sábado, 23 de agosto de 2008

Chorão


Levei quase sessenta anos para entender o meu chorão, de quem já falei por aqui brevemente. Apesar de, considerando, enxergar na tão pouca história do blog, uma demonstração por escrito da importância do chorão no eu mesmo que aqui vou descobrindo descoberto.
Era, o chorão, na minha pré-história, uma árvore como esta da foto, plantada no quintal da casa do Bosque, onde nasci e vivi até os dois anos de idade.  Deste chorão-árvore já mostrei ramos em fotografias de um suposto eu de fraldas (sujas) e, até mesmo, já teci algumas considerações sobre os efeitos do significante em mim.
Pois o chorão, assim mesmo como um nome, um significante, ficou como a única lembrança que mantive daqueles tempos em que me fundei e me sujeitei. Por razões que escapam às minhas razões, o chorão virou meu primeiro significante, meu traço identificatório fundamental. A partir dele, fui vindo (a/um) ser. Claro que nunca uma árvore, já que nunca tive os pés plantados no chão o suficiente para enraizar em nada. O chorão marcou-me significantemente, pura palavra durante muito tempo sem sentido (especial) para mim. E, confesso, que nem mesmo sabia que cara tinha um chorão (árvore), e levei anos para entender que a árvore que se planta em frente da casa de Nina e de meus filhos era um (a interpretação disso fica para a Nina, que foi quem decidiu lá plantá-lo).
Mas como o significante é mãe de muitos significados, e como essa identificação primeira é mãe de todos os nossos afetos, virei um chorão, um sentimental, com um leve toque de melancolia. Virei um chorão significativo.  Passei a gostar das belezas com uma certa tristeza (mas nem sei se existe as que não tenham; Vinícius, por exemplo, acreditava que não), de músicas choradas, de lágrimas furtivas, de apertos no coração que só se aliviavam quando escorriam, furtivamente, olhar a fora.
Aí, outro dia, em desses inúmeros PPS´s que recebemos em nossas caixas de entrada, uma amiga querida (salve, Regina!) , me mandou uma brincadeira na qual, dada a data de seu nascimento e um toque de sabedoria celta, a coisa diz qual é a "tua árvore". Apesar de já ter descoberto antes essa minha ligação com o chorão, foi com uma boa surpresa que vi os celtas confirmando o meu ser a mais, o chorão que até hoje comanda as cadeias de meus sentidos e meu ser sujeito. E como os celtas foram os celtas, que nem sei bem o que foram, tatuei-me definitivamente nesse Outro mí(s)tico.
Daí repensei escolhas, entendi equívocos, iluminei apostas futuras, tudo no embalo das ressonâncias de um significante que agora acolhia e, ao mesmo tempo, tentava me indeterminar.
E lembrei da primeira ária de ópera que tornei minha, muito antes que Gilza me ensinasse outras belezuras na coisa operística. Dela, a ária (e a Gilza) também já falei muito por aqui, já postei letra, Mario Lanza cantando, ou seja, já pensava havê-la cercado de todas as maneiras que há para cercá-la. Mas como o chorão, que aqui admito e faço eu, vive se disfarçando em lágrimas furtivas, escolhi esta bela interpretação para me repetir mais uma vez. 
Coisas do significante um, diria um Lacan em mim. Coisa de quem fez dele uma marca não mais renegada, diria eu, o que não contradiz Lacan mas me faz mais em paz.


5 comentários:

Anônimo disse...

Zédu,
Se eu acreditasse em coincidências....
Ainda hoje recebi, em minha caixa de entrada, o seguinte texto:
Quando o luxo vem sem etiqueta...
O cara desce na estação do metrô de Washington DC vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal.

Durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes.
Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.

Alguns dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1.000 dólares.

A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino.

A iniciativa, realizada pelo jornal The Washington Post, era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.

A conclusão:
Estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto. Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de grife.

O vídeo da apresentação no metrô está no You Tube:
http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw

Anônimo disse...

Bom dia manhoso.
São 5 horas e estou acordada faz uma hora ( coisas do confuso horârio)
Aproveitando o silêncio da madrugada, ouvindo o ronco da Freda e lendo meus emails.
E você tem muita razao de se entitular de chorão porque lendo sua auto biografia me fez lembrar daquela noite em que me deu o maior susto, me chamando porque estava muiiiiiiiiiiiiiiiito mal.
Um forte abraço

Fernanda

Anônimo disse...

Olá todos os nomes.
Adorei sua visita e seus comentários no meu blog
Beijo,
Uma amiga antiga

Anônimo disse...

Olá todos os nomes.
Adorei sua visita e seus comentários no meu blog
Beijo,
Uma amiga antiga

Anônimo disse...

Fala aí tio,
adicionei seu Blog no meu FeedReader pra acompanhar com mais frequencia. Gostei do post sobre o Leblon, é uma parte do Rio que eu gosto. Se é que se pode chamar aquilo de Rio.
Um abraço.