quinta-feira, 17 de abril de 2008


Para ti


Foi para ti

que desfolhei a chuva

para ti soltei o perfume da terra

toquei no nada

e para ti foi tudo



Para ti criei todas as palavras

e todas me faltaram

no minuto em que falhei

o sabor do sempre



Para ti dei voz

às minhas mãos

abri os gomos do tempo

assaltei o mundo

e pensei que tudo estava em nós

nesse doce engano

de tudo sermos donos

sem nada termos

simplesmente porque era de noite

e não dormíamos

eu descia em teu peito

para me procurar

e antes que a escuridão

nos cingisse a cintura

ficávamos nos olhos

vivendo de um só olhar

amando de uma só vida


Mia Couto

3 comentários:

Anônimo disse...

O autor do poema é o meu mais novo amante: Mia Couto. Já tive fases de Caeiro, Manoel de Barros, Drummond, Clarice, Quintana, etc... Agora estou enamorada de Mia Couto.

O outro mesmo olhar

Anônimo disse...

Mia Couto é deslumbrante. Sua intensidade transcende. Não foi à toa que cheguei a esse blog através de sua poesia. Essa, que por certo eu não conhecia, é tão fascinante quanto as outras. Mais uma ótima escolha. Parabéns!
Lais

Anônimo disse...

Bonito, gostei !

Cristina