quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Sob o dossel de minha cama


Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
.
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de
desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade

4 comentários:

Anônimo disse...

Um dos mais pungentes encantos do amor, é o de esperar dias e meses, o que já não se pode suportar nem por mais um minuto...

Anônimo disse...

O amor é lindo!

Anônimo disse...

Ah Drummond. Tem melhor?
Sim, que seja sempre lindo o amor

Abração,

Meire

Anônimo disse...

I always motivated by you, your opinion and attitude, again, thanks for this nice post.

- Murk