quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sexo é política ou Calabárbara


Um post leva ao outro nesse aleatório em que se estabelecem minhas carambolas, meu desejo e, ao fim, as mortes que me constroem. Da tatuagem anterior, sem perder o espírito, antigas politicagens encontram seu caminho. Ainda com o belo poema anterior em mente, brinquemos de fazer alguma política tardia, só para retornar, em música, versos e imagem, aos corpos tatuados, ao desejo de carne viva.
Em 1973, Chico e Ruy Guerra, brasileiro e português, escreveram Calabar, O Elogio da Traição. Falavam do papel relativo dos mocinhos e bandidos durante a ocupação holandesa de Pernambuco e arredores. Dos portugueses broncos e dos iluminados pelo Príncipe de Nassau. Coisa sérissima naqueles anos de chumbo dos militares "portugas" que nos salvavam a pátria. João Caetano, o teatro, pronto, a peça anunciada, o Rio antevia o Fado Tropical que lá se cantaria. A peça foi, é claro, absolutamente censurada, em nome da boa política e, principalmente, dos bons costumes.
Pois as músicas que ficaram, e que Chico teve que gravar em um Lp não chamado Calabar, mas Chico Canta e ponto (se me lembro bem, ainda comprei o LP com o nome Calabar impresso na capa; os milicos eram burros e meio lerdos), falavam de amores, bárbaros e bárbaras, de tatuagens, e de alguns "cala a boca"´s amorosos (Fado Tropical, pedido que um dia acatarei, é uma das poucas músicas diretamente políticas que permaneceram). Algumas das peças mais pungentes, sexualmente falando, da obra de Chico, vieram deste manifesto político que ficou calado para sempre. O político ficou mudo, para os que não sabiam escutar, mas a tatuagem marcou-se nas peles de nossos amores.
Ou seja, mais uma vez o sexual foi a revolução que não se calou, ou pelo contrário, foi aquilo que, em nós, fez-se calado, apesar da burrice da censura, da estupidez do moralismo que exercitava então. Alguém se lembra do general de plantão? Mas as marcas no corpo, que queriam ficar como tatuagem, até hoje estão impressas em nosso imaginário amoroso.
E, dada a postagem anterior, aqui venho demonstrar que política é desejo, o tesão revolucionário, e a fome dos corpos eterna.
O Brasil ainda será um enorme Portugal?
Ainda não existe pecado do lado de cá do Equador?
Quem calará a voz de Bárbara?
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Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes...

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