domingo, 7 de dezembro de 2008

Fado

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Um amigo acaba de voltar de Portugal. Aliás, vários amigos têm voltado de Portugal. Alguns, entretanto, nunca voltaram já que, como diriam nossos amigos de lá, nunca foram. Mas, brincadeiras à parte, os que lá têm estado retornam encantados, com a terra, as gentes, a comida, etc. Mas esse amigo em particular voltou com uma sensação estranha: descobriu nos seus dias na terrinha que carrega um português dentro de si. E, como diz ele, esse português em seu peito é um homenzinho triste, meio melancólico, coisa que lhe assustou e desagradou um pouco. No entanto acredito que meu amigo só descobriu o que qualquer brasileiro com um pouco de sensibilidade acaba descobrindo quando se deixa levar pelos ares, aromas e músicas de Portugal.

Pois, livrar-se do português em nós, quem há de? Bem que tentamos esquecer nossas origens, a alma que herdamos, a língua que é deles e nos conforma, a saudade que nos orgulha enquanto palavra e nos marca todos os sentimentos. E, tem razão o amigo, o português é meio triste, assim melancólico, de olhos sempre voltados para o mar esperando o retorno de D. Sebastião, o que nunca virá. E disso diz bem a música que por lá se canta com as entranhas.
Claro que por aqui, sob esse sol tropical que nos espanta as tristezas mais sombrias, essa melancolia fica escondida no fundo bem fundo da alma brasileira, retemperada pelos índios e negros de nossa formação, pelas demais misturas, por nossa malandragem macunaímica, pelo infantil alegrinho que insistimos em ser. Mas, olhando bem, todos temos esse portuguesinho escondido em algum canto d´alma.
Eu, que já elaborei por aqui sobre o chorão em mim, redescubro a matriz onde se imprimiu o Chorão da casa do Bosque. E aceito meu fado.
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Um comentário:

Maritza disse...

Marisa, sempre perfeito! em algum lugar bem escondidinho, há um resquício de Portugal em mim também. beijo