quarta-feira, 16 de abril de 2008

A Dama e o Vagabundo



Maria Bethânia, como diz mano Caetano, assim se chama por causa da música deste post. Segundo Caetano, Dona Canô e seu marido adoravam essa música, que escutavam no rádio em Santo Amaro da Purificação, provavelmente a mesma gravação que posto aqui. Caetano, menino atento, também ouvia essa quase valsa lá na sua meninice. E, segundo o próprio, teria sido ele quem escolheu o nome da irmã, coisa que a julgar pela idade que tinha quando Bethânia nasceu em 1946, quatro anos, me parece pouco provável. Mas como para Caetano nada é impossível para Caetano.... O fato é que à moça chama-se com o nome da canção por causa desta, seja inspiração de Dona Caô ou precocidade do irmão mais velho.
Da Dama, predestinada pela música que a nomeou, já falamos bastante no post anterior e o vagabundo, que Nelson Gonçalves me perdoará, é o do que aqui se trata.
Mais ainda, me interessa a questão de não haver bem um equivalente para as Grandes Damas da canção apesar de nunca terem faltados bons cantores. Acho que o mais próximo que, no mundo dos cantores masculinos, chegamos é a figura do Mito. Chico Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, João Gilberto, todos são, de alguma maneira, mitos. O interessante é que, ao contrário das mulheres que continuam cantando depois de virarem Grandes Damas, o termo Mito normalmente se refere a um período da carreira do cantor, seu auge, sempre situado em uma determinada época. Além do mais, existekm Mitos femininos também. Carmen Miranda, Dalva de |Oliveira, Marlene, Emilinha Borba, todas mitos em função de uma determinada época mas, no meu entender, sem nunca terem sido grandes damas. Mas esta é uma discussão inútil, pois mito ou grande dama, estou falando de cantores marcantes, figuras inesquecíveis.
O nosso vagabundo, por exemplo, foi, durante o auge de sua carreira, nosso mais típico cantor do bas-fond, cantor das putas e dos puteiros, das mulheres suburbanas meio nelsonrodrigueanas. Sua própria vida pessoal foi marcada pelas suas vivências no submundo das drogas, dos cabarés enfumaçados, da noite brasileira (não é um cantor regional; suas músicas não são cariocas, nem paulistas, são suburbanas). Por isso o "vagabundo" que lhe apliquei, carinhosamente como nos lembramos todos do Vagabundo do desenho animado.
Depois ele virou cult e fez uma série de gravações horríveis com músicas mais modernas do que ele, arranjos pretenciosos idem, coisa até meio triste de escutar. E isso é coisa muito comum com os Mitos que permanecem para além da época em que foram um sucesso devido (pensei que João Gilberto, ainda em atividade e sendo cada vez mais o que sempre foi, é um Mito que fugiu à regra ou um cantor que é quase Grande Damo, e esse pode ser que sim, pode ser que não, só demonstra que a classificação só serve mesmo para encher linguiça no blog; ainda vou aprender a calar a boca mais rapidamente).
Aqui coloco, em versão original de 1940 e pouqinho (por mais que pesquisasse no Google, não consegui definir a data desta gravação, mas dada a idade de Bethânia, a gravação deve ter sido feita em meados da década de 40, perto da data em ela nasceu, 1946; quem souber a data exata que nos conte lá nos comentários). Originariamente gravada em 78 rpm, a versão que tenho foi remasterizada há várias décadas atrás, quando as possibilidades de milagres ainda eram pequenas. De um LP para uma fita K-7, desta para o computador, o som até que não ficou tão ruim. Tenho até uma versão em que Nelson Gonçalves canta com Caetano, já gravada diretamente em CD, mas ainda prefiro aquela que se escutava no rádio em Santo Amaro da Purificação no ano de 1946.
Grande Nelson Gonçalves!

Um comentário:

Inês Queiroz disse...

Nelson Gonçalves gravou a música Maria Bethânia no ano de 1945.
Beijo,