sexta-feira, 7 de março de 2008

Contador de mim


Coisa esquisita essa do contador. A gente fica aqui imaginando um monte de coisas sobre esse ser essencialmente anônimo que é o leitor. O contador rola números que, na ausência de comentários e outras marcas de passagem, me deixam aqui elocubrando, supondo, imaginando.
Tá certo, 1000 e poucas entradas em pouco mais de um mês é nada nessa coisa de blog. Tem um monte de blogs que as entradas diárias se contam em milhares. Mas, pô, a coisa aqui começou só para aliviar a caixa de entrada dos amigos e, de repente, o contador me parece dizer que tem muito mais gente que aqui se repete do que eu ousava pensar lá nos inícios do ano passado. Aliás, o que menos suponho por aqui são os amigos que, não sendo anônimos, nunca tiveram desculpas para não marcarem passagem.
É claro que o meu "amigo finlandês" deve ter chegado aqui por acaso, ou pela poesia em finlandês que um dia, que já não me lembro mais, postei por aqui só de brincadeira. Da mesma forma, todas as cidades que se contam em uma entrada podem ser tidas como "falta do que fazer" do entrante, que veio, viu e não voltou. Mas, me pergunto, qual é a nota de corte? Que número de entradas de uma determinada cidade me permite supor ali alguém que volta de vez em quando?
Por outro lado, Campinas, Rio, BH, Vitória, e até mesmo, neste momento Caracas, todas cidades com um número alto de entradas no contador, não contam, ou se contam de outra forma. Lá estão leitores conhecidos, ou sendo mais sincero, fiéis leitoras de minhas carambolas. Mas como explicar que Lisboa se conte para além das duas dezenas? Ou que Mountview, Califórnia, dispute em número de entradas com cidades onde tenho pessoas que vem me ver por carinho com minha pessoa, independente da qualidade das minhas carambolas? Ou o grande número de entradas espalhadas por Portugal, em cidades que só reconheço como portuguesas pela bandeirinha que acompanha o índice do contador? Claro que Portugal, que se a contagem fosse por país estaria em segundo lugar por aqui, se explica pela língua comum, mas mesmo assim me deixa curioso saber o que, nesse monte de pequenos pedaços de mim que vou postando por aqui, interessa as pessoas por lá. Outros lugares, de outras línguas, só me permitem pensar em brasileiros, ou portugueses, que, de alguma maneira, acharam esses meus escritos (apesar da introdução da música ter ampliado o universo dos possíveis interessados, ao libertá-los da necessidade da leitura). Mas, insisto, isso tudo é mera suposição que esse contador de mim me faz ousar. Ilusões que vou me contando.
Ou seja, parece que vivo, aqui no blog, nas pequenas proporções que ele me permite, a angústia do autor. Parece meio metido a besta, mas é isso mesmo (ou como diriam meus amigos, metido a besta é comigo mesmo). Como qualquer autor, as minhas coisas se perdem de mim depois de lançadas ao ar da internet, e só tenho como retorno números, nunca a voz do leitor. Mas os números me garantem que alguns de vocês, que não conheço e nunca conhecerei, voltam depois da primeira passagem, retornam ou indicam aos amigos da mesma cidade, e me sustentam de uma outra maneira, de uma forma que nunca pensava poder sentir quando essa brincadeira começou. Ou seja, compram as minhas carambolas e a minha maneira de saboreá-las enquanto vou aprendendo a dar conta do Desejo (e) da Morte que foram os motores iniciais dessa coisa toda. Acho que, meio no espírito do post Morangos Silvestres, entre a onça e o precipício, lugar comum na minha vida sintomática, ando conseguindo cultivar carambolas que são saborosas para além de mim mesmo. E isso me permite sabê-las melhor e me carambolar em equivocações que multiplicam os sentidos do que aqui exponho.
Por sorte, tudo isso são só suposições minhas, inferências baseadas em números frios que uma traquitana contadora me permite fazer, mas que permanecem só sonhos dessas noites de um verão que já vai terminando (ou de um inverno, como eu poderia dizer a todos os meus, supostos, leitores de Portugal e de outros países do hemisfério norte). Mas é gostoso sonhar. E muito divertido. Aliás, quando ao completar um ano de blog, resolvi quebrar a promessa feita lá nos inícios ingênuos de 2007, e não dar a tarefa que ele se propunha por terminada, me dei conta que já não mais vingava a perda. Hoje, se vocês me entendem, o que aqui vinga é um outro tipo de perda, aquela que, apesar de não ter vingança possível por ser estrutural de minha condição de falante, devemos, se quisermos não falhar com nosso próprio desejo, e com a nossa condição inevitavelmente mortal, continuar sempre tentando costurar dentro do possível. E, além do mais, quanto mais aqui me divirto, mais a perda que originou tudo isso se consolida nessa minha leitora que jamais terei. Afinal, foi ela que me desejou as ilusões engraçadinhas e o blog tem sido um espaço pleno delas. Cada post é uma homenagem minha, e de Pipoca, à Gilza que já não é.
E, para parar com a falação, proponho, para os que conhecem e para os que me supõem, que tentarei manter por aqui aquilo que Caetano expressa na música com que encerro este post comemorativo da marca dos (mais de) 2000 visitantes. Voltem sempre.
Tão só como sempre estive (a la Lacan), me divirto (diferente do falecido) me refundando e-ternamente.
Contador de mim!


2 comentários:

Inês Queiroz disse...

Zé,

Estou em Caracas, e sempre q posso venho saborear as tuas doces carambolas.

Bjs,

Anônimo disse...

Zé(du...),

Do seu "contador de mim" que é afinal de si à bruta flor do querer, de quem quer revólver és coqueiro, ...quer dinheiro, és paixão...quer descanso, és desejo
...não quer nada, voas bem alta, és um chão, a alma salta - liberdade na amplidão, e que por aí vai no queres família, sou maluco! Queres romântico, burguês? Queres leblon, sou pernambuco! eunuco, sou garanhão, e no queres o sim e o não, talvez; sou o irmão!! Em letra que transpira você seu grande umbigo, aqui não sem razão, tento também uma explicação:

A presença dos visitantes de fora e de dentro dessa nossa casa verde-amarela dos que se atracam ad infinitum aos que à deviva aqui vêm mas voltam, penso haver algo em comum com as suas fieis leitoras. Todos voltam por inusitadas carambolas ora mais doces, ora acri-doces, de onde todos apreendem cada um a seu modo a dar conta do Desejo (e) da Morte, que passa sempre por perto. Mas é o jeito novo, seu jeito, de carambolear enfim com a vida - desejo e morte, que quem sabe a todos tem dado sorte?

De fato a visita 2000 sinalizou algo que não é coisa pouca!

Muito bom!!!

Beijo
Meire