sábado, 11 de outubro de 2008

A música que quase não foi

The Man I Love, de George e Ira Gershwin, ficou na gaveta dos compositores por muitos anos. Ruy Castro conta, em seu livro Tempestade de Ritmos: Era uma vez um compositor e um letrista que, tendo escrito uma canção que, sozinha, poderia render dinheiro para sustentá-los a ostras e charutos pelo resto da vida, deram-se ao luxo de deixá-la na gaveta - e, se não fosse por uma amiga que levou a partitura para Londres, onde esta foi tocada e "descoberta", a tal canção ficaria desconhecida para sempre. Dúvida? A canção é The Man I Love, e seus autores, os irmãos Gershwin, os estróinas que por pouco não poderiam ser acusados de um dos crimes do século: o de sonegar 32 dos mais belos compassos da música popular". Alguém discorda que seria um crime?
A canção já apareceu por aqui pelo blog, já não me lembro em qual gravação. O fato que quase não há cantora de jazz que não tenha ousado uma sua interpretação desta música. E, como acontece no jazz, cada uma leu a canção a sua maneira. A que aqui posto, depois desta longa pausa em que o blog também ficou na gaveta, é interpretada por Betty Carter, que a traduz de uma maneira bastante diferente das gravações que nos acostumamos a ouvir. Além disso, o acompanhamento musical é de primeira qualidade.
Fora isso, resta dizer que essa música é tão bela que mesmo a maneira como ficou marcada, indelevelmente, em mim, não consegue nunca estragar meu prazer de ouví-la. Mas, vamos ao meu azar: início da década de 80 no Rio de Janeiro, tempo em que eu frequentava muito os teatros cariocas. Uma noite, assistindo uma peça da qual só me lembro que era sobre um pobre rapaz novaiorquino, judeu, comunista e homossexual (temática meio comum naquela época) e seus sofrimentos. Em um certo momento, desce por um poste, tipo aqueles que vemos nos quatéis dos bombeiros do cinema, Guilherme Karan como uma drag-queen cantando, e bem, The Man I Love. Depois disso nunca mais consegui escutar a música sem me lembrar da cena ridícula e escrachada. Mas a música é tão boa que mesmo assim continuo me deliciando.
Ah!, em tempo. Carmen McRae chegou a dizer que Betty Carter era, na verdade, a única cantora de jazz que existia. Exagero, mas diz alguma coisa sobre Mrs. Betty Carter que ainda não havia comparecido por aqui, pelo menos sozinha já que em algum lugar do blog ela faz um dueto com Ray Charles em Baby, it´s cold outside. E, último aviso, a foto que ilustra o vídeo é de Billie Holiday, meio que a dona da canção.





Um vídeo Zedupoca Productions que também pode ser encontardo no YouTube
Basta clicar aqui

Um comentário:

Anônimo disse...

Que bom ver o blog movimentado de novo!
Magaly