segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Releituras



O Farol dos Olhos Teus

Na ilha onde me habito,

frequentam as gaivotas.
E trazem, presas aos bicos,
ao invés de folhas de louro,
mensagens, pequenas notas,
preciosos grãos de ouro.

Notícias do mar além,
onde em terras distantes
residem meus todos bens.
Bússolas de norte constante,
consolos deste ser errante,
avalistas de meu ser alguém.

E, nestes esperados instantes,
que me trazem as gaivotas,
ouço músicas, nunca o bastante,
fugas, prelúdios, gavotas,
doçuras para meus ouvidos,
alívio para um meu castigo.

Que aqui naufraguei por besteira,
pensando em uma vida nova.
Mas sem um meu sexta-feira,
escrevo essas poucas notas,
pobres versos em tom de trova,
que devolvo às gaivotas.

E assim, do Frango à Praça,
vou habitando esta ilha,
errando pelo rés da praia,
prisioneiro, meio sem graça,
desta imaginária Tordesilhas,
aguardando que o dia raia.

No movimento dos barcos,
da janela de meu quarto,
espio por detrás da porta,
ali onde Inês era morta,
onde sonho novo momento,
eu, ela, e todo o sentimento.

Invento um cais,
e quero mais.


.

2 comentários:

Folhetim disse...

Releituras
(porque os grãos de ouro continuam chegando de terras distantes onde residem todos os meus bens.)
===
As gaivotas da ilha onde você habita, veja só que danadinhas, cruzam as montanhas nesse mesmo céu que nos cobre, e também me trazem "mensagens, pequenas notas, preciosos grãos de ouro".
Me basta ouvir o som de quem parece que carrega o amor no bico, e o meu coração transborda em festa.
Beijos,
31 de Agosto de 2007 20:03

===
Meu beijo,

Zédu disse...

Antes mesmo que uma comentarista mais afoita me aponte a repetição, reafirmo: Releituras.
Do poema, postado no 30 de agosto do ano passado e relido aqui com todo o sentimento, e do vídeo, que, carregando a mesma tentativa, merece outra explicação.
Em 17 de fevereiro deste ano que aqui acaba neste novo molhe em que me vejo, eu brinquei de fundir Milton e Elis cantando Cais, memória de minha chegada ao Rio em 1972 (ano em que as duas gravações foram feitas).
Naquela época eu ainda tateava com essa coisa de fundir músicas. Não que agora tenha dominado a arte, como vocês poderão perceber, mas fiquei melhor, aprendi, nessas coisa de misturar as músicas e de compor os vídeos.
E como essa nova tentativa combinava com o poema, e como os poemas novos continuam escondidos de mim, talvez com medo das enxurradas diárias, que aqui insistem em chover, que os lavariam de mim definitivamente, juntei os dois em homenagem devida, a um mesmo farol e à uma mesma necessidade de um cais de partida.
Afinal, também mereço reler minhas coisas, ousar uma minha antologia pessoal de minha obra, que por definição, restará sempre inacabada.
Bom dezembro a todos. A gente se encontra por aí antes do ano acabar.