domingo, 30 de novembro de 2008

A gota d´água



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Podemos falar dos sentimentos, descrever
as impressões que nos ameaçam, e revelar o vazio
que se descobre na ausência um do outro: nada,
porém, é tão inquietante como a dúvida,
o não saber de ti, ouvir o desânimo na tua voz,
agora que a tarde começa a descer e, com ela,
todas as sombras da alma. É verdade que o amor não é
apenas um registro de memórias. É no presente
que temos de o encontrar: aí, onde a tua imagem
se tornou mais real do que tu própria,
mesmo que nada te substitua. Então, é
porque as palavras são supérfluas; mas como viver
sem elas? Como encontrar outra forma de te dizer
que o amor é esta coisa tão estranha, dar o que nunca
se poderá ter, e ter o que está condenado
a perder-se? A não ser que guardemos dentro de nós,
num canto de um e outro a que só nós chegamos,
sabendo que esse pouco que nos pertence é
tudo o que cabe neste sentimento
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Nuno Júdice


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7 comentários:

Anônimo disse...

Espero que o pouco nunca morra. E mesmo que pouco, faça tudo renascer a cada dia. Basta uma única gota para matar todas as sedes. Bom ler aqui algo novo. Agora só falta algo novo que seja teu. Beijos. Célia.

Zédu disse...

A aranha, alucinada, mas já confortável com a teia que tecia no Soneto no Espelho, escafedeu-se nas gotas de uma nova teia que começa a se cristalizar, espaço onde as redes são novamente lançadas, as teias tecidas, as armadilhas, sempre para nós mesmos, armadas.
No centro da teia resta um sonho a ser sonhado, um pouco a ser acreditado, uma leveza a ser apreendida.
Saberei eu?

Zédu disse...

E "amanhã" acabou novembro e o ano começa, inexoravelmente, a acabar de verdade na dezembração que lhe finaliza as contagens e o calendário.
Benvindos à malandragem dos donos de blog. Nem tudo é obrigação por aqui.

Anônimo disse...

A única obrigação do blogueiro literário musical é não deixar de sê-lo. Beijo sem papos de aranha, muito menos tramas e teias. Gosto é de rendas leves, tecidas num suave dezembro. Célia.

Folhetim disse...

Da poesia já meio que comentei no e-mail que a originou.

Quanto ao seu 1º comentário, tenho duas coisas a dizer:

1) Talvez a aranha alucinada necessite, em prol do que resta no centro da sua teia, semear girassóis onde, outrora, foram semeados buracos no seio das sombras.
Saberá ela?

2) Para "um sonho a ser sonhado, um pouco a ser acreditado, uma leveza a ser aprendida" será preciso refazer no coração o caminho de uma planície.
Devolvo então a pergunta:
Saberá você?


Beijos muitos, menino!

Anônimo disse...

Linda poesia, não conhecia. Nuno Júdice é o poeta do amor e dos sonhos. Mas olha só, desculpa fazer uma observação no comentário dos outros mas adorei essa frase: "refazer no coração o caminho de uma planície."
Kátia

Dois Rios disse...

E assim as palavras
vão criando formas,
traçando desenhos,
deixando marcas,
revelando sentimentos,
fazendo do amor
pretexto para se
enfeitarem.

Beijo,