quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Sofrer por amor tem lá suas vantagens


Início da década de sessenta, eu com cerca de quinze anos, sofrendo por um já não sei mais o que de amor. E, como sabemos, as dores de amor são inversamente proporcionais à idade do dolorido. Não me perguntem porque eu sofria, só sei que sofria como um cão. Aí descobri esse Adágio, 2º movimento do Concerto de Brandenburgo nº 1. Me trancava no quarto, colocava o disco na Sonata, cerrava as janelas e me entregava à dor e à tristeza, profundas, definitivas, tanto quanto costumamos pensar serem as primeiras dores de amor. E tocava, e tocava, vezes seguidas esses violinos que me cortavam a alma ferida de morte. Às vezes, fazia uma pausa e trocava Bach por Tchaikóvski e sua Sinfonia nº 6 em Si Menor, a Patética (que é muito grande para aqui ser postada). Tudo muito patético.
Mas quando tento lembrar quem era a causa de meu tanto sofrer, nem um nome me vem a lembrança. Provavelmente alguma menina que havia me dito não e que, passada a dor, e elas sempre passam, sumiu de minha memória. Mas, graças a essa ingrata desconhecida, comecei a ouvir de outra maneira os clássicos que tínhamos em casa. E nunca mais me esqueci de Bach, com quem fui travando uma amizade que durou estes anos todos. Até mesmo a Patética de Piótr Ilyitch Tchaikóvski ainda escuto com prazer, apesar das autoridades a considerarem uma sinfonia menor. Os Concertos de Brandenburgo, todos os seis, nunca deixei de ter em meus LP´s e, depois, em meus CD´s. Anos depois, incorporei a Patética em minha coleção. Estão comigo até hoje.
Ou seja, os amores passam, as dores são sempre pátéticas, mas se soubermos sofrer, alguma beleza sempre resta de todo sofrimento. Mas gostaria muito de saber quem foi que me possibilitou Bach, Tchaikóvski e, na esteira deles, toda a música clássica

3 comentários:

Unknown disse...

Que delícia ler seu comentário e reconhecer nele como praticamente todos nós apreendemos tais compositores pela dor de amor. Esta linguagem da emoção, até sobrepunha-se à causa do sofrimento primevo, superando-o, mas se mantendo ali como se por ele fosse a verdade. Penso eu que a dor companheira indispensável no despertar do nosso gosto por Bach, Tchaikóvsk, Debussy,Grieg...e por aí vai....fossem só de leve os amores de quem nem lembramos mais o nome e o rosto...engraçado isto...


Você não anda fácil trazendo à tona tanta coisa que explicam de algum modo o que você veio a ser e de carona também nós. (ouço agora suite nº 1 op.46 de Grieg) sempre ual....

bj

Meire

Unknown disse...

Tendo colocado meus comentários em dia, um prazer e jamais uma obrigação, antes de me deitar, allegro molto moderato em Grieg, Solveig Song... lhe peço:

Corrija por mim no comentário acima ...o plural faltoso ...pois afinal você tem trazido tantas coisas que explicam tanta coisa, mas jamais tanta coisa que explicam o que quer que seja ...brincando enquanto ouço esta beleza ao lado da Malu`Cat dormindo na sua caminha japonesa. Morrendo de frio ela e eu.

Bjs

Meire

Zédu disse...

Meire,
Apesar de dono dessa coisa por aqui, não posso, ou não sei como, editar comentários. Se falta plural, plural restará faltoso.
No mais, continue a-postando teus comentários nessas horas tardias. è bom acordar e descobrí-los.
Bjs