sábado, 25 de outubro de 2008

Seda


Matisse
Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluír de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar grãos de nada em mínima balança
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir,

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas como o pensar te pudesses partir.

António Gedeão ( Poemas escolhidos)
Para Inês

4 comentários:

Inês Queiroz disse...

desilusão:
pintura inacabada
grãos de penas pesadas
arames no chão (re)cortados
cinzas num resto de nada
criança desamparada
lãs no ar dispersadas
gaivotas de asas cansadas
película de loiça inalterada.

ilusão:
coração a estalar em cada ternura de um teu pensar.

Beijo,

Zédu disse...

Beijos, de todas as formas, com todos os cuidados, com toda minha delicadeza.
Com meus pedidos tantos, com meus quereres tontos, com meus sonhos todos que vão se aprendendo de novo, nessa coisa da teia que nos marca novos.
Em ti aprendo que sem ti pode ser contigo, pode ser comigo, pode ser essa eternidade que acabamos de recomeçar em novo abrigo.
De ti, o carinho sempre, o você presente, o recolher ausentes, o sonho, quase permanente, desta porcelana frágil que se fez semente.
Dois Rios, um Rio, uma mistura em algum lugar que nos toma, um Amazonas.

Dois Rios disse...

Se me pedissem para citar uma palavra de que mais gosto, eu diria: VEM.

Há, nessas três letrinhas, um vasto poder de fazer-me sentir querida, amada, desejada, acompanhada, acarinhada. Há também uma plena certeza de que não estou a mais, de que a minha presença é suave, é grata. Que me querem por perto a partilhar, a estar na vida de quem me chama.

Para mim, a palavra vem é sinônimo de ninho, aconchego, afeto.

Foi esta palavra que li nos teus escritos acima.

Sabemos, tu e eu, que a estrada é de mão dupla. Irei, virás e, de alguma forma, sempre permaneceremos juntos neste nosso novo caminhar.

Beijo,
Inês

Anônimo disse...

A poesia é indiscutivelmente linda, mas os comentários aqui são mesmo de tirar o chapéu. Aqui você compra uma poesia e leva outras tantas.
Abraços
Kátia