quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Para uma amiga que não conheço


O Real é uma merda
quando nos cai sobre a cabeça.
Falta a palavra, explode a perda,
e sobra o desejo que tudo anoiteça.

Mas, se ao que não tem remédio,
só nos cabe remendar,
o resto é o tédio,
de nosso mal falar.

O Real é rombo, furo no nada,
a vida segue, a morte não há.
A verdade insiste, apalavrada,
e nos cabe um tempo ao Deus dará.

E até que o remendo, ali pensado,
nos permita o futuro que a Deus pertence,
vagamos, escolhos de naufragado,
tentando seguir algum em frente.

O Real não tem remédio,
só nos cabe acreditar,
e do horror deste assédio,
aprender a remendar.

Não sou eu quem me navega,
quem me navega é o mar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu anonima meire que esqueci minha senha ...quero voltar nesta parte do blogg e muitas outras ....sinto saudade e gostei bem do que eu vi...beijo

Alana disse...

Unidos pelo mesmo horror de presenciar o inenarrável;unidos pelo amor à uma mesma linda mulher.
As palavras não alcançam para descrever o tamanho da nossa tão grande dor... E, no entanto, sem contato, sem colo, sem cheiro, sem toque, de repente achei um interlocutor, um espelho que me devolve a mesma imagem de desamparo e perplexidade frente à crueldade do REAL e, ao ler o que vc. escreve, só sinto vontade de chorar e sei que posso sentir o que vc. um dia, muitos dias, todos os dias, ainda sente.Porque eu também sinto o mesmo... Alana