quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Carcamano, meio baixo e cafajeste, formado em cornologia, sofrências e deficiências capilares, mas mesmo assim... (1ª ed.)


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A postagem sobre Sinatra e Ava Gardner merece uma complementação, até para ser justo com o ídolo de minha querida Anna, meus dois n´s preferidos. Pois se Tim Maia, o síndico, se dizia "preto, gordo e cafajeste, formado em cornologia, sofrências e deficiências capilares", o queridinho da Anna só teria em comum com o gordinho genial a cafajestice, as deficiências capilares e um enorme par de chifres que ganhou na época da Ava, cobra criada que bem poderia trocar o A por um E no nome. Assim, é verdade que por alguns anos, entre a separação de fato e a legal, Frank teve que suportar saber da moça em outras touradas, com um cara especialista em evitar os chifres que lhe ornavam a testa.
Mas, e aí vem a justiça, que mesmo tardando nunca falha (com exceção, é claro, do nosso amado, salve, salve, país tropical, que tem uma justiça jaboticaba, coisa só nossa, para orgulho de todos os filhos da mãe gentil e alívio do Daniel Dantas), Sinatra não passou aqueles anos de cotovelos enterrados nos botequins (One for My Baby and Another One for The Road, como já aqui postei, sob elogios rasgados de Mestre Sé, o boa praça), nem arrancou os cabelos que já ameaçavam a ruína final. Gostando muito mais dele mesmo, Sinatra dava uma no prego, outra na ferradura.
O fato é que, vindo de um final dos 40´s meio decadente (no final do ano de 1948, bélissimo ano aliás, Sinatra era somente o 4ª cantor mais popular da América, perdendo para Billy Eckstine, Frankie Laine, e Bing Crosby. Enquanto isso, Ava só fazia aumentar o seu sucesso cinematográfico. E foi pelas mãos dela que o moço ganhou um papel em A Um Passo da Eternidade, desempenho que lhe deu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante daquele ano e, daí para frente, firmou sua carreira cinematográfica. No mesmo ano, lá para o final, vieram as touradas de |Madrid, a amarga dor de corno e um período de faz de conta que eu nem ligo.
Nesse período aconteceram alguns dos melhores discos de Sinatra. Uns no estilo "Lupiscinio", como In the Wee Small Hours (1955), Frank Sinatra Sings For Only The Lonely (1958, e LP onde gravou One for The Road...), e Where Are You? (1957). Ao mesmo tempo, e logo após a separação, grava também Swing Easy! (1954), Songs For Swingin' Lovers (1956), e Come Fly With Me (1957), num estilo swingado, alegre e completamente diferente. Ou seja, o moço oscilava mas não caía. O sucesso musical voltava, seja com os discos "blues", seja com aqueles cheios de swing.
Mas, seja como for, sujeito dividido ou não, doído ou doido, as porradas da vida, e o sucesso nas telas, nos fizeram muito bem. Permitiram a gravação de um Sinatra no auge da sua maturidade como cantor, e nos legaram algumas canções que até hoje soam modernas. Coisa do gênio que Sinatra foi. O cantor genial, maior que o homem Sinatra, foi capaz de fazer beleza de seus demônios interiores.
Escolhi o LP Songs for Swing´ Lovers, outro dos 1001 discos que você deve escutar antes de morrer, para representa o swinging Sinatra. Na dúvida entre duas belas músicas, e odiando tomar decisões, deixo-vos com ambas. Too Marvelous for Words e a inesquecível I´ve Got You Under My Skin, obra-prima de Cole Portes que Sinatra fez quase sua marca registrada. Com isso, empatamos o jogo do vai e vem de Sinatra nos anos 50: duas "deprê"( One for The Road e In The Wee Hours), duas puro swing.
Mas como The Old Blues Eyes era um gênio, uma hora ele volta, para além dessa história de chifre, toureiros e um belo animal chamada Ava.
Divirtam-se!
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Dedicado a Anna Maria
(tem crase, Anninha?)

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