quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O blog tirou férias


Feliz Natal a todos!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Pirata de Pindamonhangaba


Nem sei se vocês repararam, mas comecei a postar os vídeos a partir do YouTube. Ou seja, invento os filminhos como sempre fiz, alguns bonitinhos, outros devendo em imaginação, paciência e técnica, e faço o upload dos mesmos no YouTube antes de colá-los à postagem que me interessa. E faço isso por duas razões principais: a) é mais rápido o processo de upload no YouTube do que por aqui no blogger; e, b) o YouTube virou outro lugar onde zedupoca exerce o exibido que lhe é natural (e onde, alvíssaras, até homens me comentam).
Mas, como venho descobrindo, lá os "donos das músicas" são muito mais atentos, e chatos. E a pirataria, às vezes, é punida e proibida. Como aconteceu com um vídeo que postei aqui nos tempos em que o aqui vinha primeiro. A música era What´s New com Billie Holliday (antes só os donos da Elis ou do Tom, nunca vou saber, haviam me proibido de colocar o Soneto da Separação como eu havia feito em casa). Pois é, meses depois a coisa foi vetada por lá, os donos dos direitos me proibiram de veicular o filminho com a música deles. Me pegaram de surpresa, pirata denunciado, bucaneiro de calças na mão. E lá se foi, banido para o fundo da popa do galeão, ou pior, condenado a andar em alguma prancha internética, minha pobre pirataria, minha usurpação dos direitos de outrem.
É bem verdade que em várias outras ocasiões os donos das músicas já haviam comparecido, deixando claro que a "nêga" lhes pertencia mas, ainda assim, generosos, me permitiam continuar a usá-las em minhas inconfessáveis razões youtúbicas. Coisas que meu amigo Jorge entende e defende, essas coisas do direito aos passarinhos que nos caem nas mãos ou nos ouvidos Eu, pirata, me confesso e sigo em frente, busco outras caravelas para abordar, outras pepitas para roubar, outros tesouros para usurpar, covardemente internético, ousadamente corsário, insistentemente bucaneiro.
Se ainda me barrassem pela má qualidade dos vídeos que associo às músicas, ainda entenderia. Afinal, a coisa é sempre estética mais do que ética. E eu devia aprender melhor as imagens antes de juntá-las com as músicas lindas. Mas não, a coisa é só um exercício prepotente de um direito "intelectual" à obra, um deixar claro que nas nêgas deles não posso por a mão e, absurdo, demonstrá-las, com as roupinhas com que as enfeito, para minhas poucas dezenas de youtubeouvintes.
Assim, barrado do baile da Billie, meio assim p. da vida, criei outro filminho quase igual, mesma imagem, mesma música, só que agora tocada no sax gentil de John Coltrane. Fiz, uploudei e, os donos do Coltrane reivindicaram posse mas me concederam a graça de exibir minha pequena obra-prima nos ares dos tubos de vocês.
E Pindamonhangaba, o que tem a ver com tudo isso? Bom, ter até que tem, mas conto outra hora. E até já sei com que música retomarei minhas lembranças de Pinda, meu estágio final antes de virar o engenheiro que nunca me tornei. Aguardem, Pinda will return!!
Por enquanto, fiquem com meu único vídeo feito só de raiva. Ficou a cara de seu motivo. Mas a música é linda, Coltrane um gênio e, principalmente, o blog precisa andar um pouco por dia.


segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Poema recolhido

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Eu vou guardar cada lugar teu

ancorado em cada lugar meu

e hoje apenas isso me faz acreditar

que eu vou chegar contigo

onde só chega quem não

tem medo de naufragar...

Mafalda Vega
Para A. Q.
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domingo, 14 de dezembro de 2008

Nós entre laçadas


foto: Inês

Quiero que sepas
una cosa.

Tú sabes cómo es esto:
si miro
la luna de cristal, la rama roja
del lento otoño en mi ventana,
si toco
junto al fuego
la impalpable ceniza
o el arrugado cuerpo de la leña,
todo me lleva a ti,
como si todo lo que existe,
aromas, luz, metales,
fueran pequeños barcos que navegan
hacia las islas tuyas que me aguardan.

Ahora bien,
si poco a poco dejas de quererme
dejaré de quererte poco a poco.

Si de pronto
me olvidas
no me busques,
que ya te habré olvidado.

Si consideras largo y loco
el viento de banderas
que pasa por mi vida
y te decides
a dejarme a la orilla
del corazón en que tengo raíces,
piensa
que en ese día,
a esa hora
levantaré los brazos
y saldrán mis raíces
a buscar otra tierra.

Pero
si cada día,
cada hora
sientes que a mí estás destinada
con dulzura implacable.
Si cada día sube
una flor a tus labios a buscarme,
ay amor mío, ay mía,
en mí todo ese fuego se repite,
en mí nada se apaga ni se olvida,
mi amor se nutre de tu amor, amada,
y mientras vivas estará en tus brazos
sin salir de los míos.

Pablo Neruda

sábado, 13 de dezembro de 2008

Gilza por detrás da Lua


São raros os dias em que não me lembro dela, nem que seja por alguns segundos, no antes de dormir, no momento da avaliação do dia e, principalmente, no de sonhar o amanhã. Mas sempre é uma coisa fugaz, um pensamento que vem e se assopra fora por si mesmo. Não tenho lembranças insistentes, só as que quero lembradas e as que me referenciam nessa vida que inaugurei depois que a morte nos separou.
Mas hoje foi diferente, hoje é data marcada, a ferro e brasa, em meu calendário perpétuo. E, hoje, com ela meio cicatrizada, estava eu no Frango, solitário como fazia muito tempo não me permitiam os chatos do lugar. Caderno em punho, cerveja gelada, Pipoca particularmente carente e demandante (sabia? às vezes penso que esses bichinhos são mais do que os supomos e sabem das coisas que nos vão pelas almas), IPod no ouvido,
Antonio (bela recomendação de Nina) para ler, a noite começava com uma tentativa de fazer dela uma outra noite no Frango, igual a tantas outras, só aproveitando a solidão, atualmente tão rara por lá, para deixar vazar os pensamentos e, quem sabe, algumas linhas escritas de que ando tão saudoso. O livro permaneceu fechado, os ouvidos atentos, mais ou menos flutuantes, a sede de sempre sendo aplacada, ela comigo naquilo que dela em mim restou.
De repente, assim sem que eu esperasse, uma baita lua cheia clareou o detrás das árvores que de lá se avistam. E a traquitana ipódica, meio como em combinação com os astros, começou a tocar Nana Caymmi, na Voz e Suor que gravou com César Camargo Mariano. Aí me rendi, cometi soneto, eu que vinha seco e mudo nas coisas da escrita.

O soneto já postei, no bom ou ruim que não me interessa, na certeza de tê-lo feito pra Lua, não a minha em Escorpião, mas aquela que me surgiu em Barão no dia da morte dela. Invadiu-me, a lua, os espaços de uma minha janela imaginária, a mesma que tanto me assombrou no logo após do acontecido, a mesma que me fez pensar, sempre, nessa mistura insólita do Desejo, Morte e Carambolas.
Pois a Lua fez-se, da maneira que só uma enorme lua cheia é capaz, anteparo da janela que, da Lua em diante, nunca mais restará aberta para um nada. A minha janela que não era mais a dela.
Aí, quando me dei conta do muito que havia mudado, do caminho já bem andado, da alma assossegada, Nana assoprou em meus ouvidos Isso e Aquilo. E percebi que, fosse como fosse, era ela quem cantava, isso e aquilo, sobre a ferida que não mais doía e a libertação das promessas que descumpri. E era ela, só podia ser ela.
Pois se dela aprendi as árias que não conhecia, a possibilidade da ópera que não tive tempo de saber saborear, Voz e Suor foi a disco que ela marcou de mim, desde o início de nosso conhecimento, CD que tocava com uma insistência que era só dela, no carro, na casa dela que depois virou um pouco minha, sempre que ela tinha a chance da escolha. Por isso, Isso e Aquilo soou como recado dela, como um cantar que vinha por lá detrás da lua cheia, falando da ferida que nunca mais doeu, nela.
Terminei sozinho na mesa do bar até ser delicadamente expulso por urgências que a isso tudo desconheciam. Em casa, com a Lua ainda anteparando a janela, compus o filme que aqui posto, esse Isso e Aquilo que ela me disse, só porque sempre gostou de mim. Pipoca parece que entendeu, se aquietou. Eu, me emocionei e vou pensar n´Isso.
Vocês? Sei lá.




sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Soneto da Lua Cheia


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A morte me jogou para a vida
A vida me tornou ao contrário
E a morte permaneceu ferida
Sangrando nos aniversários.
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Destes dois anos aqui passados
Só não passa a lembrança dela
Mas, hoje, de madrugada acordado
Uma lua me antepara a janela. .

E me espanta, invade, é cheia
Ilumina, impede e me convida
Para uma vida pra além da teia
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Onde a morte reste dormida
E a lua seja sempre candeia
Por todo o resto de minha vida.
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Em memória de Gilza
30 de outubro de 1950/12 de dezembro de 2006

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Cicatriz

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Dela tomei o gesto e o gosto torpe,
a tempestade e o sangue,
o grito surdo, a palavra muda,
o terror e o vulcão voraz
a infinita surpresa atônita

Nela, sorri felina verdade,
amargo encontro desencontrado,
o olhar negado, o recolhido gesto,
um antes acabado
em sabor de resto
e o oferecido pulso, cicatrizado.

Dela tomei a seiva rubra
escorrida, coagulada
e o colar sem pérolas,
tatuagem riscada;
a corda, o quase, e o talvez falhado.
Inconfidência enforcada,
vergonha, nudez, nada.

Dela inventei um gosto
roto,
de boca não beijada,
de solitário arrepio de um abraço
nunca dado;
a dor, o amor e o fracassado

Nela, restei e vi
a desistência,
e desisti de repetir
o acordar maldito,
o terror não escrito,
os pontos cegos.
E aprendi estranho Isso
que nela ouvi.

E nela, fiz-me
novamente again
pela primeira vez.
Insistência atenta,
tateares tontos,
bêbados passos,
precários equilibrares,
equivocado no oco
louco
que nela vi.

Por ela um eu passou-me
e fez-se pra trás, distante
deste outro mesmo agora diferente,
que o, dela, instante,
equilibra abismos,
e vive muito bem
dela pra frente.

Dela, guardo meu presente
e sou, eternamente,
do gesto heróico,
bardo redundante.

Por ela, sigo adiante.

E ela nela restou.
E dela só ela sabe o sabor
desta história dela
que em nós queimou.

Nela, aposto um risco
que, valendo-me a pena
será, dela, nosso petisco.

E, por ela, me arrisco!


Um dia qualquer do último setembro do último ano do século passado
Postado no final de fevereiro de 2007

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Anta lógica

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Se os poetas de verdade
Podem propor-se antologias,
Um poeta pela metade
Por que não poderia?

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

MEU AMOR ME AGARRA & GEME & TREME & CHORA & MATA

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Quando fui para o Rio em fevereiro de 1972, depois de um breve período na Rua Corrêa Dutra (onde escutei o Cais que aqui já postei), mudamos (Itiro, João, Sérgio Paulo e eu) para um apartamento na Rua Almirante Tamandaré. O apartamento era um daqueles típicos apartamentos antigos, da época que Flamengo e Catete eram bairros chiques; quatro quartos, sala enorme, ´ssas coisas que, em 1972, 3 estudantes de mestrado e um professor podiam sustentar sem que fosse um luxo. Nele realmente comecei a viver minha vida carioca, o deslumbre com as meninas, bem mais dadas do que haviam me acostumado as campineiras, o Filé à Francesa do Lamas (ainda no seu local original) e, confesso envergonhado, por pura preguiça, a Praia do Flamengo com suas águas já imundas.
Daquela época guardo inúmeras recordações, algumas inaugurações e, até mesmo, uma paixão. Eram outros tempos, quando só com minha bolsa de mestrado eu bancava gasolina do carro, os eventuais motéis (grande novidade que só fui conhecer no Rio), as cervejas e filés diários no Lamas, onde Firmino, nosso garçom, nos fazia furar fila e sempre dava um jeito para que não esperássemos muito por uma mesa.
Na esquina de casa, ou seja, na Almirante Tamandaré com Rua do Catete, havia uma pequna galeria, com lojinhas simples de todos os tipos. Em uma delas eu passava quase que diariamente para verificar as novidades em LP. Um dia comprei o LP de Jards Macalé que ilustra este post.
O Lp era um biscoito fino. Músicas de Macalé com Capinam (grande letrista que morreu muito jovem), com um grupo pequeno e super afiado de belos músicos. Foi neste LP que conheci Movimento dos Barcos, música que depois marcou de maneira definitiva meu adeus à vida de solteiro no Rio e minha mudança para a Senador Vergueiro onde havia alugado um apartamento para casar.
Anos mais tarde, quando ainda era suportável assistir o Programa do Jô Soares, escutei uma entrevista com Macalé. Como artista, Macalé sempre foi meio maldito, por não fazer concessões numa época em que as concessões foram se tornando quase que obrigatórias. Em um determinado momento, Macalé se refere ao LP em questão e afirma que, segundo a gravadora, foram vendidos só 14 exemplares do mesmo. Morri de orgulho de, pela primeira vez, estar em um tão seleto, e pequeno, grupo. Pena que o LP sumiu de mim junto com os outros quase 2.000 que já tive.
A música do filminho é do LP, composição de Macalé e Capinam, e sempre foi uma das minhas favoritas. Com ela descobri que meu amor não passava de um tigre de papel e me despedi do cais para seguir viagem no movimento dos barcos. Até hoje não aportei direito.
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Diminueto

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Minha pena é meu tinteiro
A mesa, meu tabuleiro.
Rabisco de próprio punho
Por inteiro sou rascunho.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Fado

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Um amigo acaba de voltar de Portugal. Aliás, vários amigos têm voltado de Portugal. Alguns, entretanto, nunca voltaram já que, como diriam nossos amigos de lá, nunca foram. Mas, brincadeiras à parte, os que lá têm estado retornam encantados, com a terra, as gentes, a comida, etc. Mas esse amigo em particular voltou com uma sensação estranha: descobriu nos seus dias na terrinha que carrega um português dentro de si. E, como diz ele, esse português em seu peito é um homenzinho triste, meio melancólico, coisa que lhe assustou e desagradou um pouco. No entanto acredito que meu amigo só descobriu o que qualquer brasileiro com um pouco de sensibilidade acaba descobrindo quando se deixa levar pelos ares, aromas e músicas de Portugal.

Pois, livrar-se do português em nós, quem há de? Bem que tentamos esquecer nossas origens, a alma que herdamos, a língua que é deles e nos conforma, a saudade que nos orgulha enquanto palavra e nos marca todos os sentimentos. E, tem razão o amigo, o português é meio triste, assim melancólico, de olhos sempre voltados para o mar esperando o retorno de D. Sebastião, o que nunca virá. E disso diz bem a música que por lá se canta com as entranhas.
Claro que por aqui, sob esse sol tropical que nos espanta as tristezas mais sombrias, essa melancolia fica escondida no fundo bem fundo da alma brasileira, retemperada pelos índios e negros de nossa formação, pelas demais misturas, por nossa malandragem macunaímica, pelo infantil alegrinho que insistimos em ser. Mas, olhando bem, todos temos esse portuguesinho escondido em algum canto d´alma.
Eu, que já elaborei por aqui sobre o chorão em mim, redescubro a matriz onde se imprimiu o Chorão da casa do Bosque. E aceito meu fado.
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sábado, 6 de dezembro de 2008

Provérbio pró verbo.

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Morrer é fácil.
Difícil é ressuscitar.

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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Primeiras letras

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Profunda idade

Nada como Pessoa, navegado qual Paulinho,
Faço do blog odisséia de onde retornarei.
Se ainda a tortos caminhos,
Ao se chegar me saberei.

Nas teias com que me tecem,
Nas sereias que enlouquecem,
No umbigo em escravidão,
Espero, que finda a jornada
Aqui já não reste nada,
Nem sonho, nem assombração.

Se hoje sou quase morto,
Se vivo, me erro torto,
Navego para um litoral
E blogo com todas as velas,
Pintando, em quase aquarelas,
Com tintas que sabem sal.

Nas areias que chegarei,
Não quero sexta, nem feira.
Retrato de Dorian Gray,
Em cinza, para não ser bandeira.

No meio de todos ausente,
Nas grades não verei prisão,
Que a verdade a gente mente
Pra, do eu, prestar a-tensão

De mim mesmo serei alcaide,
De meus desejos não saberei.
De Profundis, Oscar Wilde!
Salomé, viva meu rei!
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Bar do Frango, 14 de fevereiro de 2007

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Um soneto e um quarto

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Gostava de morar na tua pele
desintegrar-me em ti e reintegrar-me
não este exílio escrito no papel
por não poder ser carne em tua carne.

Gostava de fazer o que tu queres
ser alma em tua alma em um só corpo
não o perto e o distante entre dois seres
não este haver sempre um e sempre o outro.

Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum
tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém
seremos sempre dois sendo só um.

Por isso esta ferida que faz bem
este prazer que dói como outro algum
e este estar-se tão dentro e sempre aquém.

Manuel Alegre, Sete Sonetos e um Quarto
Para, com e de Inês
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sexo é política ou Calabárbara


Um post leva ao outro nesse aleatório em que se estabelecem minhas carambolas, meu desejo e, ao fim, as mortes que me constroem. Da tatuagem anterior, sem perder o espírito, antigas politicagens encontram seu caminho. Ainda com o belo poema anterior em mente, brinquemos de fazer alguma política tardia, só para retornar, em música, versos e imagem, aos corpos tatuados, ao desejo de carne viva.
Em 1973, Chico e Ruy Guerra, brasileiro e português, escreveram Calabar, O Elogio da Traição. Falavam do papel relativo dos mocinhos e bandidos durante a ocupação holandesa de Pernambuco e arredores. Dos portugueses broncos e dos iluminados pelo Príncipe de Nassau. Coisa sérissima naqueles anos de chumbo dos militares "portugas" que nos salvavam a pátria. João Caetano, o teatro, pronto, a peça anunciada, o Rio antevia o Fado Tropical que lá se cantaria. A peça foi, é claro, absolutamente censurada, em nome da boa política e, principalmente, dos bons costumes.
Pois as músicas que ficaram, e que Chico teve que gravar em um Lp não chamado Calabar, mas Chico Canta e ponto (se me lembro bem, ainda comprei o LP com o nome Calabar impresso na capa; os milicos eram burros e meio lerdos), falavam de amores, bárbaros e bárbaras, de tatuagens, e de alguns "cala a boca"´s amorosos (Fado Tropical, pedido que um dia acatarei, é uma das poucas músicas diretamente políticas que permaneceram). Algumas das peças mais pungentes, sexualmente falando, da obra de Chico, vieram deste manifesto político que ficou calado para sempre. O político ficou mudo, para os que não sabiam escutar, mas a tatuagem marcou-se nas peles de nossos amores.
Ou seja, mais uma vez o sexual foi a revolução que não se calou, ou pelo contrário, foi aquilo que, em nós, fez-se calado, apesar da burrice da censura, da estupidez do moralismo que exercitava então. Alguém se lembra do general de plantão? Mas as marcas no corpo, que queriam ficar como tatuagem, até hoje estão impressas em nosso imaginário amoroso.
E, dada a postagem anterior, aqui venho demonstrar que política é desejo, o tesão revolucionário, e a fome dos corpos eterna.
O Brasil ainda será um enorme Portugal?
Ainda não existe pecado do lado de cá do Equador?
Quem calará a voz de Bárbara?
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Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes...

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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Tatuagem

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Te propongo esta noche
llegar a un acuerdo,
un diálogo entre mi cuerpo y tu cuerpo
una conversación sin palabras,
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Te propongo un pacto de susurros,
una tertulia de gemidos,
un monólogo de gritos,
que todo lo que no dijimos
en la piel permanezca escrito...



Gloria Bosch

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Releituras



O Farol dos Olhos Teus

Na ilha onde me habito,

frequentam as gaivotas.
E trazem, presas aos bicos,
ao invés de folhas de louro,
mensagens, pequenas notas,
preciosos grãos de ouro.

Notícias do mar além,
onde em terras distantes
residem meus todos bens.
Bússolas de norte constante,
consolos deste ser errante,
avalistas de meu ser alguém.

E, nestes esperados instantes,
que me trazem as gaivotas,
ouço músicas, nunca o bastante,
fugas, prelúdios, gavotas,
doçuras para meus ouvidos,
alívio para um meu castigo.

Que aqui naufraguei por besteira,
pensando em uma vida nova.
Mas sem um meu sexta-feira,
escrevo essas poucas notas,
pobres versos em tom de trova,
que devolvo às gaivotas.

E assim, do Frango à Praça,
vou habitando esta ilha,
errando pelo rés da praia,
prisioneiro, meio sem graça,
desta imaginária Tordesilhas,
aguardando que o dia raia.

No movimento dos barcos,
da janela de meu quarto,
espio por detrás da porta,
ali onde Inês era morta,
onde sonho novo momento,
eu, ela, e todo o sentimento.

Invento um cais,
e quero mais.


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domingo, 30 de novembro de 2008

A gota d´água



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Podemos falar dos sentimentos, descrever
as impressões que nos ameaçam, e revelar o vazio
que se descobre na ausência um do outro: nada,
porém, é tão inquietante como a dúvida,
o não saber de ti, ouvir o desânimo na tua voz,
agora que a tarde começa a descer e, com ela,
todas as sombras da alma. É verdade que o amor não é
apenas um registro de memórias. É no presente
que temos de o encontrar: aí, onde a tua imagem
se tornou mais real do que tu própria,
mesmo que nada te substitua. Então, é
porque as palavras são supérfluas; mas como viver
sem elas? Como encontrar outra forma de te dizer
que o amor é esta coisa tão estranha, dar o que nunca
se poderá ter, e ter o que está condenado
a perder-se? A não ser que guardemos dentro de nós,
num canto de um e outro a que só nós chegamos,
sabendo que esse pouco que nos pertence é
tudo o que cabe neste sentimento
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Nuno Júdice


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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Fundação

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Tenho, ainda, o teu corpo nos meus braços;

Sobre os meus ombros, teu cabelo.

Descansando dos meus e teus cansaços,

Tu dormes por nós ambos. Só eu velo.



Nos meus braços teu corpo estremeceu,

Desse tremor o meu foi percorrido.

Colados, curva a curva, onde começa o teu?

Onde se acaba o meu? Teu e meu têm sentido?



Teu ligeiro suor penetra a minha pele:

Teu suor dos transportes de há momento

Que me atrevo a provar como quem lambe mel,

Em que refresco as mãos como num leve unguento.



Brandamente, por vezes, te desvio

De mim, para melhor, depois, sentir

Que és bem tu que eu agarro, acaricio,

Bem tu que eu pude, em mim, fundir.


José Régio
com Inês

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Traçado on the rocks

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E. Hooper

As belas, e as feias, que me perdoem, mas botequim é coisa de homem. Apesar dos tempos igualitários, das nossas (homens) necessidades de tê-las por perto certas horas, botequim, no fim das contas, continua coisa de homem. Ou vocês conhecem algum que, cheio de freguesas, olha estranhado para um homem que entra? Ou uma mesa de botequim com zentas moças e dois moços fazendo figuração enquanto elas discutem "coisas de mulher"? Ou algum botequim onde a moça, no meio de um porre inesquecível, pelo menos até o raiar do próximo dia, fecha o bar bebendo um eterno "mais um" com o dono/gerente da casa, ou com o garçon anônimo sem intenções de tracá-lo after hours? Houvessem os botequins das moças, eles não durariam muito, invadidos que seriam pelos caçadores desocupados. Mas, botequim que se preza não é território de caça e, por isso, continuam coisa de macho. Botequim não é barzinho, nem point, nem castelo de Caras, muito menos "espaços culturais", apesar de não conhecer outro espaço tão cultural quanto um botequim, como tento demonstrar nesta postagem.
Não que isso seja uma vantagem dos homens, até porque são coisa de macho por que neles impera a Mulher, nas conversas, nas confissões, nos choros, nas ironias falsas, em tudo aquilo que só um bando de macho sustenta no faz de conta que os alivia. Uma mulher, real, de CPF e lousa e tal, só atrapalha a nossa eterna ligação com a "Mulher", essa mesma que Lacan insiste em dizer não haver e que, nós homens, teimamos em sofrê-las com o se fossem as pequenas mulheres de nossos desenganos. E toma dor de corno, especialidade de qualquer botequim que se preze, mesmo quando para não falar deles falamos de mil outras coisas, futebol, mulher dos outros, outros cornos, mal do PT, sociologia profunda sem colarinho, amizades fundamentais que nunca ultrapassam a porta de saída do bar, etc e tal.
Pois dor de corno é outra coisa que só homem sente. Talvez porque as mulheres tenham sido feitas, por definição, para serem "traídas", sendo as aspas em questão as aspas que sempre colocamos nas constantes eventuais traições que, nós homens, cometemos; ou seja, elas não são nunca corneadas, vivem o, delas, destino. "Traímos", mais das vezes, sem amor, da mesma forma como somos capazes de fazer sexo ou seduzir moças, só para nosso solitário divertimento, ou para a prova do teorema de nós mesmos, ou para contar aos amigos no botequim. Diferente das mulheres, que sempre traem por amor, só dão por afeto, isto é, traem, colocam chifres, nos arrasam a masculinidade pressuposta, nos injuriam a testa, dividem o nosso amor (não conto aqui as sem homens, que são mais fáceis mas, por definição, nunca têm quem trair). Daí o fato de um belo par de chifres ser coisa só dos veados machos, como a própria natureza nos ensina (o que, levado às últimas consequências da analogia, nos faria, homens, todos meio veados, coisa que sabemos ser vera, por nossa, homens, impossibilidade de querermos outro sexo que não o nosso, isto é, o grande defeito das mulheres, aquilo que nos faz, em última instância, veados misóginos, é que elas nunca serão nossas companheiras de botequim, nosso templo mais sagrado (homem que não gosta de botequim? los hay, mas .....) - importante para a argumentação: botequim é diferente de "barzinho", essa coisa modernosa onde homens e mulheres bebem cerveja juntos e ninguém fica after hours chorando no Balcão).
Não sei se vocês, queridas leitoras (onde andarão os meus leitores machos? ou, como quase me garantem olhares e sorrisos dos botequins que frequento, blog é coisa meio assim "Diário da Margarida"? Qui lo sá, Vardemá!) me acompanham na concordância, mas that´s it, like it or not!. Botequim e dor de corno são coisa de macho! E se aqui não fiquei bem provado a culpa é da exiguidade do espaço, e do saco, já que o espaço é meu, que me impedem tratado mais bem fundamentado, em alongamentos (não, nada que ver com aqueles que vocês, mulheres, fazem nas academias, coisa de mulher e boitolas). Dou os pontos como provados e continuo.
Mas, em sendo coisa de machos, botequins e dor de cornos variam no de acordo com a linguagem do macho em questão, com o Outro que o determina em intimidades sociais, num reconhecimento que a histeria das mulheres jamais será capaz (as mulheres tendem a acreditar num Outro possível que encontrarão no próximo romance, enquanto os homens sabe que eles não são Ele, nem nunca serão, merda!). Ou seja, apesar do botequim ser o templo onde ofertamos em público as nossas dores, doemos na linguagem, na especificidade de um Outro que faz social com a gente (e até conosco bebe cerveja), nessa intimidade desconhecente que a cultura permite e determina.
Vejam, por exemplo, Frank e Nelson, ou Sinatra and Mr. Gonçalves. Vejam as músicas, a elegância swingenta de um versus o esculachado tango do outro, o papel do botequim do carcamano de olhos azuis (a conversa solitária com o moço detrás do balcão no final da noite) e o do cafona brasileiro a convocar mais e mais gente para afogar, em bebida e confissões públicas, suas respectivas dores de corno (aqui me corrijo, antes que fique a impressaõ de que trocamos dores de corno uns com os outros em uma mesma noite; nada mais falso! a cada dia o corno da hora é exclusivo e pode contar com a total solidariedade dos outros homens na mesa, até que o dia raia, se vá dormir e o amanhã determine um outro corno, que não tem coisa mais chata do que o corno constante).
O que os une, solidários, no balcão do final de noite, ou pagando a rodada dos desconhecidos e amigos, é a solidão que Hopper expressa. No caso de Sinatra, uma solidão que se revela na música e no desacompanhamento; no caso de Nersão, no tango rasgado, bem mais visceral, e no convite à multidão botequinesca que consome com ele sem, no fundo, fazer suas dores consumidas. Em ambos, uma mesma solidão, que as dores são sempre assim, particulares, mesmo quando as fazemos semi-públicas.Há sempre um depois do botequim, uma cama vazia, uma lembrança vadia, um encontro com si mesmo, Sinatra ou Nelson.
Poderia elaborar ainda muito mais, falar das mulheres que só fazem fundo para Nersão no filminho, as mesmas que aqui, e lá, têm o botequim como impedido, dos homens solitários de Frank, e da mesmice da solidão em suas duas vertentes. Mas, se vocês prestarem atenção, o filminhho diz tudo, das diferenças e das mesmices, e, principalmente, das dores e igrejas dos homens de todos os tempos.
E chega de sociologia barata que barata é coisa de botequim, mesmo que nunca apareçam nos filmes de Hollywood. As via aos montes no Leblon, quando fechava o bar trocando papos ébrios com o Azeitona que me patronava. Hoje quase não as vejo no Frango, talvez por me faltarem as dores de corno que as atraem. Mas, vivido, elaboro, sobre botequins, homens, músicas, imagens, baratas e amores mal passados. Na falta de água benta exagero na pretensão, coisa que me garante a avó de meu discurso, não faz mal a ninguém.
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PS. E pensar que tudo começou como começam muitas coisas nesse blog. Eu havia descoberto uma maneira de "fundir música" e resolvi experimentar com essas duas que já havia postado anteriormente. Daí, tive que inventar filminho, caçar imagens, publicar a coisa no YouTube, etc e tal. Quando me dei conta, tinha um filme ainda mudo pedindo por algumas palavras. Acho que exagerei, culpa do Frango onde nem pensei nisso mas tomei algumas.Vocês hão de me desculpar. Ou não, como nunca saberei pelos comentários que nunca se escrevem, apesar de todos os santos tantos que aqui me conta o contador.
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PS2. Nelson Gonçalves, queiram ou não, é um pouco nosso Sinatra. Só não o é todo por já ter começado cantar depois da invasão americana nas formas de nossos sonhos. Mais ainda, as duas músicas são quase da mesma data; a de Nelson de 1955, a de Sinatra de 1958. A de Frank, conceitual como o LP onde surgiu (se esquecermos Ava e seu toureiro), a de Nelson a vida como ela é, bem antes do outro Nelson, o Rodrigues vestido de noiva.
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domingo, 23 de novembro de 2008

Relógico

Colin Anderson/Blend Images/Corbis (Inês)

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha como ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis.
Podrías acercarte de sorpresa
y decirme "¿Qué tal?" y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.


Mário Benedetti / Amor de tarde

sábado, 22 de novembro de 2008

O Síndico do Brasil


Do rock ao soul/funk, o blog segue perseguindo a sopa dos inocentes, mas, mosquiteiro guerrilheiro, sem perder a ternura jamás
Do maluco beleza de Raul Seixas à Tim Maia, o síndico do Brasil, o blog cai na gandaia, entre um poema e outro, e dá um descanso aos Chicos, Zizis, Miles, Coltranes, todos belamente corretos como Raul e Tim nunca quiseram ser. Só para incomodar anônimos, enquanto a bela calma não volta.

Reflexos de uma agitação que me revolta os mares, de um querer que me faz permanentemente querendo e querido, a ordem é, como em um dos gritos de guerra do genial "preto, gordo e cafajeste, formado em cornologia, sofrências e deficiências capilares", "Mais grave! Mais agudo! Mais eco! Mais retorno! Mais tudo!"
O filminho ilustrei com fotos de Chaouen, uma cidade azul da cor do mar, lá no Marrocos onde o beirute e o haxi são "du bão" e agradariam o insaciável Tim Maia entre uma e outra ida ao banheiro para dar um brilho (no cabelo, é claro).
Acabo de ler a biografia do dele, escrita pelo Nelson Motta. Apesar de achar que o Nelsinho não soube fazer jus ao personagem, serviu para relembrar o gordo e planejar este post.
Nesse encontro marcado com o blog Tim não faltou. Desvantagens da desencarnação que o gordo resolveu desencarnar há dez anos atrás, dessa coisa de voltar ao pó em que ele se meteu pensando noutra coisa: agora é só colocar ele para cantar que o bicho baixa, e nem pede licença para dar uma saidinha estratégica.
Usem e abusem
! Só do vídeo, é claro!!
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Varanda


foto: Zédu
Hemos perdido aun este crepúsculo.
Nadie nos vio esta tarde con las manos unidas
mientras la noche azul caía sobre el mundo.

He visto desde mi ventana
la fiesta del poniente en los cerros lejanos.

A veces como una moneda
se encendía un pedazo de sol entre mis manos.

Yo te recordaba con el alma apretada
de esa tristeza que tú me conoces.

Entonces, dónde estabas?
Entre qué gentes?
Diciendo qué palabras?
Por qué se me vendrá todo el amor de golpe
cuando me siento triste, y te siento lejana?

Cayó el libro que siempre se toma en el crepúsculo,
y como un perro herido rodó a mis pies mi capa.

Siempre, siempre te alejas en las tardes
hacia donde el crepúsculo corre borrando estatuas.

Pablo Neruda,
20 Poemas de amor
poema 10

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Sacada bem acompanhada

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foto: Inês


Nunca sei como é que se pode achar um poente triste.
Só se é por um poente não ter uma madrugada.
Mas se ele é um poente, como é que ele havia
de ser uma madrugada?

Alberto Caeiro / Poemas Incojuntos

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Mosquiteiro ou Abeirrolde em Barão

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Já me considerei um mosqueteiro de mim mesmo, apesar de sempre me faltarem os outros três do meu quarto. Chamei o Sintoma, que só me ofereceu mais um e, apesar de toda dificuldade de entrar em acordo com a Sintoma da gente, agradeci e dispensei, pelo menos para minhas necessidades blogueiras.
Olho para trás, no blog, e vejo que perdi vários Athos, Portos e Aramis ao longo do caminho. Restei este D´Artagnan meio assim, assim de espada chinfrim. E o blog ondulou de falta e pouca presença minha. Só quem me conhece sabe que, apesar disso, este mais de ano e meio de blog é um exemplo raro de persistência em minha vida inacabada.
E, nesses últimos tempos, que espero não se invertam em tempos últimos, mais do que oscilar, Carambolas virou o blog do blogueiro doido. Mistura rápida de Sinatra, declarações de amor, entrecortados por um Miles rascante, por malcriações explícitas, por ternuras muito mais e, de repente, não mais que de repente, uma maluquice bem no dia de minha consciência negra, mesmo que, cauteloso de minhas ousadias, a poste no amanhã. Pipoca, o Outro de tudo por aqui, só não bota ordem na coisa por ser, como todo Outro, Inconsciente e não estar nem aí.
Daí que, ainda atento à letra, descubro o ipsilone da questão, o xis do problema, o dabliuú da interrogação. Não sou mais, se é que fui, um mosqueteiro, nem quero defender Rainhas, minha turma é frangamente outra, meus leitores tantos poucos, meu anjo gauche, minhas penas mancas e minha paciência um saco furado.
E assim caminhará o blog, sem eira, nem beira, mesmo que ninguém o queira. Com saudades do poeta que de mim tirou férias que, às vezes, acredito, é desculpa para nunca mais voltar, do louco da casa com sua imaginação cheia de rosas morenas desaparecidas no Gol da Varig, do menino gentil que já não chora mais à beira de um caminho que aqui me trouxe e me deixou sem saber a que vim, dos sabiás da Praça que agora só vejo no tom de Barros dos Joãos idem que lá me acompanham pelo gramado fervido deste quase verão, da elegância romântica que se perdeu nas impossibilidades da vida e na crueza deste eu que não me lixo; saudades, enfim, de uma suposição que leio mas não garanto.
Mas, crescidinho no meu oficialmente idoso, me des-iludo em outras ilusões, em uma mulher tão longe de mim distante onde irá, onde irá, meu pensamento, em pedidos de Célias que não conheço e atenderei com certa tardança, em, como disse a dita, letras cronicamente musicais, tudo entremeado por belas trovas poéticas que me chegam de uma oca remota dentro de meu coração já quase ama-zonense.
O mosqueteiro andou no alfabeto e nas notas. Do, ré, mi, trocou o é por i, e insiste em cair na sopa que aqui coisinho.
Pelo menos o rock´nd´roll eu garanto, de vez em quando. O orégano e demais componentes desta banda que aqui se inverte, deixo a cargo de cada um. E me declaro mosquiteiro, não no sentido das armadilhas, mas no reconhecimento de uma minha especificidade neste blog.
Vocês entram com a sopa.
Eu? Tento me divertir.