segunda-feira, 21 de maio de 2007

Stabat Mater


Pietro da Rimini
c. 1330-40

Se ao menos esta dor servisse,
se ela batesse nas paredes,
abrisse portas, falasse,
se ela cantasse e despenteasse os cabelos.
.
Se ao menos esta dor visse,
se ela saltasse fora da garganta,
como um grito,
caísse da janela, fizesse barulho,
morresse.
.
Se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora,
sujar a rua, os carros, o espaço, o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre e tem o direito de não sofrer.

Se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer visível,
doer penalizante,
doer com lágrimas.

Se ao menos essa dor sangrasse.
.
O Grito - RENATA PALLOTTINI
[A Faca e a Pedra. São Paulo: Brasil Editora, 1965
]
.
O Stabat Mater talvez seja uma das coisas mais musicadas de todos os tempos. O post melhor se diria com Pergolesi, gênio quando se podia ser gênio aos 25 e morrer logo após, tuberculoso. Evitem as gravações com as grandes damas, que reduzem Pergolesi à campo de demonstração vocal e duelo de prima donas. Um dia lhes conto de minha gravação preferida. Por enquanto, bateiem, garimpem, escolham. Mas Pergolesi é essencial.

3 comentários:

Anônimo disse...

Fragmentos, Menina com Brinco de Pérolas, Menino Brincando de Pérola, Estudo Para Uma Jovem Mulher, Marvada Carne...e lá ia a menina de mãos bem apertadas com uma alegria que ela nem bem sabia aonde estava mas, como toda alegria já vem embrulhada numa tristezinha de papel fino, ela tinha um grande medo de perde-la. Um dia ele falou de uma dor que ele não sabia o nome e ela chorou nos versos que eram pra ele. Os brincos de pérola se perderam. Talvez tenham afundado no Rio das lágrimas que ela ainda chora com ele. A esperança da menina é que ele mergulhe nesse Rio de águas turvas e profundas a fim de devolver-lhe os brincos de pérola e a alegria que ela continua sem saber aonde está.

Unknown disse...

eu vi este comentário ....li e reli....mas quero fazer um contraponto a ele ...mais tarde que agora estou de saida. Ele exigirá de mim um pensar com a alma, um pensar com todo o respeito pelo que aí está dito...Mas como sou incorrigivel esperançosa na vida, talvez desenvolva aqui um comentário que sem contradizer o que aí está posto, examine-o de um outro ponto de vista:da vida que é é hoje, da vida que é sempre...já disse M. Nascimento. Mas farei ainda um comentário, tal qual na feitura do doce para o que se precisa apurar o ponto. Talvez eu não tenha visto ainda o fundo do tacho, não tenha visto o caminho que se abre na massa doce e que o anuncia pronto. Talvez ainda não tenha capturado o ponto de vista, para mim onde falta doce, não sei se do comentário ou do poema que lhe dá origem ou se da dor que identifica-se com ele fazendo-se dele a própria dor ...Mas e o fundo do tacho onde se apura o doce, não seria um rio de lagrimas trazidas pela fumaça? Acho eu que a menina que-ria do doce do fundo do tacho ....escolheu um caminho dela ....sabendo que na vida são muitos os caminhos e os caminhantes ....vou voltar aqui ...

beijo ao amigo Zédu

Anônimo disse...

Cruzes, nêga! Eu até ia comentar inteligentemente, mas, sei lá, vai que me comentam. Beijos saudosos.