quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O silêncio nos inocentes

Pior do que as montanhas,
A distância e todas as estradas,
Pior do que esta falta tamanha,
É o silêncio sem palavras.
.
Com poemas (in)ventamos ausências,
As distãncias recobrimos com saudades
Que se esparramavam com ciência,
Minha metade com a tua metade.
.
Nos encontrávamos em poemas,
Músicas, mails e tantos bilhetes,
Com palavras que faziam valer as penas
Desta vida tomada entre colchetes.
.
Mas o silêncio nos furta as falas,
O sem palavras escurece a ausência.
O vazio se impõe, ocupa, separa,
E lança luz nas inconsistências.
.
O silenciador e o silenciado,
Nos tornamos sonho desfeito,
Pesadelo desacordado,
Mudez calada de mal jeito.
.
Mas o silêncio é fácil de ser quebrado
E é mais frágil do que sermos sós.
Pois basta que de um dos dois lados
Uma palavra desfaça o(s) nós.
.
Sem causa e sequer efeito,
Sem nós que nos ausentem,
Seguimos, cada qual com seu feito
Para um outro mistério falente.
.
Quem cala consente o silêncio,
As trevas, a noite escura,
A solidão, o rompimento,
O travo na boca e a amargura.
.
Sou feito só de palavras,
Sou oco de significações.
Das letras me afirmo escravo,
Mas mudo, sou só senões.
.
E sigo, e digo, e berro,
No oco do teu silêncio,
Palavras onde me agarro
E escrevo o fim do tormento.
.
Sou eu, sou elas, somos nós,
Frases, quadras, efeitos.
Nas linhas, como sempre, a sós,
Não entendo do meu jeito.
.
E escrevo essa toda merda,
Que aqui em ti despejo,
Para me vingar da perda
E negar o meu desejo.
.
.
Luizão,
que ninguém nos veja,
mas me traz outra cerveja,
e coloca outra canção.

Frango, agora a pouco

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa Zédu, eu gostei desse "Mas calo, sou só senões",lembrei de CArtola....

Anônimo disse...

"O que sinto não é traduzível.
Eu me expresso melhor pelo silêncio."
Clarice Lispector