sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Novembrina


...

Magoa-me a saudade

do tempo em que te habitava

como o sal ocupa o mar

como a luz recolhendo-se

nas pupilas desatentas



Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,

tua noite sem remédio

tua virtude, tua carência

eu

que longe de ti sou fraco

eu

que já fui água, seiva vegetal

sou agora gota trémula, raiz exposta



Traz

de novo, meu amor,

a transparência da água

dá ocupação à minha ternura vadia

mergulha os teus dedos

no feitiço do meu peito

e espanta na gruta funda de mim

os animais que atormentam o meu sono.



Mia Couto / Magoa-me
em Raiz de Orvalho e Outros Poemas
De Ayan

Um comentário:

Anônimo disse...

Traz de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos no feitiço do meu peito.


Quem sabe assim possamos erguer uma outra história
sobre as ruinas dos meses que os nossos novembros desconhecem?

Beijos meus,