quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O amor de vidro




Manoel de Barros, é claro

Roubado do site de uma das maiores especialistas em Manoel de Barros que conheço

Um comentário:

Anônimo disse...

Ah, Zedu, especialista não sou, longe disso, sou é amante da obra dele. Levei seus livros comigo para ler nas planícies inundáveis do pantanal, mesmo antes da inundação delas. Lá eu disse um dia que se ele não existisse, haveria de ser inventado como a sexta vogal apresentada ao mundo na gramática expositiva do chão. Vogal poderia ser natureza?

Bom demais da conta que alguém seja especialista neste Barros cheio de Manoel e que por isto entenda como eu desejaria ter escrito este poema que está lá no livro Sobre Nada e que eu leio todas as vezes arrepiada.

Que me perdôe o grande poeta deste sertão pantaneiro, mas penso que antevendo a emoção de um tanto de gente como eu, ele o fêz por elas ...
e lá vem ele ...

"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.

Tudo que não invento é falso.

Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.

Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.

Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.

Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.

A inércia é o meu ato principal.

Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.

O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.

A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.

Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.

Por pudor sou impuro.

Não preciso do fim para chegar.

De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra
— Como um lápis numa península.

Do lugar onde estou já fui embora."

Chove aqui e é muito bom estar fazendo isto...

Um beijo meu amigo,

Meire