quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A duras penas


Aprendizado

Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.

Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão

que a vida só consome
o que a alimenta.

Ferreira Gullar
[Barulhos-1980-1987]
Obrigado, Inês
Ver comentário

Um comentário:

Zédu disse...

Há uma beleza no sofrer por amor. Algo que escapa à dor que, ainda assim, existe tal qual Gullar a diz. Pode ser que seja ainda o calor dos momentos recém passados, mas há uma embriaguez que perdura. Quem sabe esse aprendizado do poema só possa começar depois do sonho; quem sabe o sonho reviva o acordar e poema reste só uma belezura que não chegou a ser. Doía mais ontem do que hoje, mas pode ser que amanhã seja insuportável. Ainda não sei ao certo. Há que viver cada vão momento, como dizia outro poeta. Vive-lo-ei, pois fi-lo porque qui-lo, como dizia outro embriagado. Eu saberei, ela saberá. Se contarei pra vocês é outra história. Mas, aprendo que, no amor, há que ir devagar com o andor.