segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ava Gardner, quem diria, acabou no Carambolas

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Ava Gardner, quem conheceu, conheceu; quem não conheceu, não saberá nunca. A moça era um arraso que só naqueles tempos da década de 50 as moças ainda podiam ser. Devorava homens no palitinho e, até (tolinha!), casou com alguns.
Casou, por exemplo, com
Mickey Rooney (o menino prodígio de Hollywood; argh!) em 1942, casamento que durou um mísero (ou interminável, dependendo do ponto de vista) ano e quatro meses, onde as brigas ocuparam quase que todo o tempo. Depois, veio Artie Shaw, em 1945, e bem que ele, famoso bandleader, bem mais velho que ela (do garotinho "prodígio" ao homem maduro, Ava meio que antecede a tentativa da Monroe com Arthur Miller), tentou, homem culto e inteligente que era, transformar a moça bruta (´ssa mania que os "homens cultos", e mais velhos, têm de esculpir a mulher bruta que recebem, meio assim um complexo de Pigmalião, coisa que, na melhor, acaba resultando em um My Fair Lady e, na pior, num "cansei!" da moça). Durou 1 ano e sete dias o casamento e o experimento. Ela cansou!
Em 1951 casou com Frank Sinatra, que não era culto, era tão ídolo quanto ela, era adorado por todas as mulheres americanas da época (uma espécie de Chico muito bem temperado, mas com uma baita saudade da mamma). Pois é, o casamento durou 2 anos, apesar de ter acabado oficialmente só em 1957. Nesse meio tempo, o queridinho das mulheres da América teve que suportar o caso de Ava com
Luis Dominguin, toureiro espanhol que colocou um belo par de chifres nos lindos olhos azuis do moço, que ficou toureando vento na América enquanto ela colocava as banderillas no espanhol.
Sinatra, que sempre foi um italianinho romântico metido a durão, aprendeu a dor de cotovelo, a testa dolorida, a vaidade ferida, o blues da perda, o choro musical. Tudo pelo amor de uma mulher que o poeta Jean Cocteau chamou de "o mais belo animal do mundo" (tadinha das Giseles Bunchens!).
Tá certo que a moça, depois do Sinatra, oficialmente não casou com mais ninguém até morrer em 1990, apesar das toureadas com o Dominguin em questão por vários anos. Mas, coincidência ou não, o moço com os olhos azuis mais sedutores do planeta (daquela época em que, se vocês ainda não perceberam, o planeta era outro mundo) entra numa fossa de dar dó. E, com arranjos de Nelson Riddle, grava, em 1955, seu primeiro LP de 12 polegadas (LP, 12 polegadas, atenção crianças!) assim meio temático, ou seja, um "disco conceitual", todo ele falando da dor do amor, dos amores perdidos, da mulher impossível (percebam, ainda casado com a moça que vivia em olés com o toureiro; shame, shame, shame!!!). O LP chamou-se In the wee small hours, a capa foi uma das primeiras a refletir, graficamente, o "tom" do disco (e fez muito sucesso na época em que a arte das capas dos LP´s ainda era uma grande novidade, e que vocês podem conferir, sem entender, na imagem que abre o filminho), e todo ele, LP, era um Sinatra meio assim uma espécie de Lupiscínio cantando a mulher perdida (com duplo sentido, please!), os amores inúteis, a solidão não escolhida. A dor de corno não enxerga a cor dos olhos, nem o amor do "mercado", como ficou definitivamente provado desde então.
O coitado, depois de Ava, onde foi figurante
, resolve virar ator e quando casa novamente, em 1966, escolhe Mia Farrow, ele cinquentão, ela com 21 anos, magrinha de cabelinhos curtos, o oposto da volúpia anterior. E, depois da mãe do bebe de Rosemary, em 1976, acaba os seus dias com a ex mulher de Zeppo Marx, o mais sem graça dos irmãos marxistas. Entenderam o estrago? Ava arrasou, ou não, o homem mais amado do planeta?
De qualquer maneira, como bem sabemos, a dor de corno é altamente produtiva artisticamente, tanto que o LP que o moço chorou em 1955, é o primeiro LP analisado no livro 1001 Albums You Must Hear Before You Die de Robert Dimer e, em 2007, foi eleito pela revista Time, um dos 100 melhores Albuns de todos os tempos. A música que nomeia o LP, In The Wee Small Hours Of The Morning, abre o disco e é o que aqui apresento aos meus queridos, cada vez mais, ouvintes.
Mas, pensando bem, eu deveria ter feito o "filminho" só com imagens da moça Ava, verdadeira autora dos sentimentos que Sinatra chorou no disco. Agora é tarde!


PS. Se vocês quiserem escutar esses 1001 Albuns antes que vocês morram, cliquem aqui que uns romenos malucos separaram, album a album, todos eles para vocês.
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7 comentários:

Anônimo disse...

Fala tio,
to com um blog também, sobre produção musical e tecnologia.
Agora fica mais fácil manter o contato.
Aguardamos sua visita, agora com quarto de hospedes.

Zédu disse...

Fala, sobrinho! Grande André!
Deixa o quarto me esperando que uma hora eu chego.
Mas depois me conta como chegar no teu blog.
Abração de tio,

Anônimo disse...

In the wee small hours of the morning
In the wee small hours of the morning
While the whole wide world is fast asleep
You lie awake and think about the girl
And never ever think of counting sheep

When your lonely heart has learned its lesson
Youd be hers if only she would call
In the wee small hours of the morning
Thats the time you miss her most of all

Folhetim disse...

Esta postagem fez-me reviver cenas de um escritório onde, por alguns dias, duas cadeiras se emparelharam em ternuras e trocas. Uma simples e doce parcela na soma de seis dias onde, enfim, os meus dois rios encontraram-se e misturaram-se. Adorei os créditos (rss). Eles "falam", com clareza, desse misturar.

O texto tem aquele jeito teu de passear confortavel e adoravelmente pelas palavras. Dizer o óbvio? Então vá lá! AMEI!

Beijos todos teus,

Anônimo disse...

Zédu.
Gostei muito desse número. Como sempre vou por os comentários aqui mesmo e depois você edita se quiser por na página.
Adorei o texto. Você continua brilhante nas suas pesquisas e a matéria me levou aos anos da minha remota juventude.
Beijos
Anna

Anônimo disse...

Uma vez, e faz muito tempo, brinquei que estava em hollywood e era atriz. Minha imaginação carente precisava de algum parâmetro para que eu incorporasse uma musa das telas de cinema. Perguntei a minha avó, no canto da sala a ler suas revistas de contos, qual mulher linda ela gostaria de ser se pudesse fingir-se como ela. Minha avó não vacilou: "Ah...queria ser Ava!" Demorei a ver uma foto da tal, mas sabia que se minha avó a indicava como modelo, devia ser linda, especial. Porque minha avó era dessas, que tudo sabia. E hoje estou convencida de que ela estava certa. Ava era, sem dúvida, maravilhosa!
Boa noite.
Célia, sonhando ser Ava Gardner

Anônimo disse...

pois creiam que viajando na suavidade da música e entrando na foto de Ava Gardner, vi que de fato minha irmã hoje com 66 anos e ainda linda, provocou suspiros nessa BH por parecer mesmo e muito com ela. Interessante que ela se chama Avani. Quem explica?

Beijo meu amigo por essa delícia sentida.

Meire