quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Tem horas que ter é tão maior que estar...



Navegando meio sem rumo por esses mares virtuais acabei caindo em um lugar que me pareceu um esconderijo de dois amantes muito especiais, meio antigos até. Me senti um pouco invadindo algo que era, obviamente, um cantinho no beira mar internético, reservado para uma troca intensa de declarações de amor e delicadezas que só na fragilidade do amor somos capazes. Pelo que pude perceber, trata-se de um daqueles amores impossíves, cujas razões da impossibilidade não me foi dado advinhar. No entanto, ao ler os bilhetes ali trocados me veio a sensação que para aquelas duas pessoas o ter uma à outra era mais importante que o poder ou não estar juntos. Nada sei sobre eles a não ser que são belos e felizes, ainda que a tristeza do não poder ser algo mais não deixe de comparecer na história que ali se advinha. Afinal, já dizia Vinícius, todo grande amor só é bem grande se for triste. Das coisas que lá encontrei, uma me tocou mais fundo, em um certo ponto de inveja, numa vontade de que fossem minhas aquelas palavras, que fosse minha aquela mulher que as merecia. E, por uma dessas coincidências incríveis, o bilhete termina com palavras de um poema que eu gosto muito e que já devia ter colocado aqui no blog. Talvez coloque o Me Basta Asi em seguida ao bilhete de amor que posto agora e que lá recolhi furtivo. Poema e bilhete se uniram numa inveja boa que agora divido com vocês por aqui. Esse bilhete, que mantém uns poucos sentidos obscuros para nós que o lemos de fora da história, é uma linda declaração de amor, principalmente se acreditamos no compromisso com as palavras e com o bem dizer. Se um dia o roubado autor, ou a amada que mererceu as linhas abaixo, passar por aqui e, como será inevitável, perceber o roubo aqui publicado, peço que me perdoe e que saiba que apesar de toda beleza do que lá li, torço por um "quem sabe" diferente, pois o mundo anda muito carente de amantes vivendo juntos um cotidiano amoroso. Omito, por respeito à intimidade que, sem querer, invadi, o site e os nomes; em tudo mais, o bilhete lá me encontrou exatamente como copiei abaixo.


"Essa foi a coisa mais bonita que já ganhei de alguém. Digito dedo a dedo, com um aperto no peito, com os olhos molhados, numa confusão de emoções que, chego a pensar, assustam meu coração ferido. Mas me lavam a alma e todos meus por dentro. E me metem medo do demais de tudo.
Me cala uma vontade enorme de tudo que não posso e tanto queria. Me cala a beleza dos poemas trocados. Me cala a espera que espero contigo. Me cala esse sentir confuso, mistura rara que não sei nomear. Me cala o ouvido no qual não posso sussurrar, os lábios cujo sorriso não vou poder beijar, os olhos que não enxugarei, o medo que não posso abraçar e espantar de ti. Me cala o corredor onde não andarei nervoso a espera de tua volta. Me cala o não poder te olhar quando você acordar depois e o sorriso que não poderei te dar. Tudo me cala fundo.
Digito, paro, busco músicas, nada diz o que em mim é calado. O início de Tatuagem, prá ficar no teu corpo quando a noite vem, pedaços de outras letras, canções de ninar, mas nada diz tudo, nada é suficiente, nada revela o buraco que nesse momento sinto no peito, não de falta, mas de excesso, de turbilhões. Medo de explodir de tanto você.

Me calo.

Creo en ti.
Eres.
Me basta


Teu, para sempre como você quiser."


(Saturday, April 14, 2007 11:31 PM)
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Torço por vocês, meninos (os amantes são sempre meninos, pois não?)

PS. O bilhete é datado de abril, mas a correspondência continua, cheia de outras coisas tão belas como esta.

2 comentários:

Inês Queiroz disse...

Grande descoberta. A vastidão de um amor como esse, ultrapassa os ilmites do impossível. Pode haver a tristeza do não poder, como vc mencionou, mas a alegria de ter, sobreleva-se a tudo.
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"O amor é a despeito,
é além,
é sobre,
é apesar".

Beijos,

Anônimo disse...

E quem não sentiria inveja desse amor antigo? Já não se fazem amores assim impossíveis como antigamente.