domingo, 31 de agosto de 2008

Esse obscuro objeto do desejo




"Contada por ìtalo Calvino, em seu livro Seis propostas para o próximo milênio. Calvino tirou-a de um caderno de notas do escritor romântico francês Barbey d´Aurevilly, que por sua vez a tirou de um livro sobre a magia: a cultura é sempre assim, camada após camada de citações sobre citações, de idéias que provocam outras idéias, faiscantes carambolas de palavras através do tempo e do espaço. A história é assim: o imperador Carlos Magno, já muito velho, apaixonou-se por uma garota alemã e começou a caducar de maneira penosa. Ficou tão arrebatado de paixão pela jovem que esquecia os assuntos de Estado e caía no ridículo, com o conseguinte escândalo na corte. De repente, a garota morru, coisa que encheu os nobres de alívio. Mas a situação só fez piorar: Carlos Magno ordenou que embalsamassem o cadáver e o deixassem em seu aposento, e não se separava de sua morta nem por um instante. O arcebispo Turpin, horrorizado com o macabro espetáculo, suspeitou que a obsessão de seu amo tinha uma origem mágica e examinou o corpo da moça; embaixo da língua gelada encontrou, de fato, um anel com uma pedra preciosa. O arcebispo tirou a jóia do cadáver e, assim que o fez, Carlos Magno ordenou que enterrassem a mulher e perdeu todo interesse por ela; em compensação, foi tomado por uma paixão fulminante pelo arcebispo...Então o atribulado e acossado Turpin decidiu jogar a jóia encantada no lago Constanza. E o imperador se apaixonou pelo lago e passou o resto da vida junto à sua margem"
Copiado de A louca da casa, de Rosa Montero
que tirou de Calvino, que tirou de dÁubervilly
que tirou de um livro antigo, 
que tirou de uma lenda, que tirou...


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