quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Umbigadas


Umbigos, blogs e desculpas esfarrapadas ...Quando o sujeito do Sintoma - chamê-mo-lo sS, devido à minha incapacidade de escrever, em códigos que aqui vigoram, o S barrado de minha tradição lacaniana (e aceito help sobre isso, via comentários) - pois então, quando sS se estilhaça explodido pela violência de algum Real inominável, é necessário, e urgente, reinvestir no Eu que, para sempre suposto, não é dado a estilhaçamentos, mas não sobrevive nu de seu manto sintomático. Pois, desprovido da ortopedia do sS que o significava, o vazio deste lugar, cujo ocupante é o tal do Eu, mera suposição de um impossível contingente, tem que ser re-velado, recoberto novamente por um manto imaginário, que se fará em colcha de retalhos com os pedaços do despedaçado, e, assim, reconformará o sS em outro do mesmo, na esculturação que o permitirá retomar seu algum lugar em uma realidade qualquer.
...Mas, sem Pai ou Mãe, primeiros e principais investidores narcísicos que, lá no começo, quando o coisinha nem era sujeito algum, colocaram-me no rumo do que acabei me supondo ser, então, órfão, ou bem assumo um narcisismo necessário e invisto em mim mesmo, ou bem me arrisco recosturar-me frente à crueldade do mercado dos pequenos outros. Daí que Narciso serei (como se não o fosse desde sempre, dirão muitos). Por vício ou necessidade, o blog d´Eu investirá pesado no que, do Eu em mim há que ser novamente sujeitado. Serei portanto, senão Conde d´Eu cuja senhora tinha mania de libertar escravos sem lhes fornecer identidade, Barão d´Eu, escravizador de meu Sintoma reidentificado. Ms chega de de desculpas esfarrapadas e passemos logo às umbigadas.
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...E os blogs, como tudo que é autoral, são, por definição e impossibilidade de não sê-los, pastos narcísicos. Mesmo quando pretendem contribuir para discussões seriíssimas, ou demonstrar sábios comentários políticos e agudas análises da conjuntura, é sempre de um umbigo que se trata. E meu umbigo, primeiro nó de minha vida, julga-se merecedor de um espaço para além do corpo em que dá nó. E o infinito virtual deste espaço de caça será campo de caça de meu, agora, umbligo.
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...Mas (talvez, todavia, contanto), umbilical, o blog prende o Narciso que sonha asas onde pudesse voar sem lagos especulares, só com a aragem das deliciosas lembranças de uma imagem que supõe só sua. Pois o lago, sendo espelho, é fim do Narciso (ainda que início do narcisismo), assim como o retrato, visto, deu cabo de Dorian Gray (Avoé, grande Oscar Wilde). Preso em cordão encarnado estará, portanto, o Narciso que aqui esperneará, preso aos dizeres da Imagem, sempre fugidia, que a Casa dos Espelhos/Vida insistirá em retornar em formatos vários, e deformações diversas.
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...Assim, querendo me mostrar, aqui me verei, por amarras e nós primordiais. Claro que serei o pintor de minhas próprias cores (mas não dono de minha palheta), o compositor de minhas árias, autor do libreto de meu dramalhão operístico (mas não maestro da orquestra), escrevinhador de minhas letras (mas preso à língua materna). Claro está que, Narciso, miro a glória de mim mesmo, sacramentar meu evangelho. No entanto, espaço público, e o que é mais grave, virtual, entre o escrito e o que suponho lido, se interporão sintomas sem fim, outros Narcisos, lúcidos leitores, perversos variados, gozadores do narcisismo alheio. Que Eu serei aqui, mim não sabe, como diriam, com todo cabimento, nossos amigos índios, não escravos das falsidades da linguagem que prima o Eu e castra o Mim (mim não faz nada, menino! como nos ensinavam quando ainda éramos meio indiozinhos e ainda insiste o Pastore). Então, fica combinado assim: se mim não escreve, escrevo em mim (menor).
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...Tudo isso pode dar a impressão que o blog se pretende autobiografia d`Isso que me tornou. Mas, quase garanto, não é o que se pretende. Primeiro, por começar no meio de um fim e um começo, bem no sentido moebiano do revirão, e por se propor, com prazo marcado, se acabar (ao contrário dos começos sem fim das autobiografias, sempre inacabadas).
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...Segundo, por ter um tempo determinado de vida, por obra e graça de minha arbitrariedade. Vigorará, com mais ou menos vigor,durante o A.D. de 2007, ano em que, entre os estertores do 31 do ainda 2006 e os vagidos do 2007 ainda sem umbigo, me torci todo em pingos de mim e, me sabendo um mesmo que não me reconhecia, comecei outro da mesma Coisa (durante anos eu dizia à minha companheira, que passou, que ela era o meu primeiro outro de verdade; de passagem, me deixou outro, talvez!). Ou seja, leve-nos onde nos levar, este relato, missão impossível, se audestruirá ao fim do ano que o pariu, seja lá onde vou chegar com Isso.
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...Terceiro,porque começa sem roteiro mas já começado. Explico: quando as explosões dos fogos artificiais da passagem do ano me reviraram para um outro mesmo lado, foi o escrever para os amigos (já disse isso, não foi? mas como diz a Anna, já tenho idade para me repetir), que por mim torciam outra torcida, aquilo que me ajudou a atravessar o ponto de torção, o buraco de verme que me sugou, e me colocou mirando, em estranhamento, outras constelações de um Universo onde continuo sendo o buraco negro central. Foram eles, e com eles, que saí do Estranho em mim; foi com sua, deles (que língua a nossa!), insistência em me chamar pelo mesmo nome, me supor o mesmo amigo, e me oferecer o que deles sempre tomei, que, um escrita pra lá, duas pra cá, começamos um bolero no salão de bales do réveillon de 2007. Por isso, um material desordenado já existe em escritura e aqui será postado no de acordo com a desordem vigente.
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...Algumas explicações factuais se farão necessárias (será?) para que se entenda o que foi o muro em que quebrei a cara costumeira, e o próprio caminhar em direção ao trombadaço. Fatos a relatar (ou não!) para que se entenda o já escrito, embrião dessa vontade de blogar e Coisa que não sei onde vai parar.
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...Blog de mim mesmo, estarei sempre nas entrelinhas, nos interditos, nas escolhas linguareiras, na forma inconformada. Mim escreve, eu se esonde, o Outro do blog nos revela. Pois se Isso sabe de mim, do eu não sei nada d´Isso. O blog é Isso. E, por Isso, é melhor me calar um pouco e deixar que ele se explique.
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Where is Wally?

Um comentário:

Unknown disse...

Oi Moço,

Que bom esse blog. Eu passeie muito por ele entrando aqui e ali lendo e aprendendo muita coisa. Conheci mais. Compreendi o HSQ. Para mim o blog vira C&A, alias uma boa C&A. Mas especialmente nessa manhã de sábado de preguicinha arretada ele foi ótima companhia e me fez também rir ...
Grande Zédu...
Beijo
Meire/Mary