segunda-feira, 16 de junho de 2008

Ciranda, cirandinha

E
"...lembrando Custódio Mesquita e Mario Lago, poderíamos cantarolar : "Nada além / nada além
de uma ilusão /...", ao que a platéia em uníssono poderia pontuar: IN-VENTA."

Final dos anos 80. Nas Vitrines do Leblon. Eu cheguei meio assim distraído, como quem nem sabe o que quer. Colégio Freudiano do Rio de Janeiro, onde se "ensinava" a tal da Psicanálise pintada por Jacques Lacan. E, em minha distração, quando fui me ver novamente, já me havia perdido, absolutamente perdido. Apaixonei-me pela Psicanálise e pela Coisa, sem nem desconfiar que não há uma sem a outra. Paixão grave, destas de nos fazer enxergar Lacan na Sessão Coruja (no que antecipei, sozinho, Sisek). Fiquei besta, como sempre fui.
Aí organizaram uma Ciranda, que eles tinham mania de colocar nomes engraçadinhos nos colóquios, encontros, seminários, ´ssas coisas da extensão da Coisa e da cobrança da produção. A Ciranda era uma cirandinha, coisa para iniciantes apaixonados como eu. Me meti, já que metido sempre fui e a Psicanálise agora me autorizava. 
Aí escrevi um trabalho, minha primeira produção para a nova musa. Coisa sobre o espelho lacaniano que denominei Ali se dá maravilhas, começando uma coisa de brincar com as palavras que a peste psicanalítica havia liberado em mim.
Auditório enorme, lotado, eu entrava logo depois do almoço, coisa que minha experiência de professor já havia ensinado ser o pior horário. Barrigas almoçadas, sonolência, o logo depois do almoço exige piruetas mortais, começão de fogo e outras artes e manhas para manter a platéia.
No fim, tudo se resolveu quando Nina chegou, com Bruno e Pedro, minhas então duas crianças. Sentadinhos na primeira fila que Nina não sei como cavou, o rosto orgulhoso de quem muito espera do pai no palco me iluminou. Claro que o trabalho era bom, que eu era meio diferente do resto da turma (engenheiro, fazedor de gerentes, bicho meio raro naquele grupo) o que me permitiu uma visão mais brincalhona com a Coisa. Mas o fato é que foram aquelas duas carinhas de espectative e orgulho que me salvaram dos nervosismos e inseguranças. Falei para eles. E só deles escutei as palmas que todo o auditório batia ao final. Nunca esqueci os rostinhos, a alegria que neles vi, o orgulho. Acho que poucas outras vezes fui um pai tão orgulhoso e comovido. Até hoje aqueles rostos me emocionam.
Tudo isso para dizer que o trabalho finalizava com os versos da música que aqui posto. E tudo isso para dizer, que amo meus filhos e que hoje sou eu que me orgulho deles. São, Bruno e Pedro, minhas melhores ilusões.

16 de junho de 2008, dia dos 26 anos de meu filho Pedro

4 comentários:

Anônimo disse...

Zedu, como ainda não sei postar um comentário (sempre me pedem coisas que não tenho ou não sei) envio essa msg pra dizer o quanto é legal que vc se orgulhe de Bruno e Pedro e se lembre daquele olhar deles, tão cheio de amor e expectativa. Confesso que me sinto muito feliz por tê-los levado lá e que isso tenha podido acontecer. A vida só é feita mesmo de alguns gestos, sejam eles felizes ou não. Sei que para os pais os filhos são sempre menores, mas hoje o Pedro faz 26 anos, um a mais do que vc postou. Abç e comemorações. Nina

Zédu disse...

O ato falho de fazer meu filho Pedro um ano mais jovem, que a mãe prontamente me corrijiu, já foi devidamente retificado na postagem, Ou seja, no que diz respeito ao Pedro, ganhei um ano a mais de amor e orgulho.
Luck me!
Beijos na Nina, que sempre levou meus filhos, algumas vezes para me ver, outras para poupá-los disso.
E, como alguém me contou ainda a pouco, o aniversário dos filhos é dia de dar presente às mães.
Que seja essa postagem também um presente reconhecido à nina, mãe dos meus filhos, fiel guardiã do algum pai que eles têm.
Já em muitas outras ocasiões faltei à Nina o devido reconhecimento. Aqui, filhos e Psicanálise se juntam num até que enfim.
Um beijo para Nina

paulete miletta. disse...

emocionei.

Unknown disse...

Eu também fiquei pequenininha, emocionada, lendo esta troca de carinho de vocês - pais dos filhos amados. E o melhor de tudo é saber da base de sinceridade do que dissram. Sendo assim, alegro-me com as possibilidades de salvamento de nossa humanidade de toda a brutalidade do mundo, ainda que por um instante, que neste caso não é. O amor de vocês está enraizado.

Beijo para Pedro pelo aniversário e também para Bruno pela vida. Para a Nina por sua presença em hora mais que certa de modo muito bonito. Para o Zédu que buscou esta lembrança profundamente afetiva e particular dos quatro, partilhando-a conosco.

Meire