sábado, 21 de junho de 2008

O amar depois do mar



















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Paul-Cezanne_The-Sea-at-L'Estaque

O Amor, meu amor

(...)

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
e em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar. 

Mia Couto

Um comentário:

Unknown disse...

Muito lindo. Bom de ler, bom de viver, pois que o amor algumas vezes é mesmo assim.

Um beijo,

Meire