terça-feira, 27 de maio de 2008

Data venia

Miró
Mascarado
jamais pronto,
de cara pálida
ainda assim tonto,
eu invento sinais
de fumaça,
de fogo,
de linhas desconexas.
Ouso escritos,
traços,
troços, 
trecos,
letras e coisas,
sexo, nexo e plexo.
Alardeio o perigo,
aponto o fogo,
o lobo,
o bobo.
Apronto, de saída,
a janela
indiscreta 
que resta 
aberta
na fresta
da festa 
à beira mar.
Namoro a morte,
a morta, 
a santa
e a porca miséria.
Sou quilha,
proa,
popa,
cordame e velas.
Encalho aflito,
grito,
choro,
me agarro os pelos
por detrás da porta
onde jaz, 
trancada,
a morta.
Sou pai, sou mãe,
sou filho e filha.
Sou tantos 
e outros tantos
que também são.
Sou o espírito santo,
meu nome é multidão.
Homem,
suposto alado,
sou o que não é, 
sou sem mulher,
uma ilha 
cercada de gentes 
por todos 
os outros lados.
Sou samba, rock,
jazz e bossa,
sinfonia,
quarteto, noneto,
samba canção e fossa.
Sou tango,
bolero,
meu própio fado,
cheio de lero-lero.
Marcho e me acho,
apago o facho
e, como caranguejo,
ando de lado 
e busco desejo
que da morte
já estou farto.

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