domingo, 21 de outubro de 2007

Retrato na parede

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Dias atrás, em uma Jornada que participei, alguém contou a seguinte história: era uma vez um autor, cujo nome já me esqueci, que havia sido prisioneiro em um campo de concentração nazista e sobreviveu. Depois do final da guerra, ele resolve visitar o colégio onde estudara, a classe que frequentara. Ali, na parede, repara que aonde antes havia um retrato de Hitler pendurado, haviam colocado um cruxifixo. Mas, observa e denuncia, o prego era o mesmo.

8 comentários:

I'm nobody/Who are you? disse...

ainda bem que a esse prego foi dada devida ênfase, um dos grandes momentos da Jornada.

Anônimo disse...

Caro Zédu, essa imagem contada e resgatada por você foi demais, me lembro dessa fala na jornada... e vamos nessa contra corrente, como diria Chico.

Abraços!

Anônimo disse...

Não estive na jornada. Mas para mim não era mais o mesmo prego e sim um outro sustentando o novo símbolo, independente de ser ele o prego que sustentou o retrato de Hitler e agora o cruxifixo. Os pregos naquela e em muitas escolas estão condenados a sustentáculos das reificações.

Falei bobagem...mas pensei assim.

abração meu amigo,

Zédu disse...

Querida Meire,
Não questionar o prego onde penduramos nossas ilusões é que faz que, ilusão vai, ilusão vem, e tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. è sempre do prego que se trata. Mas, confesso, isso é mania de analista. Mas pense um pouco, sempre é possível enxergar novos sentidos.
Grande abraço

I'm nobody/Who are you? disse...

Por trás de Itabira: o prego.

Confidência do itabirano

Alguns anos vivi em Itabira
Principalmente, nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento d ferro nas calças.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.


A vontade de amar, que me paralisa o trabalho
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
É doce herança itabirana.


De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Zédu disse...

Nada como uma boa provocação. O prego na parede vai acabar se tronando o recordista em comentários aqui no blog.

Anônimo disse...

De fato falei do atribuído ao prego. Tem toda razão amigo muito querido. Se não questionamos o prego as ilusões fazem dele sua âncora. Essa coisa de tudo como antes no quartel de Abrantes é pouco demais para ser vida.

Todo sentido está mesmo em questionar o prego onde penduramos as nossas ilusões. De certo modo quase fiz isso ao dizer das reificações e da condenação desse a ser sustentáculo delas - as ilusões.

Se é mesmo do prego que se trata, não deve ser o mesmo quando são infinitas as possibilidades dos novos sentidos.

Grande lembrança da pessoa que se diz espuma e que de um modo brando e indireto também alimentou a nossa conversa no blog. Isto por trazer Drummond com sua Itabira pendurada na parede e num prego outro distinto do que lhe está por traz , nela como cidade. Disse tudo com o grande Drummond. Andei por lá agora em pensamento lembrando dos ainda pendurados no prego de uma Vale de Rio nada Doce com seu manto cinzento sobre a Itabira já quase imemorial.

Beijo aos dois.

Inês Queiroz disse...

Do ponto de vista "vida", mudam os monstros, os dogmas, as ilusões, as esperanças, os amores, as cidades, as palavras, os propósitos, enfim, tudo muda, mas o prego é sempre o mesmo. Bem diz o ditado que nada é permanente, salvo a mudança.

Do ponto de vista da história, houve, na troca de um quadro por um cruxifixo, a ferrenha necessidade de "exibir" uma mudança, ainda que o autor insinue, através da afirmação "o prego era o mesmo", a continuidade dos preceitos.

Putz! Acho que viajei na maionese, como diz a Mari, rsrs...

Beijos,