sábado, 18 de outubro de 2008

Summertime




Você,
.
Têm horas que você me sabe tão menininha. Não me pergunte por causa de que, que responder eu não saberia. Mas menininha, assim de diminutivo bonitinho (que nem sempre eles são, como bem sabe você, moça das letras), assim com uma certa brejeirice que se descombina com teus tantos anos, com teu tal tamanho, e se combina com os meses em que te conheci pequena e leve.
As marcas me chamaram atenção por serem poucas, na minha expectativa, e tão leves, de lápis tímido, oferecidas para um apagamento possível, um desmarcar que nunca farei. Não passei por elas, as tuas marcas, ainda; um dia haverei de. E, como temes em outro mail, concluirei você com a ousadia de que sou capaz, mas sempre sabendo que entre você que eu suponho e você, há uma distância tamanha e um nada que me justifica. Supunha-as, às marcas, em amarelo de marcadores, em confissões explícitas das frases gostadas e abaladas, das coisas afetadas, do indelével que de mim roubaste. Não foram, não são, jamais serão. Como tudo de você, são frágeis, pedindo apagamento ou, se assim eu quiser, acolhimento e guarda. A grandona que é tão pequenininha que ninguém percebe a pequenice. A menina que, uns dias, encontrou-se com um meu menino e se deu tão bem, ele com ela, ela com ele. O menino explícito com a menina implícita, que nunca foram, por conta disso tudo, homem e mulher (ou nunca se deixaram ser, jamais hei de saber). Meu encanto te encantando e, eu, encantado pelo próprio encantamento. Até que a vida nos acordou desacordados.
Reveja as marcas e escreva, que isso você sabe fazer direitinho, seja de que marcas falamos aqui.
Eu, por outro mesmo lado, nunca soube das marcas fazer escrita. Sei, às vezes, delas fazer poemas, no enquanto elas duram na marcação, enquanto ardem na pele sob o ferro que as faz marcantes. Quando viram cicatrizes, me recomponho, desapareço com elas, desconstruo o delas em mim, me revirginizo, leão covarde das batalhas passadas. Apago, ao custo de mim mesmo, e não as pago, nem me deixo as pagar, numa dívida em suspenso que, alucino, sustenta a ilusão de que nada nunca acaba, de que sempre resta um fio para um passado que nunca existiu ou para um futuro que nunca sequer foi sonhado.
Daí, talvez, ter te pedido as marcas no livro que nunca te dei. Daí tê-las imaginado em tintas de não apagar. Daí a dúvida que agora tenho se apagarei teus traços frágeis e te contarei esquecido do que foi você em uma coisa minha.
Sobre teus textos, não me convoque opiniões que ainda não te leio livre. Um deles já conhecia; o outro tomei por encomenda contada, coisa da moça exibida que se adora publicada. Competentes os dois, o segundo bem mais bonito que o primeiro (talvez por só tê-lo visto lá, onde ele se apresentou inédito para meu olhar já desacompanhado), a coisa dos flocos de neve, essas marcas que se derretem e viram quase nada de água, esse pai que não se derrete nunca, essas lembranças, que nem sei se tuas ou das tuas escrituras, a nomenclatura que exibes orgulhosa como quem escreve se dizendo especialista na coisa, esse texto bem torrado, servido no bem coado de depois de um tempo que já não suponho.
Teus textos, ainda tuas marcas, me demandam escritas sem sentido. O louco da casa rides again. Quem me dera a tua louca te habitasse e virasse tua temperança de cabeça para cima, que a imaginação sempre assustou as tuas razões bem plantadas em outras terras de colheitas difíceis. O calor dos nortes, as matas densas, as noites sem sorte e as vidas pretensas, tuas razões para todas as evitações de agora, para as repetições sem hora, para esse colo de pai que nunca mais nevará.
O horário de verão começa daqui a pouco. Summertime, choro que aprendi na imitação da vida que descobri nas telas do cinema.
Te respondi? Te devolvi algumas marcas minhas? Grafei? Ou, como usual, escrevi sozinho uma história que nunca soube contar direito?
De resto, nada será como antes.
Beijo,

Eu

PS. Desculpa, mas seco como ando, vou transformar esse meio ousado, meio cansado, em post lá onde me demonstro por escrito.




2 comentários:

Anônimo disse...

The man I love is back.

Beijo,

Anônimo disse...

Respostas dadas. Vc sempre será pessoa importante para mim, com todas as tuas marcas. E eu, com as minhas, espero tb por vc ser pessoa querida. Pq não nos trombamos ao acaso. Aprendemos, muito, sobre nós mesmos neste encontro de tempo e espaço. Bjs