sábado, 22 de dezembro de 2007

O ano poente

foto: Zédu

Existem anos que acabam
sem que saibam nascer um outro;
são estes os mais terríveis,
os anos que não sabem morrer.
Restam como um por do sol
que nunca se põe,
uma alvorada que se prenuncia
e jamais brota.
Nem direito, nem avesso,
são nós que não se desfazem,
nem permitem que sigam benditas
as primeiras pessoas do plural
do novo verbo que deveria,
ali, se redizer.
Engolem o tempo e a eternidade,
sem ser buraco,
negro ou luminoso,
eterno retorno de um nada
que reluta em deixar-se ser.
Não morrem, e já não vivem,
Não correm mais os dias,
os minutos, os segundos,
gélidas paralisias de um não haver.
Não se contam, nem se deixam falar,
mudos congelados
na fria fotografia
de um passado que não se esvai.
Não viram recordações,
belas, tristes, doloridas;
permanecem à flor da terra,
abertos, finais, insepultos,
não passando o presente,
não germinando o futuro.
São terríveis os anos que não se enterram.
Neles se quebram os espelhos,
vagueiam esperanças doidas,
planos se apagam lentamente,
por falta de novos ares
no ar que ali se para.
Vidas estarrecidas,
afogadas por falta de vida
no haver paralisado.
Nada morre,
nada segue,
nada brota.
Tudo se esgota
nesses anos que não têm mais fim.
22 de dezembro de 2007

2 comentários:

Anônimo disse...

Zedu,

Putz...quase sem comentários ...muito bom...

Parabéns: publique mais , publicize, pelos becos e bocas, pelas grotas que seja até em voz rouca...

Eu quero ler e reler sua poesia tantas vezes quanto seja necessário para deixar romper novos dias, para que venha um 2008 de fruição inteiramente nova...

mais um abraço,

Meire

Anônimo disse...

Me lembra aqueles sonhos ruins que se repetem e nao se decidem, uma mesmice só, nem retrocedem nem se adiantam. Mas ao descrever tao bem, vc deles parece que me liberta.

Neuza.