segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O Tarot do Zédu (07/01/08)

O Eremita é um dos Arcanos Maiores, cartas mais fortes, mais significativas mas, ao mesmo tempo, sempre ambíguas na duplicidade de suas possíveis significações. Diferente dos arcanos menores, sempre ligados ao naipe de onde são parte de uma viagem, um Arcano Maior se encerra nele mesmo, ou se assim quisermos, é uma etapa marcante na viajem do Tolo (primeiro dos Arcanos Maiores) da caverna donde emrge Tolo ao Mundo em seu esplendor (último dos Arcanos Maiores). Cada um deles é uma marca nesse caminho, uma encruzilhada que desafia o Tolo em nós na sua busca de sabedoria e integração com a Coisa.
A figura representa Cronos, que significa Tempo, o mais jovem dos Titãs, filho de Urano (Céu) e Gaia (Terra). Urano achava toda sua prole de semi-deuses um horror: feios, imperfeitos e, pior, feitos de carnes humanas, e os baniu para o mundo subterrâneo para que eles não ofendessem seus olhos divinos. Gaia, no entanto, ficou p. da vida e arrumou uma terrível vingança contra seu marido. Ela deu uma foice afiada para seu caçulinha, Cronos. Quando Urano chegou a noite para estar com ela, Cronos, que Gaia havia escondido, tomou da foice, castrou seu pai e jogou sua genitália sangrando no mar (aliás, na carta, a forma da foice relembra a lua crescente, e simboliza os flutuações eternas e os ciclos do tempo). Cronos liberta seus irmãos e reina sobre a Terra naquilo que se tornou conhecido com os Tempos Dourados (nada que ver com a Globo, please!). O resto do mito, quando Cronos não aceita ele próprio que tudo deve passar e engole seus filhos para não ser ameaçado, vocês procuram no Google, mas nunca é demais lembrar que Zeus será o caçula entre os filhos de Cronos, aquele que destronará o pai (Cronos, que assim repete, de maneira menos drástica, o destino de seu próprio pai, Urano) e iniciará a era dos deuses olímpicos. Cronos é novamente banido, e as lendas divergem para onde (profundezas do c. do judas, ou para uma ilha meio mares do sul), mas seja onde for, se põe pacientemente a esperar a volta dos Tempos Dourados. Enquanto espera esse tempo que nunca retornará, aprende em silêncio e em silêncio se deixa estar.
No Tarot, Cronos, o Eremita, é a imagem da última das quatro lições morais que o Tolo deve aprender: a lição do tempo e das limitações da vida mortal. Nada pode viver além de seu tempo e nada permanece imutável: e este simples fato da vida, a despeito de sua obviedade e simplicidade, é muito difícil de ser apreendido por nós, razão de muito sofrimento, cuja aprendizagem costuma vir só mais tarde na vida. Cronos é, ao mesmo tempo, o significado do tempo e a revolta contra ele. Ele aprende na solidão e no silêncio. De várias formas, ele é a imagem do próprio corpo, que fica inexoravelmente mais velho e, ainda assim, rebela-se contra seu destino mortal. A aceitação de que somos, em última instância, solitários e mortais é o dilema que todo ser humano deve encarar. A aceitação desta condição é também, de um modo misterioso, uma verdadeira separação dos pais e da infância, porque ela implica no sacrifício da fantasia de que algum dia, de alguma forma, alguém virá e, magicamente, fará tudo melhor. "Viveu feliz para sempre" é um sentimento que não pode sobreviver no mundo de Cronos. A juventude se transforma em maturidade, e aquela jamais poderá retornar; mas memória e sabedoria são destiladas pela passagem do tempo, e pelo dom da paciência.
A lição do Eremita é uma que não pode ser aprendida a6través de lutas e conquistas. O Eremita é a carta que se opõe à Força, representada por Hércules, pois a força não é capaz de parar o tempo. A sabedoria de Cronos se adquire somente com o tempo, por reflexão interior, na solidão de cada um de nós. Assim, Cronos é, de certa maneira, a imagem da humildade, que freqüentemente se aprende nas humilhações que sofremos em face do que não podemos mudar, mas que podem resultar na virtude da serenidade e paciência. Seja quão esperto for o intelecto, quão ardente o coração, quão forte o senso de identidade, as vicissitudes da vida nos derrubarão se não soubermos achar na paciência e prudência do Eremita a maneira de suporta-las e aguardar em silêncio. A face negativa de Cronos é a cristalização de uma maneira de ser que resiste às mudanças e à passagem do tempo. Mas a face criativa deste deus antigo e ambivalente é a sabedoria para mudar o que podemos, aceitar o que não podemos mudar, e esperar em silêncio até que aprendamos a diferenciar as duas coisas.
No nível divinatório, a carta de Cronos, o Eremita, aponta para um tempo de solidão e retirada das atividades exteriores da vida, de maneira que a paciência possa ser adquirida e o tempo se faça sabedoria. Aponta para uma ótima oportunidade de construirmos fundações sólidas se soubermos esperar, dar um tempo, olhar profundamente para nós mesmos. E, por outro lado, nos aponta também a necessidade de abandonarmos aquilo que nos imobiliza e impossibilita que a mudança e a novidade penetrem na nossa vida. Tempos de análise, diria eu.

2 comentários:

Anônimo disse...

Por coincidência , na sua síntese, se assim posso dizer estava o fragmento que extraí como algo que tento alcançar calmamente...

"Mas a face criativa deste deus antigo e ambivalente é a sabedoria para mudar o que podemos, aceitar o que não podemos mudar, e esperar em silêncio até que aprendamos a diferenciar as duas coisas.
No nível divinatório, a carta de Cronos, o Eremita, aponta para um tempo de solidão e retirada das atividades exteriores da vida, de maneira que a paciência possa ser adquirida e o tempo se faça sabedoria. Aponta para uma ótima oportunidade de construirmos fundações sólidas se soubermos esperar, dar um tempo, olhar profundamente para nós mesmos. E, por outro lado, nos aponta também a necessidade de abandonarmos aquilo que nos imobiliza e impossibilita que a mudança e a novidade penetrem na nossa vida. Tempos de análise, diria eu."

E eu também....mas vc disse está muito bom!!

Bj

Meire

P.S. Tinha feito um comentário e ele desapareceu. Seria algo da conspirando contra ele? rsss

Anônimo disse...

corrigindo ...

P.S. Tinha feito um comentário e ele desapareceu. Seria algo da carta conspirando contra o que eu disse por meio de suas palavras? rsss