terça-feira, 9 de dezembro de 2008

MEU AMOR ME AGARRA & GEME & TREME & CHORA & MATA

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Quando fui para o Rio em fevereiro de 1972, depois de um breve período na Rua Corrêa Dutra (onde escutei o Cais que aqui já postei), mudamos (Itiro, João, Sérgio Paulo e eu) para um apartamento na Rua Almirante Tamandaré. O apartamento era um daqueles típicos apartamentos antigos, da época que Flamengo e Catete eram bairros chiques; quatro quartos, sala enorme, ´ssas coisas que, em 1972, 3 estudantes de mestrado e um professor podiam sustentar sem que fosse um luxo. Nele realmente comecei a viver minha vida carioca, o deslumbre com as meninas, bem mais dadas do que haviam me acostumado as campineiras, o Filé à Francesa do Lamas (ainda no seu local original) e, confesso envergonhado, por pura preguiça, a Praia do Flamengo com suas águas já imundas.
Daquela época guardo inúmeras recordações, algumas inaugurações e, até mesmo, uma paixão. Eram outros tempos, quando só com minha bolsa de mestrado eu bancava gasolina do carro, os eventuais motéis (grande novidade que só fui conhecer no Rio), as cervejas e filés diários no Lamas, onde Firmino, nosso garçom, nos fazia furar fila e sempre dava um jeito para que não esperássemos muito por uma mesa.
Na esquina de casa, ou seja, na Almirante Tamandaré com Rua do Catete, havia uma pequna galeria, com lojinhas simples de todos os tipos. Em uma delas eu passava quase que diariamente para verificar as novidades em LP. Um dia comprei o LP de Jards Macalé que ilustra este post.
O Lp era um biscoito fino. Músicas de Macalé com Capinam (grande letrista que morreu muito jovem), com um grupo pequeno e super afiado de belos músicos. Foi neste LP que conheci Movimento dos Barcos, música que depois marcou de maneira definitiva meu adeus à vida de solteiro no Rio e minha mudança para a Senador Vergueiro onde havia alugado um apartamento para casar.
Anos mais tarde, quando ainda era suportável assistir o Programa do Jô Soares, escutei uma entrevista com Macalé. Como artista, Macalé sempre foi meio maldito, por não fazer concessões numa época em que as concessões foram se tornando quase que obrigatórias. Em um determinado momento, Macalé se refere ao LP em questão e afirma que, segundo a gravadora, foram vendidos só 14 exemplares do mesmo. Morri de orgulho de, pela primeira vez, estar em um tão seleto, e pequeno, grupo. Pena que o LP sumiu de mim junto com os outros quase 2.000 que já tive.
A música do filminho é do LP, composição de Macalé e Capinam, e sempre foi uma das minhas favoritas. Com ela descobri que meu amor não passava de um tigre de papel e me despedi do cais para seguir viagem no movimento dos barcos. Até hoje não aportei direito.
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3 comentários:

Anônimo disse...

Paixão essa reinaugurada no vai e vem do movimento dos barcos que o trouxe ao mesmo porto de onde seguiu viagem. É a vida dando voltas.
Ótimo texto!

Zédu disse...

Esses anônimos bem informados... Mania de ter medo de assinar o nome.

Folhetim disse...

Gosto quando as suas espiadas pelo retrovisor alcançam 73. É que eu também me avisto por lá em muitas daquelas músicas, ruas, praias, bares, amores e, principalmente, no simbólico cais de Jards Macalé de onde partiste para, assim como eu, seguir viagem no movimento de outros barcos.

Beijo,