quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Caderno de lembranças (1965)



Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda areada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

Vicente de carvalho, 1908


Vicente de Carvalho, poeta santista, praiano, quase esquecido nos dias de hoje.
Na infância brinquei muito aos pés da estátua em sua homenagem que
existe na praia do Boqueirão, em Santos, onde eu passava um terço
dos meus anos de moleque. Tempos depois encontro o livro,
Poemas e canções na biblioteca lá na casa da Emílio Ribas, 713,
casa onde vivi dos dois anos de idade até ir para o Rio em 1972.
Anos depois, em 1965, uma menina de 15 anos me deu seu "caderno de lembranças"
para que eu lá colocasse algo para ela (as meninas tinham esses cadernos
no início dos anos 60). E esse foi o poema que coloquei.
A casa onde li o livro, descobri trás d´ontem,
está sendo demolida. A biblioteca já havia se espalhado faz muito tempo.
Mas o livro, acabou comigo.
E mais,
casei com a menina e o poema.
Que ficaram comigo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Zedu, não sei postar um comentário, mas ele segue assim:

"A me-nina não acaba; só, envelhece. E discorda do poeta, só-depois."

Não gostei do "acabaram comigo"; mas não deixa de ser uma surpresa. Nina

Zédu disse...

Nina,
Os dois, você e o poema, não acabaram comigo? Porque a leitura do "me foderam". Estão ambos comigo, e comigo ficarão, até eu acabar. Mas é claro que a ambigüidade faz parte da brincadeira.
Bjs,
Zédu

Zédu disse...

Brincadeira feita, texto corrigido para suprimir a ambiguidade, coisa que nunca é demais.

Anônimo disse...

Em outra direçao o meu comentario quer falr da vontade que me deu de cantar agora e cantei , ao ler esta poesia ...ai que saudades que eu tenho da aurora da minha vida ....da minha infancia querida que os anos nao trazem mais do grande Cassimiro de Abreu

Meire

Anônimo disse...

Que lindo o que disse da me-nina e do poema que ficaram com vc....bonitinho demais...coisas do tempo da delicadeza me emocionam sempre.

Meire