais de uma hora). Até já me referi a ele em algum post passado. Pois bem, chegou a hora, ou a quase meia-hora que ele vai tomar dos que acreditarem na minha palavra.
O Canto da Terra é uma peça magnífica e seu último movimento incluo entre as coisas que mais gosto de escutar. Der Abschied, O Adeus, fala da despedida de dois amigos, nos tempos em que haviam despedidas definitivas (a obra se baseia em poemas chineses traduzidos para o alemão por Hans Bethge) e é, de certa forma, também um canto de despedida do próprio Mahler, que já se sabia gravemente enfermo da doença cardíaca que o mataria em 1911. É, também, a última coisa escrita por Mahler antes que seu casamento com Alma chegasse ao fim (em 1910 Mahler consulta-se com Freud por conta de sua crise conjugal). Tendo perdido sua filha Maria Anna, em 1907, descoberto, no mesmo ano, sua condição crítica de saúde, vendo seu casamento desmoronar, Mahler despedia-se como sabia: através da música (de certa forma, a 9ª Sinfonia, escrita depois d´O Canto da Terra, e como esta jamais executada durante a vida do compositor, é uma continuação deste adeus, já que tem, de forma absolutamente serena, ainda que melancólica, a Morte como tema)
O Canto da Tera foi composto entre 1907 e 1909, entre a 8ª e a 9ª Sinfonias (Mahler chamou O Canto da Terra de Poema Sinfônico apesar de ter podido chamá-la de um sinfonia, seja pela extensão da obra , seja por suas características no repertório mahleriano Mahler usou intensamente a voz em várias de suas sinfonias), mas ele acreditava na "maldição" da 9ª sinfonia, a que supostamente encerrou a carreira de três de seus ídolos musicais: Beethoven, Shubert e Bruckner; por ironia do destino, Mahler morre depois de haver terminado a sua 9ª, e houvesse nomeado O Canto da Terra como sua 9ª, teria vencido a maldição e composto 10 sinfonias). Tanto o Canto da Terra quanto a 9ª só foram "descobertas" depois da morte de Mahler (juntamente com um esboço detalhado para uma 10ª Sinfonia que permaneceu inacabada). O Canto da Terra foi apresentado ao público por Bruno Walter, em Berlim, 6 meses depois da morte do compositor em maio de 1911.
E, talvez, pela primeira vez os mais de 30 minutos de seu belo movimento final, encontram um lugar num blog (no Youtube só achei um vídeo com os 10 minutos finais deste movimento que encerra o Poema). Minha adoração, divido-a com vocês esperando incentivá-los a comprar a obra em algum CD (existe um CD com uma versão de 1960 regida por um Bruno Walter, então com 83 anos, mas preferi essa com Georg Solti por achá-la, história a parte, mais bonita que a outra). Com um CD em mãos vocês poderão escutar essa peça sinfônica com a qualidade sonora que ela merece e que as compactações aqui necessárias comprometem.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Orfeu e Eurídice (Gluck)
Em algum lugar do passado recente do blog, postei a homenagem emocionada de Nelson Freire a Guiomar Novaes tocando essa peça da ópera Orfeu e Eurídice de Gluck. A coisa era de colocar nos nossos olhos as mesmas lágrimas que denunciaram Nelson Freire. Mas, a melodia de Gluck era de uma beleza que ouso repetí-la aqui. Da percussão do piano às cordas do violino de Jascha Heifetz, a melodia me encanta, me emociona, me toca, cordas e superfícies, com sua beleza triste, tão condizente com a friagem que prenuncia o ventoso inverno campineiro (aliás, percebam como, na única tomada da platéia, as caras lembram as que acompanhavam Nelson Freire na outra postagem). Christoph Willibald Ritter von Gluck (1714-1787) demonstra que algo na música atravessa os séculos imaculadamente. Minto pois não consigo ver, neste nosso século, uma música que nos tome tão emocionalmente quanto essa passagem de Gluck. Mais ainda, serve para demonstrar que a ópera é um conceito vasto, e antigo, já que a música de Gluck se situa séculos antes do apogeu dos autores que costumamos reconhecer como operísticos.
Mas isso é tudo abobrinha, e abobrinha não é carambola, já que a música retorna por ser linda e, agora, poder ser escutada por si mesma.