domingo, 19 de outubro de 2008

Marcador

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figura: ferros de marcar

Adiante o relógio, pule uma hora,
Declare o seu horário de verão.
Às vezes adianta, outras vezes não.
Desculpe a paz que foi-se embora,
As marcas deixadas que já chorei,
O lápis, o ferro em brasa
O inverso, nas marcas, do que na vida
Os poucos versos
Qualquer coisa devida
O resto intragável
A aposta perdida
E o amigo impossível
Que nunca serei.

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Um comentário:

Inês Queiroz disse...

Ah, meu lindo Zé, você e a sua absoluta capacidade de versar as emoções. Teus poemas estavam me fazendo falta.
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"Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos - a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo. Todos estes meios tons da consciência da alma criam em nós uma paisagem dolorida, um eterno sol-pôr do que somos. O sentirmo-nos é então um campo deserto a escurecer, triste de juncos ao pé de um rio sem barcos, negrejando claramente entre margens afastadas"

Bernardo Soares / O Livro do Desassossego, Colecção Novis, p.131


Beijos muitos,