quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Fundação

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Tenho, ainda, o teu corpo nos meus braços;

Sobre os meus ombros, teu cabelo.

Descansando dos meus e teus cansaços,

Tu dormes por nós ambos. Só eu velo.



Nos meus braços teu corpo estremeceu,

Desse tremor o meu foi percorrido.

Colados, curva a curva, onde começa o teu?

Onde se acaba o meu? Teu e meu têm sentido?



Teu ligeiro suor penetra a minha pele:

Teu suor dos transportes de há momento

Que me atrevo a provar como quem lambe mel,

Em que refresco as mãos como num leve unguento.



Brandamente, por vezes, te desvio

De mim, para melhor, depois, sentir

Que és bem tu que eu agarro, acaricio,

Bem tu que eu pude, em mim, fundir.


José Régio
com Inês

4 comentários:

Anônimo disse...

Era desta suave e excitante pimenta a que eu me referia noutra postagem. Beijo, Célia.

Anônimo disse...

Há uma canção assim:
Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu.


Há um Nuno Júdice assim:
Mas é isto o amor,
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
ele que mal corria quando por ele passamos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar.


Há um Neruda assim:
Has venido a mi vida
con lo que tú traías,
hecha
de luz y pan y sombra te esperaba,
y así te necesito,
así te amo.


Há um amor assim:
O meu por ti.

Anônimo disse...

Zédu, o meu nome não vai fazer diferença no que eu vou dizer, então sinta-se a vontade se quiser apagar o meu comentário.
Só queria dizer que além da belíssima poesia de José Régio, fascinou-me o comentário acima. Já disse isso aqui um par de vezes e sempre referindo-me aos comentários dessa mesma moça cujo nome está abaixo do nome do poeta. Gosto dessa dose dupla. Meus sempre parabéns aos dois.
Bj.

Dois Rios disse...

Aonde anda o homem das carambolas? Não gosto de me deixar ficar sob uma árvore quando não há flores e nem frutos para colher.

Essa caramboleira anda de conchavo com o ipê da sua praça. Não floresce e nem frutifica.

Beijos agridoces,