terça-feira, 4 de novembro de 2008

O teu cabelo não nega

Pois é. Somos, os Estados Unidos e nós, os grandes early importers of the black people. Não há como negar. Estão aí as músicas, o negro fundamental nas nossas culturas musicais, o samba, o jazz, até o chorinho, já que muitos choraram até que as melodias entrassem em nossos ouvidos brancos e, no caso brasileiro, cordiais.
No entanto, entre as nossas raízes negras e as deles (e escrevo no momento exato em que Obama pode estar sendo eleito ou não), podemos apontar diferenças inúmeras. Aqui mesclamos mais que lá, mas em compensação vivemos nessa tentativa de apagar o negro de nossa história. Lá, pelo contrário, a coisa seguiu mais feia, a luta foi mais feroz e, por consequência, o negro permaneceu mais negro, a música mais pura na sua identidade racial, o faz de conta menos evidente. Tudo coisa para tratados sociológicos que aqui não cabem, considerações ideológicas meio confusas, coisa séria que escapa às carambolas do blog.
Mas, vejam, Sweet Georgia Brown, música de 1925, gravada e regravada tantas vezes que virou um standard do jazz (coisa de muita significação, já que a música é de tempos anteriores ao "bom jazz"). Seríamos capazes de escolher uma música brasileira equivalente, ou, pelo contrário, a diluição em nossa suposta cordialidade acabou com tudo?
Pois, acredito, é só lá (USA) e aqui que podemos encontrar, ainda hoje, uma música "negra" inserida em um contexto onde ela é o que nos caracteriza (vejam, a coisa negra caribenha, por ter permanecido sempre só uma coisa negra, não tem o mesmo estatuto do jazz e da MPB, enraizadas no negro mas sendo para além disso). E, no entanto, aqui, as raízes se diluiram, o passado não se preservou, a música não se sustentou. Chico é uma gracinha, mas jamais cantará Pelo Telefone.
Escutem essa interpretação de Junior Mance, de 1990, para a composição de 1925 de Sweet Georgia Brown e comparem com nosso total esquecimento dos Dongas e, até mesmo, dos cabelos que não negavam de um Lamartine Babo, e perguntem-se sobre o que andamos fazendo com as raízes do Brasil.
Ou, por outro lado, esqueçam tudo e curtam a música. Vale a pena.


.
.

4 comentários:

Inês Queiroz disse...

Do jazz fui aprendendo com e por amor. Hoje gosto. Não de tudo que ouço mas de tudo que alguém me convida a ouvir.
Meu iPod sabe disso. Ele também.
Adorei esta interpretação. Bem que ela poderia aportar no FS.

Beijo,

Anônimo disse...

Não é um comentário, mas um pedido: texto bacana seu tendo como base a música Corsário, na versão Zizi Possi.
Abraços.
Célia

Zédu disse...

Cara Célia,
Quem sabe se você me mandar a música, que não tenho em meus arquivos, eu consiga "um texto bacana", um vídeo idem e a coisa acaba postada por aqui.
Abraços,

Anônimo disse...

Segue. Espero que o na inspiração para seu "texto bacana".
Abraço,
Célia

http://letras.kboing.com.br/zizi-possi/corsario/