quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Saudades do Leblon


Quando resolvi voltar ao Rio de Janeiro de  quase toda minha vida adulta, foi lá pelo bem finalzinho do século passado, tanto que o Leblon só se marca em mim neste século vigéssimo primeiro, apesar de tantos outros anos já vividos pelo Rio. 
Me aboletei na casa da Anninha, meu carinho com dois n´s, e, desde lá, resolvi que era no Leblon que iria voltar para o Rio de toda a minha vida. E para o Leblon eu fui, inaugurando século e uma nova minha história.
Pouco tempo depois achei meu apartamento, na Rua Dias Ferreira, em frente ao Azeitona, em um Leblon bem só Leblon, longe da badalação que começava a tornar o bairro um point, mas perto do movimento incessante que me interessava e confundia. 
Ali vivi meus cinco anos mais cariocas, de 2001 até meados de 2006. Ali conheci o povo do Azeitona, um outro Rio para um outro eu, a volta à vida e a um futuro incerto (e existe um futuro certo?), os amigos, o botequim, as ruas tranquilas como ilhas no oceano de um Rio já meio paranóico, o agito logo ali pertinho e uma nova vida que fui acolhendo aos poucos, como quem sorve algo muito especial.
Com ela, a vida, retornaram amigos, havia a vizinhança de Anna e, ainda, Fernando, mais o monte de gente que o Azeitona foi acrescentando. Pipoca, que nasceu no Leblon,  conquistou a todos, desde a madrinha Christina até o Azeitona que, um dia, mal humorado, expulsou-o do bar e permitiu-o, Pipoca, restar tranquilo em casa enquanto eu me g(o/a)stava no bar. No Leblon fui mais carioca do que todo o tempo antes de Rio de Janeiro. Lá me naturalizei neste sotaque que reluto até hoje, anos passados, em abandonar nessas campinas d´oeste.
E, têm dias, que a saudade das ruas do Leblon, da minha Dias Ferreira, da livraria Argumento (e da Contraponto onde Pipoca entrava comigo), do Cantinho, onde filé igual ainda não experimentei, do Azeitona, bar de casa, onde encontrei tantos e tantas, das letras e expressões que lá restaram adormecidas em mim, do Flor que acabou para virar um monte que nunca admiti belo, pois é, têm dias que a saudade de tudo isso bate forte neste meu exílio do carioca em mim.
Aí, pergunto: o que tem que ver a música que aqui se posta, em repetição, com tudo isso? Tirando que Paulinho é um dos compositores modernos mais cariocas que há, que a Zizi só acrescenta à música, tenho que reconhecer que a única coisa que une minha infinita saudade de mim mesmo no Leblon e a música que aqui posto é o gosto da maresia carioca que tanto respirei no Leblon. E  me repito, e repito, e repito. Coisas do mundo, minha nêga, como diria outra música de Paulinho que também já nem sei se postei.
Ou, pelo contrário, o Leblon veio porque eu queria essa música, onde largo a paixão e abro mão de desejos. Quem há de saber? Eu com certeza não sei. Pois aqui encontro outras paixões, outros desejos que agarro com mãos que já comemorei em poemas há pouco passados. 
Abobrinhas à parte, a música vale. Para mim e para quem não faz a mínima idéia do que seja o Leblon. Vale como uma maneira carioca de melancolizar, coisa que Paulinho faz melhor do que qualquer outro carioca vivo.
Beijos no Azeite, na Christininha, no Ricardo, no Peter, no Dr. Léo, no Helinho que depois não era mais, nas mulheres que ali conheci por uma noite, nos conhecidos que ficaram outras mil e uma.
Mas, reconheço, a música é uma despedida. Não das paixões, mas de uma certa maneira carioca de me apaixonar. Vou virando paulista, me apaixonando paulistanamente, batendo meu coração de outras maneiras, sem saber se é a falta do Rio, o avançar da idade ou os meus novos obscuros objetos da paixão que me diferenciam amorosamente. Mas o ido é o ido, o largado o largado, as paixões sempre outras em outros eus para um sangue que continua meu.
De qualquer forma, sabendo que as palavras são sempre precárias, saudades do Leblon e de mim mesmo, que ainda vou me acostumando com minha nova versão, que não cansa de se modificar e me surpreender.


4 comentários:

Tita disse...

Ai, como é doído reconhecer que há coisas que ficaram para trás e que nunca mais serão as mesmas.
Boa noite,bom dia,
Beijo,
Tita

Anônimo disse...

Olha Zédu,

Um dia eu disse a mim mesma : - acho que estou ficando velha, pois comecei a lembrar.

As relembranças( nome do livro da Vilma, filha de G. Rosa) até do não realizado, podem não ser doídas se delas tivermos boas histórias a contar. Sinto que cada mergulho seu naquelas águas trazem algo ou algas preciosas. Muitas vezes a maresia entra nariz adentro da gente e é bom.

Um beijo meu amigo
Meire

Anônimo disse...

Não tinha ouvido a música e visto o vídeo. Pois começou a tocar eainda ouvindo-a voltei para dizer da alegria de ouvi-la, por ser esta a musica que mais gosto com dele e com ele. Talvez com boa dose de exagero, para dizer de algumas circunstâncias da vida, seja essa a música que mais gosto na vida...

Largo a paixão..é linda, linda

Meire

I'm nobody/Who are you? disse...

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

Para vc, pelo Rio lindo, o único poema que sei inteirinho de cor. Abraço!