terça-feira, 23 de outubro de 2007

Drummond de verdade, de ferro e espuma


Confidência do itabirano


Alguns anos vivi em Itabira
Principalmente, nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calças.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação..

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem
mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
É doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Carlos Drummond de Andrade
Obrigado, Flávia

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito agradável esta postagem do ferro, tristeza de Drummond, mediado pela espuma leveza da imagem oferecida por você.
Gostei de montão..ficou lindo.

que mais coisa mais linda mais cheia de graça...

I'm nobody/Who are you? disse...

Caro amigo,

levei susto com esses significantes vindos de Itabira, de vc. De repente fui fotografada: ser de ferro para, o tempo todo, es/barrar nesse mar de espuma. Obrigada! Obrigada! Obrigada!