sexta-feira, 23 de maio de 2008

A alma entrelaçada dos indescritíveis


Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?

Hilda Hilst
Obrigado, Inês

2 comentários:

Anônimo disse...

A poesia é um deserdar-se de esperança. Um entrelaçar-se de dor. Uma dor tão dentro que de fora se avista.
Lais

Anônimo disse...

O triste da poesia é quando a dor tão dentro de quem a lê ou escreve é sequer avistada e cada verso é senão ouvido e/ou escrito como se só versos encadeados - poesia - fossem.

Isto explica porque quase sempre os comentários saltam da poesia em seu estado puro, ao estado de espírito de quem a-postou ou de quem a lê. Eu pelo menos sempre trago-as para o terreno das minhas vivências, mesmo que estas sejam a de sentir o que possivelmente esteja sentindo o outro.
Grande poesia para estes dizeres.

Beijo meu amigo querido,

Meire