terça-feira, 18 de novembro de 2008

Kind of Blue - track 4, All Blues, fim do disco

Com essa faixa, a mais longa do disco, completo a postagem, pela primeira vez neste blog, de um disco inteiro. Como as faixas não estão ordenadas, caberá ao leitor escutá-las ou na ordem em que aparecem no blog, ou clicando no marcador Kind of Blue, na ordem em que elas se apresentavam no disco original. Vale dizer que as faixas que aqui vocês encontram são exatamente as cinco do disco de 1959. Um a outra hora, quem sabe, coloco a take alternativo de Flamenco Sketches que, apesar de gravado na mesma época, só veio a luz como "faixa bônus" em um CD lançado em 1997.
No entanto, resta a questão, até um pouco para mim mesmo, do porque fiz questão de colocar o disco todo por aqui. Amor por Miles Davis? Não necessariamente, já que por ele tenho mais respeito do que o tipo de "amor" que dedico a outros grandes músicos e intérpretes que aqui posto no quando em vez (Coltrane, por exemplo, é um deles). A resposta, se é que dela sei alguma coisa, desejo meu tão obscuro como soem todos, deve estar na singularidade do disco, sua beleza historicamente marcante, além de outros fatos que nele me impressionam.
Momentos marcantes no jazz não faltam, normalmente associados a algum tipo de virada, mas, quase sempre, se marcam em algum intérprete (sempre instrumentista) que mudo a maneira de pensar o jazz, o improviso, a brincadeira coma harmonia, o ritmo, whatever. Assim, Louis Armstrong foi o primeiro revolucionário, o pai da jazz moderno, que começou a mudar aquela coisa tipicamente de New Orleans em uma música nova, o jazz como desde então começamos a conhecer. E isso lá pelos idos de 1977. As grandes bandas inventaram o swing marcante, coisa que nunca desapareceu mais do jazz. Charlie Parker e o bebop, que ele inventa em uma noite de 1939 e desenvolve junto com Dizzy Gillespie. O próprio Miles, vindo do bebop, havia inaugurado o cool jazz com o disco The Birth of Cool. Ou seja, as marcas no caminho sempre se associavam a intérpretes específicos, novos movimentos, batismos, ´ssas coisas.
Kind of Blue marcou-se como um album definitivo, gravação que não poucos críticos consideram o melhor disco de jazz de todos os tempos. Apesar de Miles ser o "general da banda", o disco não existiria sem seus outros componentes. Mais ainda, a não ser por uma mudança no estilo de tocar de Miles, que no disco abandona um certo jeito hard de tocar em favor do modal, o album não inaugura movimento algum.
Talvez seja por aí a explicação da coisa: Kind of Blue foi uma espécie de ápice do jazz moderno, um até mesmo canto (maior) do cisne. Depois dele veio a coisa do free jazz, que nunca se firmou a não ser em certas gravações magistrais de Coltrane, a invasão definitiva do rock e do pop, a tentativa frustrada do próprio Miles com o fusion jazz, até que Winton Marsalis, principalmente, recuperou o jazz "como antigamente" , num retorno às origens mais básicas da coisa jazzística. Ou seja, Kind of Blue foi o apogeu de toda uma história que teve início no começo do século 20 com Louis Armstrong. Depois dele, um ou outro fogo de artifício digno de nota, mas nenhuma outra revolução marcante.
Mas, aqui caberia um tratado para melhor me explicar, coisa que os blogs não suportam, visto a paciência pouca dos leitores, o vapt-vupt dos tempos, a brevidade das coisas internéticas. E, mais ainda, nem eu seria capaz de dar conta de tudo que está por trás do pensar Kind of Blue como o disco de jazz por excelência.
Como uma última curiosidade, vejam as idades dos meninos quando da gravação em abril de 1955: Miles (32), Coltrane (32), Cannoball (31), Jimmy Cobb (30), Bill Evans (29), Wynton Kelly (27), Paul Chambers (23). Ou seja, na sua maioria músicos também na plenitude de suas capacidades.
Mas, chega de abobrinhas e carambolas, Vamos à música. Kind of Blue, faixa 4, All Blues. No piano, Bill Evans.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Pensei, pensei e não consegui sair do óbvio. E tenho três sugestões de músicas, todas da MPB e de Chico Buarque. Por quê? Porque uma mulher como eu, de 50 anos, tb ficou mexida quando ouviu o trecho: "Se entornaste a nossa sorte pelo chão/Se na bagunça do teu coração/Meu sangue errou de veia e se perdeu", da manjada Eu te amo (Chico e Tom, casamento perfeito). Quem, como eu, que se desiludiu com o amor, não sentiu-se reforçado ao ouvir: "Hoje eu tenho apenas/Uma pedra no meu peito/Exijo respeito/
Não sou mais um sonhador/Chego a mudar de calçada/Quando aparece uma flor/E dou risada do grande amor/Mentira" - Samba de um grande amor. Ou, ainda, não tenha se percebido em: "Vida, minha vida/ Olha o que é que eu fiz/Toquei na ferida/Nos nervos, nos fios/Nos olhos dos homens/De olhos sombrios/
Mas, vida, ali/Eu sei que fui feliz." (Vida)
Fica para você a difícil escolha.
Abraços,Célia