terça-feira, 15 de abril de 2008

Estudo nº 1


Hopper

Pergunto-me desde quando
deixou de haver futuro
nas janelas.

Janeiro dói nos olhos
como areia.

Rui Pires Cabral
.


O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite.

Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio,

minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto

.

Perdoa-me por ser tão só, e falar-te
ainda do meu exílio. Perdoa-me se não
te peço a paz. Apenas pergunto: que me
darias se a pedisse?

Casimiro de Brito

.

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Clarice Lispector


Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

.

Depois de te perder

Te encontro, com certeza

Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu.

Chico Buarque

.

e na palma da tua mão
busco ternura
sem contar meses,
anos, dias,
sem saber dizer
se já te chorei
por inteiro
o suficiente

para não voltar

a perder-te.
Vasco Gato

.

E o que redime a vida
É ela não caber
Em nenhuma medida.

Miguel Torga

.

Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele?

David Mourão-Ferreira



E falar, falar, sempre falar

Como grávidas loucas

E fazê-las (às palavras) multiplicar

No útero de nossas bocas

Zédu

2 comentários:

Anônimo disse...

Ah
A beleza fria do silêncio
A falta do futuro
O presente fechado

A pintura de Hopper.
Aaaah

Os olhos de areia,
A luz na janela,
Nudez,
Solidão a dois.

Ah
O livro aberto
Uma cama arrumada

Aaaah

Um homem falante
Multiplica sentidos

E esperas

Ahhh

Quem foi ?

Anônimo disse...

Gostei disso. Belos enxertos.
Abs, Lais