quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Perder é uma arte

One art

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

-- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.

Elizabeth Bishop, 4 de novembro de 1975



Poema na voz da atriz Blythe Danner, com um vídeo com alguns dos lugares onde a poeta viveu no Brasil. Esse video é o final de um programa de uma hora, One Art, sobre a poeta. Mas para ver o programa todo, que é ótimo, antes inscreva-se no site www.learner.org. A inscrição é gratuita.

Eu, particularmente, acho que poesia é uma coisa intraduzível. Como traduzir a música, o som das palavras, a maneira como elas se encadeiam e soam? Mas, para quem quiser, e como um exemplo de como as traduções são tantas, e tão díspares, quanto forem os tradutores, vocês poderão encontrar duas "versões" deste poema de Bishop nos comentários.

3 comentários:

Zédu disse...

Tradução de Jorge Pontual

Uma arte

A arte da perda é fácil ter;
por tanta coisa cheia de intenção
de ser perdida não dá pra sofrer.

Perca algo todo dia. Perder
chaves aceite, junto com a aflição.
A arte da perda é fácil ter.

Treine perder muito sem se deter:
lugares, e nomes, a comichão
de viajar. Nada fará sofrer.

Perdi jóias da mamãe. E dizer
que perdi casas que amei de paixão.
A arte da perda é fácil ter.

Perdi duas cidades. E o prazer
de um continente na palma da mão.
Sinto falta mas não dá pra sofrer.

- Até perder você (a voz, o ser
que eu amo) não devia mentir. Não,
a arte da perda se pode ter
embora pareça (diga!) sofrer.



Tradução de Horácio Costa
Uma arte

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perde-las não traz desastre.

Perde algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um continente.
Sinto sua falta, nenhum desastre.

- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente amado),
mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre.

Unknown disse...

É mesmo uma arte perder e mais ainda se permitir a isto.

Será que assim nosso achar, encontrar , pode ser sereno? A sofreguidão de conservar as conquistas seria um dos sintomas de quem perdeu o trem por não ousar nesta arte?

Este poema nas duas traduções, permite uma mesma pergunta. Como mesmo é ser feliz?

Bjs,

Meire



O vídeo é muito bom.

Anônimo disse...

Você tem toda razão. Poesia não se traduz. Prova disso são as duas versões aqui postadas.
Na 'folga' entre uma tradução e outra (nada poéticas, por sinal), estou de volta.
bj