terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A palavra se mente


O Jardim dos Poetas (Van Gogh)
Cada palavra é uma mulher
e como elas, sempre não toda.
Como elas, nos dão prazer,
nos tocam, adágio e coda.
.
Cada qual uma sinfonia
com naipes de significação.
Dependem das cores do dia
e dos ares da estação.
.
Cada palavra é escolha,
um beijo esperando boca.
Frágil como uma bolha,
única, bela e pouca.
.
Toda palavra é um engodo
que cremos poder desfazer.
Mas como, se no seu jogo,
é da palavra não ser?
.
Cada palavra é um brinquedo
que nos convoca ao jogar,
usá-las, sem receio ou medo,
dizendo-as como no amar.
.
Pois a palavra é mulher,
coisa com que se deitar,
e jamais fazê-la qualquer,
comê-la sempre com olhar.
.
Às vezes, tristeza ou alegria,
juntá-las em multidão,
e fazer brotar a poesia
que voará de nossas mãos.
.
Delas jamais ser dono,
aceitá-las como puder,
sonhá-las como num sono,
tomá-las como mulher.
.
E falar, falar, sempre falar
como grávidas loucas,
e fazê-las multiplicar
no útero de nossas bocas.
.
E depois de com elas dormir,
palavras que nos consomem,
livrá-las, deixá-las ir,
calar-se e tornar-se homem.
Praça/Frango, 10 de dezembro de 2007

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