Foto: Chema Madoz
Palavras Rubras
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida / há palavras de morte
há palavras imensas, / que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixam de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras-homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras-diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
Mário Cesariny de Vasconcelos
Recebido de Inês
Um comentário:
Putz...sem palavras!!!
Bravo!!
Beijo meu amigo,
Meire
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