domingo, 17 de fevereiro de 2008

Dois Rios, duas vozes, invento um cais

Rio de Janeiro, 1972. Rua Correa Dutra, número já esquecido, cobertura. Ali aportei no meu primeiro Rio, direto de Campinas via uma D.Pedro ainda de pista única, no fusquinha que havia acabado de ganhar pós formatura na Poli. Naquele tempo havia um programa na Rádio JB chamado Noturno, ao som do qual embalei muitas de minhas primeiras noites cariocas. O programa era de um extremo bom gosto musical, comandado por um Eliakin Araujo pré-Globo. Uma noite, dessas que se tornam inesquecíveis por razões que a razão nem desconfia, o programa apresentou o encontro das águas que aqui posto de forma canhestra. O Preto de Milton e o branco da Elis se encontram, se tocam, seguem caminho, meio como nos outros dois rios que banham Manaus, e inventam um cais. Em meu coração as águas se encontraram e seguiram comigo Rio a dentro, nessa navegação que para Campinas me retornou em busca do cais prometido.
É claro que, naquele remoto 72, tudo foi feito com muito mais competência técnica do que permite a minha ignorância com esses brinquedinhos e as gravações fundiam-se e separavam-se de uma maneira muito mais bela. Mas, seja como for, as vozes continuam como eram naquela noite, 36 anos atrás, assim como o meu desejo, tatuado no dentro de mim, naquele exato momento em que me lançava para um Rio que depois foi tantos outros, de inventar mais do que minha solidão me dá.
O cais ainda não consegui inventar direito, pois não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Zédu,

Esta postagem de arrepiar, por quem se atracou no Rio nos 72 de suas muitas histórias está muito boa.

Interessante que nossa geração se soltava inventando um cais. O Zé soltava-se de Campinas e tinha um cais onde se atracar mesmo com seu saveiro pronto pra partir. Tinha para onde voltar após os bailes da vida...

Legal porque salvo particularidades da história de cada um, estavamos ( ou pensávamos estar ) de costas para o vl metal e tentando não ser como os nossos pais.

Poderia resumir meu comentário a poucas palavras dizendo: que linda a leitura que fez de sua temporalidade no Rio - seu cais. E assim dizer da temporalidade de todos quando o programa da JB tocava a música postada por você.

Eu gostei muito

Bj

Meire